Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 1 de março de 2015

Gostar de samba

Todos que acompanham o que escrevo neste blog, há bastante tempo, sabem que, dentre vários gêneros de música que eu aprecio, o samba é o que mais me comove. Gosto de samba desde que gosto de música e, cada vez mais, é a ele que eu recorro quando quero me extasiar. Aprecio muito a Bossa Nova e o que se convencionou chamar de MPB, mas gosto da simplificação que o grande Wilson das Neves faz sobre isso: é tudo samba!

Contudo, nunca me empolguei muito com desfiles de escola de samba, principalmente por um motivo: muito raramente os sambas-enredo são bons. Notem que não utilizei a palavra nunca, já que há, ao longo da história, casos de sambas belíssimos utilizados pelas escolas para os desfiles, mas são casos raros. Eu estaria sendo leviano se não citasse Aquarela Brasileira (Império Serrano, 1964); Yayá do cais dourado (Vila Isabel, 1969); Onde o Brasil aprendeu a Liberdade (Vila Isabel, 1972); Os Sertões (Em cima da hora, 1976); 100 anos de liberdade, realidade ou ilusão (Mangueira, 1988); Kizomba, festa da raça (Vila Isabel, 1988) e Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós (Imperatriz Leopoldinense, 1989). Existem outros, certamente, mas estes são meus preferidos. São poucos, entretanto. Muito poucos.

Fico, por isso, intrigado. Por que é que a grande maioria dos sambas utilizados pelas escolas para o desfile do carnaval são tão ruins? Se a maioria dos nossos mais geniais sambistas são intimamente ligados às escolas? Por que instituições que têm, ou tiveram, entre seus componentes, gente como Cartola, Nelson Cavaquinho, Monarco, Ivone Lara, Carlos Cachaça, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, não conseguem apresentar, todos os anos, sambas geniais para mostrar na avenida? Talvez seja porque quem comanda as escolas de samba, na verdade, não goste muito de samba.

Assim, fiquei surpreso quando vi que a escola Viradouro, este ano, utilizou uma junção de dois ótimos sambas de Luiz Carlos da Vila, Nas veias do Brasil e Por um dia de graça, num enredo. Morto devido a um câncer, em 2008, recebeu esta justa homenagem.

Luiz Carlos da Vila teve este apelido por fazer parte da escola de samba de Vila Isabel ou por ter sido morador da Vila da Penha, ou por ambas as razões, o que motivou o compositor Nei Lopes a chamá-lo de Luiz Carlos das Vilas. Foi um compositor muito criativo, que ficou mais conhecido do grande público, após ter sido um dos autores do samba enredo Kizomba, festa da raça. Apesar de ótimos, não são seus sambas-enredo que me encantam. Ele é capaz de uma poesia de primeira linha, aliada a criações melódicas e harmônicas como poucos.

Em foto ao lado de Wilson Moreira, Aldir Blanc e Moacyr Luz

Vi que a Viradouro ficou em último lugar no desfile e caiu para a segunda divisão. Não sei o motivo e nem tenho muita curiosidade a este respeito. Só sei que, dificilmente, uma outra escola tenha apresentado um samba tão bom como o da Viradouro. Pode ter caído por algum problema com fantasia, porta-bandeira ou carro alegórico. Ou então, caiu porque os julgadores destes desfiles não gostam muito de samba.

Além da Razão (Luiz Carlos da Vila, Sombra e Sombrinha)

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