Antigamente, no Brasil, os programas de calouros eram a forma mais comum
de um cantor aparecer e se tornar conhecido. Era, praticamente, a única maneira
de um artista ter a chance de gravar um disco. Estávamos na era do rádio e cada
estação tinha o seu, sendo os mais famosos o Programa César de Alencar
e Calouros em Desfile, de Ary Barroso. Nos primeiros anos da televisão, tudo que passava na tela era o que já existia no rádio, adaptado ao novo veículo e
a fórmula dos shows de calouros foi, também, exportada, sendo a Buzina
do Chacrinha, seu melhor exemplo. Isso, aliás, multiplicou em muito a
popularidade de seu apresentador quando passou para o tubo de raios catódicos.
E como ele dizia que em televisão nada se cria, tudo se copia, rapidamente
vieram outros, de muito sucesso como o de Silvio Santos e de Flávio Cavalcante
e outros com sucesso mediano, como o do Bolinha ou Raul Gil. E este, pelo que
sei, continua na tela de LED até hoje.
.
Mas hoje, mesmo, o que temos de mais parecido com aquilo talvez seja o
programa The Voice Brasil, produzido
pela Rede Globo. Confirmando a frase do Velho Guerreiro, é uma cópia do
homônimo produzido nos Estados Unidos. Pode ser parecido com os velhos
programas de calouro, mas não é a mesma coisa.
Nos de antigamente, o candidato tinha o seu sucesso (ou seu
fracasso), dependente apenas de sua voz. Vinha com uma roupinha simples, era
acompanhado por um conjunto de música bem básico, quase chinfrim, sem nenhum
arranjo rebuscado e tinha que cantar, ali, parado, à frente do microfone.
.
No The voice, o que
mais conta é a perfumaria. É a roupa moderninha, é o arranjo rebuscado, é o
berro e a firula. Sim, porque, contrariando o título do programa, usa-se muito
mais o grito do que a voz. Chega a ser irritante. Parece um concurso pra se
saber quem berra mais. Berra-se com afinação, berra-se com ritmo, mas berra-se.
Parece ser este o principal critério de escolha dos jurados (que agora chamam-se
técnicos).
.
Assistindo ao programa, fiquei pensando que, se tivesse sido sempre
assim, ou seja, se somente os cantores que berram fossem selecionados, vozes
como a de João Gilberto nunca teriam tido chance. Roberto Carlos
não passaria pelo crivo dos técnicos. Nem Mônica Salmaso, nem Renato Braz, nem
Emílio Santiago. Tivesse sido sempre assim, não teríamos conhecido a voz de
Beth Carvalho, nem de Clara Nunes, nem tampouco de Milton Nascimento.
.
Se dependêssemos dos critérios utilizados no The Voice, onde o grito e a firula são mais importantes que o canto,
só conheceríamos vozes como a de Ana Carolina ou Paula Fernandes. E nunca
teríamos ouvido Elizeth Cardozo. Ainda bem que não tenha sido sempre assim. A
vida seria muito triste.
.
Deixa (Vinicius de Moraes & Baden Powell) - Elizeth Cardoso
Nenhum comentário:
Postar um comentário