Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 21 de julho de 2007

Intimidade

Desde que comecei a escrever no blog, já se vão mais de seis meses, me assaltou também o hábito de ficar xeretando em blogs alheios. E tem de tudo nesse mundo. Desde os mais intimistas, aqueles com cunho claramente confessional, até os mais impessoais, transmitindo apenas coisas escritas por outras pessoas ou retiradas dos mais diversos órgãos da mídia. Muita coisa boa e muita porcaria, como tudo na vida. Há aqueles que me tocam mais, que me dão prazer em ler freqüentemente e que são aqueles que aparecem na coluna à sua direita.

Sem saber identificar um estilo no meu blog, percebo que tenho muito mais facilidade em escrever sobre minhas impressões sobre tudo o que vejo, ouço e leio, do que sobre o que sinto. Na verdade, tenho uma clara dificuldade em abordar aspectos muito pessoais da minha vida. Esta dificuldade, aliás, eu a tenho, também, por exemplo, no relacionamento profissional, com os colegas de trabalho. Vejo muita gente, entre meus colegas, abrir-se com muita facilidade, contar sobre seus problemas pessoais, como se colega de trabalho fosse, necessariamente, um amigo. Não sou assim. É claro que tenho alguns amigos entre os colegas do trabalho, mas não consigo abordar minha vida pessoal com tanta facilidade. Sou assim e não acho que isso seja um defeito ou uma virtude. Apenas é uma característica.

Fiquei pensando nestas coisas enquanto lia o livro O Texto, ou: A Vida, de Moacyr Scliar. O livro é uma autobiografia. Só que nela, não se comenta nada sobre a vida pessoal do escritor. Sabe-se, muito levemente, que ele é casado e que tem, pelo menos, um filho. Mais nada. Não há nenhuma informação sobre sua vida amorosa, sua relação com a mulher ou o filho, seus problemas com dinheiro ou outra façanha qualquer. O livro é absolutamente literário. O autor narra toda a sua história, desde os primeiros textos que escreveu, o que sentiu ao fazê-lo, como lidava com as críticas ou com o sucesso. E, ao longo da narrativa, vai nos brindando com fragmentos destes textos, como a ilustrar aquilo que estava dizendo.

Fiquei absolutamente encantado com isso. Primeiro, por que Moacyr Scliar é um dos escritores brasileiros que eu mais admiro. Já tive, aliás, oportunidade de falar sobre isso aqui. O que mais me encantou, porém, foi perceber que é possível acompanhar e entender uma vida, sem necessariamente ficar sabendo das intimidades de uma pessoa. Não conheço Moacyr Scliar pessoalmente, mas o que eu conheço me basta para admirá-lo. O que me interessa, a respeito dele, são seus textos, a maneira como ele escreve, o conteúdo que depreendo daquilo que ele publica. Não me interessam as fofocas, nem sobre ele e nem sobre qualquer outro artista. Aliás, os detalhes da vida, a intimidade das pessoas, nada disso me interessa. A não ser daquelas pessoas a quem eu amo.

4 comentários:

Clélia Riquino disse...

Te ajudei a comprá-lo, preciso, agora, lê-lo...

Telejornalismo Fabico disse...

*




pois é, mas os teus textos mais interessantes são aqueles que trazem algo de pessoal, algo de confessional.
são esses que abrem a possibilidade de identificação.
mesmo pra comentar sobre livros ou músicas, quando o filtro é a pessoalidade, o assunto ganha outra dimensão.


que bom ver a clélia por aqui.
espero que esteja tudo bem com ela.




*

Maria Helena disse...

Arnaldo,
Leio sempre os seus textos, são interessantes, inteligentes e gostosos de ler, parabens.
Colocar Caminho Suave (casos de uma vida) na rede, foi uma brincadeirinha, sem pretensões de escritora, apenas uma terapia.
A interação com blogueiros para mim, foi o ponto alto desta diversão,estou curtindo
"pordimaaaiiis"espero que se torne real (carne e osso) algum dia.
Bjs

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Clé,

Leia-o. Você vai gostar.

Sean,

Também acho isso. O que atrapalham são alguns pudores que eu tenho.

Maria Helena,

Isso é fácil. É só combinar algum dia.