Escrevi um post, há uma semana, sobre o acidente com o avião da Tam. Na verdade, não escrevi sobre o acidente. Escrevi sobre o meu sentimento em relação à notícia. Nos dias subseqüentes, muita coisa saiu nos blogs que eu leio freqüentemente e também naqueles que eu leio raramente. Fiquei na dúvida se queria escrever sobre isso e, agora, passada uma semana, tenho uma percepção muito particular de como é que cada agente político está cumprindo o seu papel, em relação a este tema.
O Papel da oposição
A oposição, capitaneada pelo PSDB, aproveitou-se da tragédia pra sair atirando no governo. Não fosse isso, seria qualquer outra coisa. Afinal, tudo de ruim que acontecer é preciso capitalizar. Não estou dizendo que isto está certo. Mas é assim que as coisas funcionam, em política. O PT, aliás, quando era oposição, fazia a mesma coisa. Estão no papel deles.
O Papel da Mídia
A grande mídia, no Brasil, está pautada pela classe dominante. Mesmo porque os proprietários dos grandes jornais fazem parte dela. Aliás, um grande jornal ou uma rede de TV, fundamentalmente, é uma empresa que busca o lucro. Vive dos anúncios veiculados e, portanto, atende, muito claramente, aos interesses destes anunciantes. Ou alguém vai me dizer que já viu, num grande jornal ou na TV Globo, alguma notícia negativa a respeito do dono das Casas Bahia? Não viu e nunca vai ver. De novo, não estou dizendo que isto está certo. Mas é assim que as coisas funcionam quando a economia de mercado é exageradamente valorizada. E justamente por isso, no primeiro momento, trataram de colocar a culpa no presidente Lula (não em algum órgão do governo, mas no presidente) sem que houvesse nenhum subsídio para esta ação.
A cobertura da imprensa, aliás, em minha opinião, foi péssima. E quanto maior o órgão de imprensa, pior a abordagem. Eu, como sou meio desavisado, fiquei sabendo tarde sobre o acidente. Vi na Internet uma chamada na página da UOL e fui correndo ligar a TV. A TV Cultura e a Band News estavam ao vivo, tentando buscar e dar informações aos telespectadores. Mudei pra Globo e estava passando Casseta & Planeta. Achei meio macabro. Parece que eles foram os primeiros a noticiar, deram furo, essas coisas. Mas num momento em que muita gente estava ansiosa por informações, eles passavam um programa humorístico.
Depois, quando já havia mais informações disponíveis, descambaram para o sensacionalismo, provocando comoção e informando pouco. Acabou sendo um agente muito eficaz na tarefa de gerar revolta e indignação na opinião pública. Mas, informação, necas. E o ponto alto foi o vídeo com o gesto do Marco Aurélio Garcia e o seu subseqüente pedido de desculpas. Nenhuma utilidade tiveram estas matérias, a não ser mostrar que o cara é arrogante, coisa que todo mundo sabe.
Enfim, é como se o papel da mídia, mais do que informar, fosse formar. Conduzir.
O papel do governo
Me incomoda muito que sempre que alguém tenta defender o governo o faz comparando-o com o governo passado. Eu não tenho nenhuma dúvida que o governo Lula é melhor do que os governos FHC. E esta constatação não é só ideológica. Os indicadores econômicos e sociais mostram isto. Mas não basta. Aliás, ser melhor do que alguma coisa muito ruim não é lá um grande mérito. Mesmo porque, os governos FHC foram melhores do que o de Collor e a eleição de Collor foi um grande avanço em relação aos governos militares, até pelo fato dele ter sido eleito diretamente. E eu sou o primeiro a defender o presidente Lula quando percebo que as críticas ou as tentativas de desestabilizar seu governo são baseadas no preconceito. E isso é ideológico.
Mas a ideologia não pode nos cegar nem, muito menos, soterrar nosso senso crítico. O que ocorre é que o governo e, mais especificamente, o presidente Lula, reagiram muito mal à notícia do acidente. Ele demorou pra se posicionar, se escondendo mesmo, talvez traumatizado pela vaia do Maracanã. Vaia, aliás, que eu achei injusta. Eu não vaiaria. Aliás, não vaiaria mesmo que o presidente fosse o Alckmin. Não era oportuno.
O que acontece é que este governo tem uma grande dificuldade em gerenciar. A eleição de Lula foi uma grande vitória do PT e um acontecimento histórico numa sociedade com tão forte ranço reacionário. Foi uma vitória obtida graças a uma grande capacidade de articulação política, especialidade que Lula tem, desde os tempos do movimento sindical. O problema é que governar é metade política e metade gerenciar. E, aí, o que o governo vem fazendo é justamente manter o modelo que 8 anos de peessedebismo implantaram no Brasil, como uma chaga.
O Papel da oposição
A oposição, capitaneada pelo PSDB, aproveitou-se da tragédia pra sair atirando no governo. Não fosse isso, seria qualquer outra coisa. Afinal, tudo de ruim que acontecer é preciso capitalizar. Não estou dizendo que isto está certo. Mas é assim que as coisas funcionam, em política. O PT, aliás, quando era oposição, fazia a mesma coisa. Estão no papel deles.
O Papel da Mídia
A grande mídia, no Brasil, está pautada pela classe dominante. Mesmo porque os proprietários dos grandes jornais fazem parte dela. Aliás, um grande jornal ou uma rede de TV, fundamentalmente, é uma empresa que busca o lucro. Vive dos anúncios veiculados e, portanto, atende, muito claramente, aos interesses destes anunciantes. Ou alguém vai me dizer que já viu, num grande jornal ou na TV Globo, alguma notícia negativa a respeito do dono das Casas Bahia? Não viu e nunca vai ver. De novo, não estou dizendo que isto está certo. Mas é assim que as coisas funcionam quando a economia de mercado é exageradamente valorizada. E justamente por isso, no primeiro momento, trataram de colocar a culpa no presidente Lula (não em algum órgão do governo, mas no presidente) sem que houvesse nenhum subsídio para esta ação.
A cobertura da imprensa, aliás, em minha opinião, foi péssima. E quanto maior o órgão de imprensa, pior a abordagem. Eu, como sou meio desavisado, fiquei sabendo tarde sobre o acidente. Vi na Internet uma chamada na página da UOL e fui correndo ligar a TV. A TV Cultura e a Band News estavam ao vivo, tentando buscar e dar informações aos telespectadores. Mudei pra Globo e estava passando Casseta & Planeta. Achei meio macabro. Parece que eles foram os primeiros a noticiar, deram furo, essas coisas. Mas num momento em que muita gente estava ansiosa por informações, eles passavam um programa humorístico.
Depois, quando já havia mais informações disponíveis, descambaram para o sensacionalismo, provocando comoção e informando pouco. Acabou sendo um agente muito eficaz na tarefa de gerar revolta e indignação na opinião pública. Mas, informação, necas. E o ponto alto foi o vídeo com o gesto do Marco Aurélio Garcia e o seu subseqüente pedido de desculpas. Nenhuma utilidade tiveram estas matérias, a não ser mostrar que o cara é arrogante, coisa que todo mundo sabe.
Enfim, é como se o papel da mídia, mais do que informar, fosse formar. Conduzir.
O papel do governo
Me incomoda muito que sempre que alguém tenta defender o governo o faz comparando-o com o governo passado. Eu não tenho nenhuma dúvida que o governo Lula é melhor do que os governos FHC. E esta constatação não é só ideológica. Os indicadores econômicos e sociais mostram isto. Mas não basta. Aliás, ser melhor do que alguma coisa muito ruim não é lá um grande mérito. Mesmo porque, os governos FHC foram melhores do que o de Collor e a eleição de Collor foi um grande avanço em relação aos governos militares, até pelo fato dele ter sido eleito diretamente. E eu sou o primeiro a defender o presidente Lula quando percebo que as críticas ou as tentativas de desestabilizar seu governo são baseadas no preconceito. E isso é ideológico.
Mas a ideologia não pode nos cegar nem, muito menos, soterrar nosso senso crítico. O que ocorre é que o governo e, mais especificamente, o presidente Lula, reagiram muito mal à notícia do acidente. Ele demorou pra se posicionar, se escondendo mesmo, talvez traumatizado pela vaia do Maracanã. Vaia, aliás, que eu achei injusta. Eu não vaiaria. Aliás, não vaiaria mesmo que o presidente fosse o Alckmin. Não era oportuno.
O que acontece é que este governo tem uma grande dificuldade em gerenciar. A eleição de Lula foi uma grande vitória do PT e um acontecimento histórico numa sociedade com tão forte ranço reacionário. Foi uma vitória obtida graças a uma grande capacidade de articulação política, especialidade que Lula tem, desde os tempos do movimento sindical. O problema é que governar é metade política e metade gerenciar. E, aí, o que o governo vem fazendo é justamente manter o modelo que 8 anos de peessedebismo implantaram no Brasil, como uma chaga.
E não é admissível que, pra que alguma ação seja tomada, seja necessário que mais de 350 pessoas morram em acidentes com aviões em menos de um ano. Mesmo porque, em um ano, muito mais do que 350 pessoas morrem em acidentes com automóveis e ônibus nas esburacadas estradas brasileiras. E a única ação relevante, até agora, foi a substituição de Waldir Pires por Nelson Jobim no ministério da defesa, ocasião em que o presidente fez um dos discursos mais sofríveis de que ele já foi capaz. Um discurso em que eu me preocupei, pessoalmente, ao ouvi-lo dizer que quando entra num avião entrega a vida a deus. Preocupei-me, pois esta é uma prerrogativa que eu não tenho.
O governo Lula tem que assumir seu papel.
14 comentários:
ótima avaliação.
Perfeito, como de praxe.
Nada a acrescentar nos seus comentários.
Apenas em relação ao que disse o Presidente. E quem não acredita em Deus, como é o meu caso? Nem na mão de Deus posso entregar minha vida quando entro num avião. Eu, que sempre morri de medo de avião, acabo de recusar uma viagem à trabalho no Rio de Janeiro. Por conta dessa crise medonha.
Outra: Herminio Bello de Carvalho viria se apresentar no próximo dia 11, no Tonicos Boteco, ao lado de Moacyr Luz. Mandou e-mail desmarcando o compromisso. Está com crise de pânico depois de ver a cobertura do acidente e não pretende mais entrar num avião.
Sobre a imprensa...realmente é um caso polêmico...interesses interessados em interesses.
Mas um fato que eu achei importante, e outras pessoas apontaram também, foi a atitude tomada pela Globo de, no primeiro momento da "anunciação", não falar em possíveis mortos e/ou envolvidos. O William Bonner sempre falava da capacidade de passageiros do airbus, e que ainda era cedo para saber o número de vítimas...e assim foi por um tempão.
Enquanto isso, José Luiz Dantena, na Band, alarmava a todos. Desesperado como se tivesse saído do avião,
Ficou cantando número de mortos, dizendo que todos morreriam carbonizados e que as chances eram poucas de sobreviventes.
Eu penso que uma atitude dessas deixa o telespectados em uma posição insegura, afinal, nem a companhia havia se pronunciado...
É...para uns parece que o acidente veio a calhar...deixou-se de pegar nos pés de um para atazanar o outro...
Política sem oposição, não existe...
Infelizmente essa oposição soa como verdade absoluta para alguns que não sabem interpretar os discursos e as posições. Quando deveria ter a função de abrir margem para um novo pensamento, reflexão antes de tomar partido de "X" ou "Y"
Como você disse, pode não ser certo, mas é assim que acontece. Acusações....
Vaias, preconceito, receio-medo...um círculo que acaba por desviar o foco e as boas intenções.
No Pan já é desagradável a todo momento ouvir reações contrárias da parte de brasileiros a atletas estrangeiros.
Como disse um torcedor assistindo atletismo (uma das modalidades mais prejudicadas com essas manifestações): "Temos de ganhar as competições lá na pista", sobre as vaias visando "derrotar" os estrangeiros.
Ah!
Um abraço e bom fim de femana para vcs aí, Arnaldo!
eLi
:-]
Texto maravilhoso.
A imprensa brasileira é sofrível e marrom até a alma.
Quanto ao Marco Aurélio, como já comentei, fui aluna dele..e discordo : ele não tem nada de arrogante, Arnaldo.
Quanto ao gesto - privado - eu vi apenas o que já comentei por ai, uma reação face as noticias que retiravam o governo do ataque frontal e tosco da imprensa.
beijos pra vc.
Arnaldo, o que eu vi e li na mídia realmente foi sofrível. É impressionante como os jornais e emissoras de TV descambam para o sensacionalismo barato ante qualquer tragédia, agravando-a, na medida em que provocam desinformação em torno dela. Qualquer versão é berrada sem checkar, qualquer manipulação é aceita sem crítica (os pilotos da TAM tentando tirar da reta o loló da companhia até meu sobrinho de 6 anos pensaria 2 vezes antes publicar como publicaram). Quanto ao governo Lula, é, de uma forma geral, uma continuação do governo FHC, basta um olhar mais ou menos distante para ver isso. E eu não acho isso um problema, ao contrário. O Marco Aurélio Garcia foi pego em uma situação privada, que não deveria ter merecido o destaque que mereceu. Em privado, as pessoas riem, choram, vociferam, soltam pum. A Globo fez de uma espionagenzinha barata um fato nacional, como se o Marco Aurélio tivesse convocado uma coletiva e feito o gesto que fez em público. Ele nem deveria ter pedido desculpas, na minha opinião.
Por fim, sempre bom passar por esta casa tão bem cuidada. Abraço,
Devo concordar com a Vivien: o gesto do Marco Aurélio foi um desabafo, normal até, diante da pressão que a mídia vinha exercendo para incriminar o governo. Certamente muitos jornalistas fizeram o mesmo gesto quando souberam do acidente, da mesma forma que a oposição deve ter comemorado com brindes de champanhe.
Acho sim que a oposição ta fazendo o trablho dela.Mas quando vi ela falando do marco aurelio:"Comemorando em cima da morte de brasileiros!Eu acho isso um horror".Achei patético eles falando essas coisas.Porque eu acho q a palavra "comemoração" usada por eles e a imprensa é uma das palavras mais inadequadas que eles poderiam usar. falar mal de uma pessoa não é comemorar.Se uma professora vira pra mim e fala :"vc errou a questão 5",ela não ta dizendo:"vc erro a questão 5,OBA!"...
Bruno,
Nunca tive medo de avião. Nunca tive. Aliás, se eu tivesse, ficaria louco, do jeito que eu vôo. Mas conheço muita gente que não entra numa dessas máquinas de lata por nada desse mundo.
Eli,
O que mais me incomoda na Globo é o fato dela sempre privilegiar o formato em detrimento do conteúdo. Com o poder e a grana que tem, ela poderia produzir a melhor cobertura jornalística do Brasil. Mas não. Ela teima em ser superficial.
Vivien,
Não conheço o marco Aurélio Garcia pessoalmente, mas en todas as oportunidades em que o vi se manifestando, ele me pareceu muito arrogante. na verdade, ele FOI muito arrogante. Pode ser até que, no relacionamento privado ele não seja, mas aí, pouco importa. Ele é uma pessoa pública e, como tal, deve se comportar de maneira apropriada.
Jayme,
É isso aí.
Toddy,
Fiquei imaginando a sua professoa falando: "Você errou a questão 5", dando uma risadinha sacana e fazendo o mesmo gesto do Marco Aurélio. Seria divertido (menos pra você, é claro).
arnaldo, otimas observações.
acabei nao escrevendo sobre o acidente, estava de férias no RJ...
concordo sobre o que disse sobre a imprensa, sobre o governo, sobre tudo.
Arnaldo, muito bom o comentário, incluindo o final sobre a ação tardia e péssimo discurso do presidente. Também achei muito ruim. Eu só não entendi o porque da sua preocupação ao ouví-lo dizer que quando entra num avião entrega a vida a Deus. É claro que o presidente, quando expressa seu credo e convicção religiosa num discurso, e provavelmente o fez por estar comovido..., atinge milhões em audiência. Muitos naquele vôo provavelmente o fizeram, entregaram a vida a Deus, se tiveram tempo... e nós os evangélicos, também ficamos preocupados, com os que não praticam essa entrega. E os católicos, imagino que ficam preocupados também, com os que não beijam a mão ou se ajoelham para o Papa. O Serra apenas deu um aperto de mão nele na recente visita. Eu também assim o faria.
Pois é, Alexandre, mas o que o presidente Lula quis dizer é que, quando entra num avião, entrega a vida nas mãos de deus, confiando que ele vai protegê-lo, que nada de mal vai lhe acontecer.
Certamente, muita gente, naquele vôo, fez o mesmo. Só que não deu certo.
Arnaldo, não li o que todos escreveram mas somaria o seguinte: esse texto é extremamente didático. Você podia ser professor! Falo isso pela clareza das idéias. E clareza, pra quem ensina, é fundamental.
Abraços!
Diego,
Fui professor durante 8 anos. Dava aulas para o último ano do curso de engenharia elétrica. Um dia resolvi parar. Um pouco por que achei que a qualidade da minha aula estava caindo, um pouco porque tinha que escolher entre a vida acadêmica e minha carreira na empresa. Escolhi.
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