Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Angústia e egoísmo

Uma notícia como esta, do acidente do avião da TAM, de Porto Alegre a São Paulo, me causa muita angústia. Mas é uma angústia diferente. Uma angústia egoísta. A mesma angústia que me causou a notícia do acidente do avião da Gol, de Manaus a Brasília, dez meses atrás.

Naquela ocasião, eu estava na Alemanha e fiquei sabendo do acidente pela internet. Fiquei chocado pois, para fazer aquela curta viagem à Europa, eu tinha cancelado uma viagem a Manaus. E aí, começa a rolar na minha cabeça, que a chance de eu ter estado naquele vôo fora muito grande. E desta vez, passou-se a mesma coisa. Sempre que vou a Porto Alegre, é neste vôo, o JJ 3054 que eu volto. Não viajo tanto assim pra Porto Alegre. No máximo 3 ou 4 vezes por ano. Mas a proximidade desta ocorrência com a minha realidade, me faz ter pensamentos tenebrosos.

E cada vez que eu vejo alguma reportagem, mostrando a aflição dos parentes das vítimas, não consigo deixar de imaginar a aflição da Clélia, da Cecília, enfim, de todas as pessoas que eu amo, caso uma coisa dessas aconteça comigo. Eu sei que, estatisticamente, eu corro muito mais riscos por dirigir 100 quilômetros numa rodovia, todos os dias, pra ir e voltar do trabalho. Mas eu quero que se danem as estatísticas. Nessa hora, minha cabeça de engenheiro dá lugar à cabeça de alguém que redescobre toda a fragilidade que é a vida.

E é assim, de maneira absolutamente egoísta, bem pequeno burguesa, que eu sofro com o sofrimento de tanta gente que perdeu quem ama, neste acidente pavoroso.

8 comentários:

Marcia disse...

sinceramente, não acho que isso seja egoísmo. é natural, todo mundo que viaja pensa imediatamente: podia ter sido eu. e começa a pensar em quem iria deixar, e depois começa a pensar se por acaso fosse alguma destas pessoas, e então em como a vida é breve e tudo pode acabar num instante (e acaba).

na verdade, só tem um jeito de sentir uma tragédia assim: é se colocando no lugar do outro.

ninguém disse...

Também não acho egoísmo. Cada coisa que acontece com alguém acontece com a gente, também, já que a gente faz parte de um todo, meu amigo. Já escapei também, mais de uma vez, em viagem de ônibus, de avião. Sei lá se meu anjo da guarda é mais atento, quem sabe ainda tenho de ficar mais tempo e penar mais, com toda a raiva que sinto em ver tanta sacana se dando bem e tanta gente boa indo embora sem perdão.
um abraço
maristela

Anônimo disse...

Também fiquei chocada com esse acidente... Acompanhei pela tv tentando achar o melhor noticiário...

Eu não sabia se você estava viajando ou não, e tinha certeza de que se alguma coisa tivesse acontecido nós ficaríamos sabendo logo... Mas quando a lista de passageiros foi divulgada, quase 2 e meia da manhã fui dar uma olhadinha "só pra confirmar!".

Maria Helena disse...

Arnaldo,
desencana, os riscos ocorrem até dentro da nossa própria casa. Lembra de uma pessoa que dormindo foi atingida por uma bala perdida???
Não entra nessa paranóia, curta a sua vida que deve ser fascinante com as viagens que faz.
Bjs.

Diego Moreira disse...

Arnaldão,

É bem verdade que o número de mortes em acidentes rodoviários é bem maior do que o número de mortes em acidentes aeroviários.
Hoje mesmo, um acidente numa estrada matou 3 pessoas, sendo uma delas ainda criança.

No entanto, a concentração de mortos numa mesma catástrofe gera maior reverberação, além do fato de que esses acidentes, em geral não tem sobreviventes, e atingem diretamente uma população com poder aquisitivo um pouco mais elevado, mesmo com o barateamento das passagens no cenário atual.

Tudo isso somado ajuda a multiplicar o medo no entanto a obssesão oposicionista de alguns setores da mídia está muito longe do que deveria ser o papel da imprensa num país em desenvolvimento. Essa imprensa assume uma postura provinciana, típica dos países subdesenvolvidos. Antes de começar o debate amídia já culpava o governo federal fazendo uma relação pouco provável do acidente com o Caos Aéreo. Eu, ao ver o JN ontem à noite, fiz o mesmo gesto de Marco Aurélio Garcia e de se acessor acrescentando um sonoro: "Aqui, ó! Tomem, seus canalhas!"

A coincidência com o seu vôo é assustadora. E seu discurso não é, absolutamente, egoísta. Fiz e faço o exercício de colocar-me no lugar dos familiares. Mas concordo com a Maria Helena. Desencana. Eu, geógrafo, fico fascinado com os seus relatos de viagens. Ainda tenho muito pra conhecer desse Brasil e do mundo.
Abraços!

Eli Carlos Vieira disse...

Estatísticas, probabilidades, fatalidades.......
Problemas humanos, da máquina, da pista...PROBLEMAS...
Agora, o velho passa e repassa de responsabilidades.

Agora, o choro desesperado de histórias de vidas que, como em uma trama de terror cruelmente finalizada, expõem um caos de um país.
Insegurança por violência, insegurança por falta de assistência digna para a saúde dos nossos, insegurança por causa da insegurança, e agora, se não bastasse, insegurança no sistema aéreo brasileiro........INSEGURANÇA....

Culpar?Quem?
Antes fosse salvar!Todos!

Abração, Arnaldo.
eLi
:-/

Claudia Lyra disse...

Bom... a verdade é que não sei ter empatia de forma diferente do que esta que você descreveu. Somos todos essencialmente egoístas, pelo jeito.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Pessoal,

Não estou encanado, não. Foi apenas uma coisa que senti, naquela hora.