Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Estranho, eu?

Talvez por causa do discurso da ministra, na semana passada surgiram, em diversos blogs, alguns textos sobre racismo. No blog do Sean, do Idelber, da e da Lulu. Em alguns deles eu até deixei comentários.

E pensando em racismo eu me lembrei de uma coisa mais branda, a intolerância. Ou mais branda ainda, a estranheza. Sim, pois embora seja infinitamente menos marcante do que sofrer uma atitude de racismo ou discriminação, a estranheza é uma coisa que incomoda também. É aquela sensação que faz com que você pareça um ET, um cara completamente fora de sintonia, um estranho.

E eu sou uma grande vítima da estranheza. Muita gente acha estranhas algumas escolhas que eu faço.

Pra começar, tem o fato de eu ser ateu. As pessoas, a princípio, não acreditam nisso: “Como assim, ateu? Você não acredita em nada?” E aí sigo eu, explicando que acredito em muitas coisas, como a solidariedade, a amizade, o amor. Que acredito na necessidade de um mundo mais fraterno, que as pessoas estão necessitando ter mais tolerância. Nada disso adianta. O fato de eu não rezar, não freqüentar uma igreja ou um terreiro de macumba, causa muita estranheza nas pessoas, em geral.

A segunda coisa é o fato de eu morar numa casa alugada. Uma casa que não é minha! Como se fosse minha uma casa que faltassem 20 anos pra eu pagar. Não importa eu mostrar que moro na casa que eu gosto, no bairro que eu quero, na cidade que me apraz. Não. Nada disso importa. O que importa é não pagar aluguel. Mesmo morando num cubículo, num bairro odiável, numa cidade sombria.

Também estranham essa minha mania de escrever. De escrever e ler. Afinal, eu sou um engenheiro. E independentemente de gostarem, ou não, dos meus textos, há pessoas que estranham o fato de eu ser engenheiro. E o pior é que eu acredito piamente que quanto mais eu ler e quanto mais eu tentar escrever, mais eu tenho chance de ser um engenheiro melhor. Aliás, eu acredito que isso também valeria caso eu fosse médico, advogado ou jornalista.

E ainda sou estranho às pessoas por muitas outras coisas. Por minhas opiniões a respeito do casamento e da fidelidade. Pela minha mania de gostar mais de ver um jogo de futebol bonito do que torcer pra que o meu time ganhe. Por eu não gostar de assistir o Big Brother, o Fantástico e as novelas da TV. De eu preferir dormir a assistir uma corrida de fórmula 1. De eu preferir viajar pra Buenos Aires do que ir pra praia nas férias de verão. De gostar mais das gordinhas, de gastar tanto dinheiro com livros e CDs.

É. Acho que sou mesmo um cara estranho. Mas acho, também, que as pessoas deveriam cuidar mais de suas vidas.

19 comentários:

Anônimo disse...

Não é porque você é meu tio... Mas são essas "estranhezas" que fazem com que você seja uma pessoa que eu admiro tanto.
Dependendo do ponto de vista todos somos um pouco estranhos... Eu sou estranha porque tenho tatuagens, porque ouço música velha, porque sou mulher e adoro esporte, porque prefiro ler do que ir na "balada", porque não consigo passar horas me arrumando em frente ao espelho, porque sou São Paulina mas admiro o ver o Santos jogar...
Eu acho que as nossas estranhezas são a nossa essência!
Vamos ser estranhos...

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Bá,

Você é sãopaulina???? Desde quando?

l disse...

Arnaldo,
nada como ser estranho nesse mundo tão besta, tão pasteurizado. eu sou bem estranha também.
e ir para Buenos Aires, dormir durante a corrida de fórmula 1, ler e escrever, ne saber o who´s who do big brother.... ah... delícias, delícias.

Clélia Riquino disse...

Concordo com você, Bá! (e com a Lulu tb)

Ser "estranho" é ser singular...
Sejamos, pois, estranhos!

bjo,
tia Clé

Anônimo disse...

Aí na blogosfera a gente vê que nem é tão estranho assim, pois tem tanta gente que pensa parecido... eu, por exemplo, me identifiquei com várias de suas estranhezas...
Ah! Já me disseram várias vezes que sou estranha porque gosto de blogs.

Clélia Riquino disse...

Cláudia, eu ia dizer exatamente isso: há estranhos afins... e é legal qdo se encontram, pois miniminiza as estrenhezas!

Acho que todos que estão na blogosfera (com ou sem blog) gostam, né não?

Adriana disse...

Arnaldo, gosto muito de ler seus posts, este esta otimo como sempre...Viva as estranhezas, eu tambem sou considerada muitas vezes estranha...
Uma brasileira que prefire bons vinhos a cerveja...
Que nao gosta de telenovela..
Que nao gosta de peliculas de terror/ficçao...
Que nao gosta de sentar na areia da praia (amo o mar mas prefiro passear no passeio maritimo)a estar sentado na areia tomando sol...

Diante de tudo isso criamos um grupo de estranhos solidarios...

Um abraço carinhoso para ti e um beijo especial para Clelia com votos de melhora do outro lado do oceano

P.S.: Postei mais fotos de La Coruña e santiago de Compostela

Anônimo disse...

Arnaldo.
Não podem existir dois com o mesmo nome.
Mas caso eu esteja enganada, peço desculpas antecipadamente.
Não era você também colaborador do site Polemikos?
Não sei se lembra de mim, mas eu também era colaboradora.
Caso seja você dê uma visitada no meu site www.tormenta.ato.br
Um grande abraço
Adorei seu blog
Renata Mafra

Marcia disse...

sabe o que é mais estranho?
é que eu não te achei estranho.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Pois é, Lulu, eu também me sinto bem sendo estranho num mundo que não admiro. Tenho horror a essa pasteurização a que você se referiu. Só que isso só aumenta aquela impressão de arrogância que, às vezes, (ou sempre) as pessoas sentem.


Clé,

Ser estranho é ser diferente.Você sabe que eu gosto disso.


Cláudia,

Freqüentar a blogosfera é como viver numa cidade muito grande, uma metrópole. Tem tanta gente estranha que os estranhos se sentem à vontade.


Adriana,

Adorei essa coisa de estranhos solidários. É ótimo isso.


Renata,

Sou eu mesmo. Quanto tempo! Claro que eu me lembro de você. E me lembro de altos e-mails que trocávamos. Faz mais de 5 anos que não escrevo no Polemikos. Lembro-me que foi você que me mostrou aquele espaço, onde também escrevia.

Que bom te encontrar de novo. E que bom que tenha gostado do meu blog. Entre também no blog da Clélia. Tem umas coisas lá que eu sei que você vai gostar.

Vou correndo entrar no teu site.


Márcia, pinta patife,

É que você é tão estranha como eu, deve ter umas anteninhas verdes atrás da orelha (como eu também tenho, confesso). Antenas que captam tudo!

Telejornalismo Fabico disse...

*




vc é engenheiro?
que estranho, nunca pensei.




*

Anônimo disse...

Arnaldo,
Penso que você não tem nada de estranho... e mesmo eu, que gostando de praia, e na verdade mais da água do que da areia, e mantendo um grau de "religiosidade", posso não ser considerado estranho... ou será que também tenho algumas estranhezas?
O importante você falou, a solidariedade, a amizade, o amor. Fundamental é que as pessoas reconheçam isso em nossas atitudes, quando exercemos a assertividade. Tenho reconhecido muito isso no amigo. Feliz Páscoa!

Jô Beckman disse...

Definitivamente as pessoas têm mais que cuidar das sua próprias vidas! Mas estranho acho que todos são em pelo menos alguma coisa...às vezes me sinto um ET também, ultimamente sinto que não posso mais conversar com ninguém pq ao meu redor as pessoas não são capazes de compreendere certas coisas....Quanto a morar de aluguel concordo com vc. Se ainda não tenho como comprar o lugar ideal p/ morar prefiro morar de aluguel num lugar que eu goste e me sinta bem do que "num cubículo, num bairro odiável, numa cidade sombria".

Graziana Fraga dos Santos disse...

as pessoas "estranhas" geralmente são as mais interessantes ;)

Diego Moreira disse...

Arnaldo,

Veja só que coisa estranha...

Eu sou um cara que não é ateu, mas entre a Igreja e o Terreiro de macumba, fico com o terreiro.

Gosto de ver novela, exceto as do Manoel Carlos, que eu acho intragável. Nelas, às vezes, simplesmente deixo meu cérebro repousar... o que pensar quando se vê uma novela como VAMP?

Nunca vejo jogos que não sejam do meu flamengo. Só os de copa do mundo.

Saí do Rio de Janeiro pra Penápolis, em pleno carnaval.

Fico acordado pra ver Fórmula 1...

Enfim...

E, quase sempre, me sinto muito estranho... como você...

Não é estranho?..

Anônimo disse...

Arnaldo, muito polêmico este seu texto porém o mais engraçado é que todos de um jeito ou de outro expuseram suas ações tidas como estranhas. Com certeza um mar de pessoas se expondo e achando isso normal??? Será que isso é ser normal ou normal é achar que são estranhos? Só rindo.....

Diego Moreira disse...

Pra quê ser normal?
Tem coisa mais sem graça?
Só rindo...

Anônimo disse...

Olá Arnaldo

No blog do Baptistão ví o endereço daqui e resolví cohecer,. Legais seus textos, gostei muito deste aqui. E não achava que era engenheiro, pela forma como escreve...aliás, eu tb sou. Já que é de Valinhos, não sei se já viu o Jornal de Fato, sou eu quem faço as charges da página 02. Qdo der, faça uma visita ao meu blog. Valeu.

Anônimo disse...

hahahaha muito bom esse seu texto. Nunca tinha analisado pela ótica da "estranheza".
Sempre que me criticam por eu não fazer o que esperam de mim ou o que fariam no meu lugar, dizem que sou estranho. Ser estranho, muitas vezes, é não ser ou agir igual.
Como diz aquela letra do Pink Floyd: "Hey! Teachers! Leave them kids alone!"
Que nós sejamos eternamente estranhos então.