Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

A arte e os intelectuais nos regimes autoritários

Uma das características de períodos com governos autoritários é a negação da cultura. Nestes ambientes, é comum haver um clima de agressão exagerada a qualquer expressão de arte ou manifestação intelectual. Nos regimes autoritários (de esquerda ou de direita), as pessoas são levadas a acreditar que a arte e o pensamento crítico, assim como o conhecimento da história e da filosofia são males em si e que artistas e intelectuais são malfeitores.

Nos regimes totalitários de direita, estas pessoas são classificadas como comunistas (mesmo tantos anos após a queda do muro de Berlim este tipo de argumento ainda seduz hordas de histéricos). Nos regimes totalitários de esquerda a arte e o pensamento intelectual são formatados para servir à burocracia do estado. Neste aspecto, os regimes totalitários, em todo o espectro, se igualam (na verdade, se igualam em muitas outras situações). Todos suprimem e perseguem os artistas e intelectuais.

Arte e pensamento só florescem em ambiente de liberdade ou na luta para conquistá-la.

Eu não sou artista e, muito menos, intelectual, mas encaro a arte e o pensamento como os dois mais importantes ingredientes para meu enriquecimento pessoal (não estou falando de dinheiro, é claro). É através da leitura e da compreensão das mais variadas manifestações artísticas que eu tento me realizar como ser humano e extrair prazer da vida. Eu estranho quem, tendo acesso a isso, consiga viver sem. Se as pessoas procurassem experimentar o prazer que isso proporciona veriam quanto bem isso faz.

Entendo que a maioria das pessoas, sobretudo no Brasil, não tenham este acesso. Comer, beber, ter onde morar e outras coisas comezinhas são preocupações mais urgentes. É justamente por isso que eu defendo um modelo de estado mais justo, com menos desigualdade, com mais solidariedade e menos violência. Um mundo em que estas questões corriqueiras não fossem tão urgentes possibilitaria, para mais pessoas, a oportunidade de experimentarem a satisfação que o saber e o conhecimento proporcionam.

O modelo brasileiro alija uma porção esmagadora da população da possibilidade de encontrar este conhecimento e este prazer. Empurra esta parcela da nação ao consumo de entretenimento e tenta convencer a todos que estão consumindo arte. Não tenho nada contra o entretenimento, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como não cansava de repetir o Tim Maia.

Esta situação, entretanto, não é gratuita. Sempre foi interessante, para quem detém o poder, impedir o acesso ao conhecimento que produza reflexão. Foi assim em toda nossa história republicana, foi assim no nosso período imperial. E, não por acaso, sempre que há algum risco de que o pensamento crítico possa prosperar na sociedade, a reação recrudesce e conduz o país a um ambiente irrespirável. E nesse ambiente rarefeito, a incultura passa a ser virtude.

É por isso que se defende um modelo de educação sem cultura e sem pensamento crítico. Confundem educação com treinamento. E isso é muito útil para conservar as coisas como sempre foram. 



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