Sala de embarque
O que mais enche o saco nas minhas viagens é ficar na sala de embarque. É o cúmulo do tempo perdido, já que o tempo de vôo, que também é perdido, pelo menos é útil. E nas salas de embarque, só há duas coisas a fazer. Ler um bom livro ou, na falta deste, ficar olhando as pessoas e tentando imaginar suas histórias, sua vida.
Felizmente, na hora do embarque do Rio de Janeiro pra Campinas eu tinha um bom livro nas mãos. Bom não, excelente. Era o livro do Aldir Blanc, Rua dos Artistas & Transversais. Acomodei-me num lugar bem iluminado e o mais longe possível de qualquer exemplar da espécie humana. Iniciei a leitura e comecei a usufruir de um prazer indescritível.
Acontece que a sala foi se enchendo. E pra meu grande desgosto, uma família inteira, com direito a duas crianças, a mãe, a avó e a bisavó, acomodou-se em volta de mim. Desprezando minha presença, a atividade que eu estava exercendo e, principalmente, o fato de que tal atividade só pode ser exercida com algum silêncio, eles começaram a falar. Começaram, é maneira de dizer. As crianças ficaram brincando e a mulher começou a falar, enquanto as velhinhas só escutavam. E ela ficou a meter o pau em alguém que não estava ali. Foi nessa que eu percebi que ainda faltava um personagem naquela família. Era o marido, que não havia chegado.
Chegou. Chegou e a mulher continuou metendo o pau no dito cujo. E eu, sem conseguir ler o meu delicioso livro, tratei de me antenar pra tentar entender o que acontecia. Parecia um Big Brother, só que ao vivo e de verdade. No fim, descobri que o motivo de tanta amargura foi porque o mané cismou de engraxar os sapatos no aeroporto, colocando em risco, na concepção da estressada, seu embarque. Descobri, inclusive, que alguma coisa parecida já havia acontecido numa viagem que eles fizeram à Disney. O cara já não era mais réu primário!
O que ficou claro, entretanto, foi que aquela mulher estaria reclamando de qualquer outra coisa, tivesse acontecido ou não, só pra aporrinhar a vida do marido.
E o marido. Bem, o marido é um mané.
Dentro do avião
Como se não bastasse a dificuldade de ler meu livro na sala de embarque, assim que me sentei na poltrona do avião, descobri que iria viajar ao lado de duas pessoas, daquelas que gostam de fazer amizade em viagens curtas. Apresentaram-se e começaram a contar, um para o outro, suas vidas. Impossibilitado de prestar atenção nas hilariantes crônicas do Aldir, fui obrigado a ficar os 55 minutos do vôo ouvindo as idéias dos dois personagens. São cariocas, ambos, e moram em Campinas. Estão na cidade há pouco menos de 3 anos e descobriram uma coincidência entre si. Não gostam de campineiros. E começaram a discorrer, em alto e bom som, sobre todos os defeitos das pessoas, todas elas, que nasceram, moram ou gostam da cidade.
Não tenho procuração pra defender pessoas nascidas em Campinas, uma cidade na qual não moro e onde não nasci. Mas acho um grande idiota quem diz que não gosta de nenhum campineiro ou de nenhum argentino ou de nenhum carioca. Isso é a mesma coisa que dizer que não gosta de preto, de veado, de pobre ou de torcedores do Atlético paranaense. Isso é coisa de skinhead. Coisa de babaca.
O que me deixou mais aliviado foi perceber que eles eram, de fato, bem babacas, quando começaram a indicar, um para o outro, os melhores bares de Campinas. Declarando-se amantes dos botecos pé-sujo, elencaram todos aqueles bares do Cambuí, sobretudo os da rua Emílio Ribas como seus preferidos. Os melhores da cidade, na opinião deles.
O que mais enche o saco nas minhas viagens é ficar na sala de embarque. É o cúmulo do tempo perdido, já que o tempo de vôo, que também é perdido, pelo menos é útil. E nas salas de embarque, só há duas coisas a fazer. Ler um bom livro ou, na falta deste, ficar olhando as pessoas e tentando imaginar suas histórias, sua vida.
Felizmente, na hora do embarque do Rio de Janeiro pra Campinas eu tinha um bom livro nas mãos. Bom não, excelente. Era o livro do Aldir Blanc, Rua dos Artistas & Transversais. Acomodei-me num lugar bem iluminado e o mais longe possível de qualquer exemplar da espécie humana. Iniciei a leitura e comecei a usufruir de um prazer indescritível.
Acontece que a sala foi se enchendo. E pra meu grande desgosto, uma família inteira, com direito a duas crianças, a mãe, a avó e a bisavó, acomodou-se em volta de mim. Desprezando minha presença, a atividade que eu estava exercendo e, principalmente, o fato de que tal atividade só pode ser exercida com algum silêncio, eles começaram a falar. Começaram, é maneira de dizer. As crianças ficaram brincando e a mulher começou a falar, enquanto as velhinhas só escutavam. E ela ficou a meter o pau em alguém que não estava ali. Foi nessa que eu percebi que ainda faltava um personagem naquela família. Era o marido, que não havia chegado.
Chegou. Chegou e a mulher continuou metendo o pau no dito cujo. E eu, sem conseguir ler o meu delicioso livro, tratei de me antenar pra tentar entender o que acontecia. Parecia um Big Brother, só que ao vivo e de verdade. No fim, descobri que o motivo de tanta amargura foi porque o mané cismou de engraxar os sapatos no aeroporto, colocando em risco, na concepção da estressada, seu embarque. Descobri, inclusive, que alguma coisa parecida já havia acontecido numa viagem que eles fizeram à Disney. O cara já não era mais réu primário!
O que ficou claro, entretanto, foi que aquela mulher estaria reclamando de qualquer outra coisa, tivesse acontecido ou não, só pra aporrinhar a vida do marido.
E o marido. Bem, o marido é um mané.
Dentro do avião
Como se não bastasse a dificuldade de ler meu livro na sala de embarque, assim que me sentei na poltrona do avião, descobri que iria viajar ao lado de duas pessoas, daquelas que gostam de fazer amizade em viagens curtas. Apresentaram-se e começaram a contar, um para o outro, suas vidas. Impossibilitado de prestar atenção nas hilariantes crônicas do Aldir, fui obrigado a ficar os 55 minutos do vôo ouvindo as idéias dos dois personagens. São cariocas, ambos, e moram em Campinas. Estão na cidade há pouco menos de 3 anos e descobriram uma coincidência entre si. Não gostam de campineiros. E começaram a discorrer, em alto e bom som, sobre todos os defeitos das pessoas, todas elas, que nasceram, moram ou gostam da cidade.
Não tenho procuração pra defender pessoas nascidas em Campinas, uma cidade na qual não moro e onde não nasci. Mas acho um grande idiota quem diz que não gosta de nenhum campineiro ou de nenhum argentino ou de nenhum carioca. Isso é a mesma coisa que dizer que não gosta de preto, de veado, de pobre ou de torcedores do Atlético paranaense. Isso é coisa de skinhead. Coisa de babaca.
O que me deixou mais aliviado foi perceber que eles eram, de fato, bem babacas, quando começaram a indicar, um para o outro, os melhores bares de Campinas. Declarando-se amantes dos botecos pé-sujo, elencaram todos aqueles bares do Cambuí, sobretudo os da rua Emílio Ribas como seus preferidos. Os melhores da cidade, na opinião deles.
6 comentários:
Tá cada vez mais difícil segurar a língua, Arnaldo. E no fim das contas quem sai com fama de radical, intolerante ou arrogante somos nós, não é mesmo?
Lembrei de uma passagem em que eu estava no avião e uma senhora começou a comentar, com o marido, que o bom de avião era que "quase não tinha preto". Não consegui ficar quieto e comecei a lição de moral, chamei a aeremoça (que era mulata), e relatei a conversa racista dos dois, disse que não ficaria mais naquele lugar, que a empresa que se virasse para me dar outra poltrona ou que ela, na condição de negra, fizesse um boletim de ocorrência assim que o avião descesse, eu serviria de testemunha e tal.
Conclusão: quem saiu do avião sob o olhar de reprovação de todos os passageiros, inclusive do corpo de aeromoças? Você tem uma chance.
abç
Arnaldo, cara...eu adoro ouvir conversa alheia, adoro mesmo. E tb gosto de criar personagens pras pessoas que vejo.
Ia ser engraçado o Bruno conversando sobre bares com esses caras, melhor ainda se eles adorassem...eh....Rubem Alves....rs
Me lembrei da primeira vez que fui pra Bahia. Foi também a primeira vez que viajei de avião... O avião sairia de porto alegre, passaria em São Paulo e então iríamos pra Bahia. Não sei o que estava contecendo no ponto de partida, mas o caso é que ficamos todos presos naquela salinha de embarque por 7 horas! Gente brigando, criança chorando e alguns "sem noção" que resolveram "tocar" aquele piano que tem lá dentro... Terrível!!!!!!!!!!!
Sala de embarque é crueldade. É tortura. É perda horrível de tempo. Deviam deixar-nos com nossos familiares até o último segundo antes de entrar no avião.
*
huáhuáhuáhuáhuáhuáhuáhuáhuáhuá
vc sofre do mesmo mau humor que eu com a exemplares da raça humana.
é impossível ler até a Caras com mulher tagalerando, criança surtando e homem mentindo.
eu sempre me entoco nos cantos, tentando fugir, mas eles me perseguem.
que inferno.
e gente que divide os outros por gentílicos merece a forca.
ou casar com um gentílico desses e ter que aturar a família de 200 pessoas nos domingos.
*
Isso me lembrou de uma viagem de ônibus que eu e Flávio fizemos no sentido inverso, de Campinas para o Rio. Mas, veja bem, de ônibus!
A ida já havia sido problemática, pois uma mulher não parou de falar a noite inteira na poltrona ao lado, madrugada adentro. O interlocutor caiu no sono sem ela - imagino eu - perceber e ela continuou falando, falando, falando...
Porém, na volta, a situação foi mais catastrófica ainda. Sentei-me, com uma deliciosa coletânea de contos russos que eu estava louca para ler. Nem fiz questão de ir na janela. Fones de ouvido a postos, para não ouvir a maldita TV e, nisso, percebi um senhor caminhando em minha direção. Observe que eu estava com fones de ouvido! Na época nem havia mp3 players ainda. Era cd mesmo.
Pois bem, ele sentou-se na poltrona do outro lado do corredor e ficou olhando, interessado, para meu livro. Caí na besteira virar a capa para deixá-lo ver o título... E ele começou a falar qualquer coisa, como se não estivesse conseguindo ler.
Eu não entendia nada do que ele estava dizendo. Então, eu incorri em outra besteira: tirei o fone para ouvi-lo. E ele me fez umas duas perguntas sobre o livro... Mas eu devia ter percebido! Foi só eu fazer isso e ele começou a falar da própria vida, dos motivos da viagem dele etc.
Olhei desesperada para o Flávio e ele se dispôs a trocar de lugar comigo. Tadinho. O Flávio é um amor. Teve que ouvir a história da vida do cara a viagem inteira... Eu pus meus fones de volta, embarquei na leitura e não tomei mais conhecimento do assunto.
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