Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 18 de outubro de 2014

A sociedade dividida

As últimas pesquisas do Ibobe e Datafolha mostram as intenções de votos válidos absolutamente empatados. Mais uma vez, parece que a sociedade está dividida. Como já falei aqui e também na página do Facebook, identifico gente respeitável entre os eleitores de ambos os partidos. Encontro também, infelizmente, muita gente intolerante dos dois lados, a maioria, aliás. E, até nisso, parece que se mantém a divisão.

Respeito a diversidade de opiniões, mas não respeito a intolerância. Pode ser uma falha de caráter de minha parte, mas não consigo conviver bem com pessoas que expressam posições racistas, homofóbicas e autoritárias. Posso até entender, no calor da disputa eleitoral, que surjam, nas redes sociais, ataques a candidatos adversários, por parte dos entusiastas de um ou de outro lado do espectro político. Acho uma pena que estas manifestações, em sua maior parte, não estejam embasadas em uma reflexão mais profunda, fruto de discussões honestas. Mas, até isso, essa forma de tratar eleição como se fosse jogo de futebol, eu consigo compreender.

O que tem me incomodado, desta vez, é que as pessoas, além de expressarem sua crítica aos candidatos (e aos políticos, em geral), estão dirigindo ofensas aos eleitores do lado adversário. Quem tem a minha idade e demorou a poder votar para presidente sabe o quanto é importante respeitar a decisão dos eleitores. Sou favorável a discutir, a argumentar, a discordar. Ofender jamais. Tampouco menosprezar quem tenha ideias divergentes.

A única coisa que não está dividida é a atuação da mídia. Não sou daqueles que têm ilusões a respeito de uma imprensa isenta. Isso não existe, nem aqui, nem em lugar nenhum do mundo. O que seria desejável, na verdade, é que cada órgão de imprensa deixasse bem claro qual é seu posicionamento. Isto é absolutamente legítimo e todos os jornais e revistas têm seu espaço editorial para expressar suas preferências partidárias. Na hora de noticiar, porém, o que o bom jornalismo prega é que se adote uma posição honesta. Notícia é fato e não deve ser manipulada, independentemente de ser a favor ou contra a orientação política do jornal. Quando um órgão de comunicação tenta esconder sua orientação e publica os fatos de forma tendenciosa, aí, devemos desconfiar. Quais são os interesses que estão por trás desta estratégia?

Dois exemplos de posicionamento claro são a Revista Carta Capital e o portal de notícias GGN, do jornalista Luis Nassif. Em ambos os casos, está declarada a definição por uma candidatura e isso não impede que críticas sejam feitas às ações e atos praticados pelos partidos e políticos que eles apoiam. Isso é transparência. Isso é responsabilidade. Pode-se muito bem posicionar-se a favor de um programa ou um projeto político e noticiar os fatos de maneira honesta e não tendenciosa.

Infelizmente, porém, esta prática não é seguida pela maioria dos órgãos de comunicação. A Folha de São Paulo, a Revista Veja e a Rede Globo de televisão são, provavelmente, os exemplos mais claros desta falta de transparência e honestidade com a notícia, em cada um dos diferentes meios de comunicação de massa. Nestes órgãos, os profissionais de jornalismo são tutelados com rédea curta e a liberdade de expressão é controlada de maneira seletiva, conforme a orientação da empresa. Infelizmente, poucos jornalistas se rebelam, conscientes de que teriam fechadas as portas do mercado de trabalho, se o fizessem (Xico Sá foi uma estrondosa exceção).

Esta atitude da mídia é favorecida pelo comportamento da maioria de nossa sociedade que prefere se informar através da leitura apenas das manchetes dos jornais ou assistindo ao Jornal Nacional, enquanto devora o jantar à espera da novela. As pessoas recebem a notícia da mesma maneira que o fazem com a comida, ou seja, sem sentir o sabor e sem uma avaliação crítica. Preferem recebê-la já digerida em lugar de ler um texto embasado em argumentos que possibilitem uma conclusão que seja fruto de sua própria reflexão. Nada disso. A notícia que já vem acompanhada da conclusão é mais fácil, não dá trabalho. É como digerir uma comida óbvia, sem um toque especial de sabor. Afinal, o que interessa mesmo é a novela. 


Um comentário:

Larissa disse...

Ótimo texto, Arnaldo. O que, de alguma maneira, me anima, é ver entre parte dos amigos uma discussão bem bacana, consistente. Pena que sejam minoria!