Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 1 de dezembro de 2013

The Voice Brazil

Antigamente, no Brasil, os programas de calouros eram a forma mais comum de um cantor aparecer e se tornar conhecido. Era, praticamente, a única maneira de um artista ter a chance de gravar um disco. Estávamos na era do rádio e cada estação tinha o seu, sendo os mais famosos o Programa César de Alencar e Calouros em Desfile, de Ary Barroso. Nos primeiros anos da televisão, tudo que passava na tela era o que já existia no rádio, adaptado ao novo veículo e a fórmula dos shows de calouros foi, também, exportada, sendo a Buzina do Chacrinha, seu melhor exemplo. Isso, aliás, multiplicou em muito a popularidade de seu apresentador quando passou para o tubo de raios catódicos. E como ele dizia que em televisão nada se cria, tudo se copia, rapidamente vieram outros, de muito sucesso como o de Silvio Santos e de Flávio Cavalcante e outros com sucesso mediano, como o do Bolinha ou Raul Gil. E este, pelo que sei, continua na tela de LED até hoje.
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Mas hoje, mesmo, o que temos de mais parecido com aquilo talvez seja o programa The Voice Brasil, produzido pela Rede Globo. Confirmando a frase do Velho Guerreiro, é uma cópia do homônimo produzido nos Estados Unidos. Pode ser parecido com os velhos programas de calouro, mas não é a mesma coisa.
 
Nos de antigamente, o candidato tinha o seu sucesso (ou seu fracasso), dependente apenas de sua voz. Vinha com uma roupinha simples, era acompanhado por um conjunto de música bem básico, quase chinfrim, sem nenhum arranjo rebuscado e tinha que cantar, ali, parado, à frente do microfone.
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No The voice, o que mais conta é a perfumaria. É a roupa moderninha, é o arranjo rebuscado, é o berro e a firula. Sim, porque, contrariando o título do programa, usa-se muito mais o grito do que a voz. Chega a ser irritante. Parece um concurso pra se saber quem berra mais. Berra-se com afinação, berra-se com ritmo, mas berra-se. Parece ser este o principal critério de escolha dos jurados (que agora chamam-se técnicos).
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Assistindo ao programa, fiquei pensando que, se tivesse sido sempre assim, ou seja, se somente os cantores que berram fossem selecionados, vozes como a de João Gilberto nunca teriam tido chance. Roberto Carlos não passaria pelo crivo dos técnicos. Nem Mônica Salmaso, nem Renato Braz, nem Emílio Santiago. Tivesse sido sempre assim, não teríamos conhecido a voz de Beth Carvalho, nem de Clara Nunes, nem tampouco de Milton Nascimento.
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Se dependêssemos dos critérios utilizados no The Voice, onde o grito e a firula são mais importantes que o canto, só conheceríamos vozes como a de Ana Carolina ou Paula Fernandes. E nunca teríamos ouvido Elizeth Cardozo. Ainda bem que não tenha sido sempre assim. A vida seria muito triste.

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Deixa (Vinicius de Moraes & Baden Powell) - Elizeth Cardoso

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