Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 23 de dezembro de 2007

João sem medo

João Saldanha foi muito popular entre as décadas de 1950 e 1970, muito conhecido como jornalista esportivo. Pois acaba de sair o livro João Saldanha - uma vida em jogo de André Iki Siqueira e, nesta biografia, mostra-se uma faceta menos conhecida de João que foi a militância. Sim, pois além de sua paixão pelo futebol, João alimentava outra que era a política.

João militou no Partido Comunista Brasileiro durante toda sua vida, sempre leal a ele e sempre muito próximo de seu comitê central. Era um militante dedicado e corajoso, tendo cumprido muitas tarefas complexas e perigosas. Foi muito ligado a Prestes, mas, quando este rompeu com o partido, João manteve-se fiel ao PCB.

A maior virtude do livro é mostrar, claramente, todas as facetas de João, o João sem medo. O João contador de histórias, nem todas verídicas, mas sempre emocionantes. Brigador, mas terno com a família e os amigos, ele não levava desaforo pra casa e não precisava de muito pra pegar um revólver e resolver alguma parada. Deu tiros a torto e a direito, mas, o único certeiro não foi dado e sim levado por ele, perfurando seu pulmão, numa invasão da UNE pela polícia.

A parte mais fascinante do livro é a que narra sua atuação como técnico da Seleção Brasileira que iria disputar o título mundial de 1970. Ele formou e treinou aquele time que depois foi entregue, de mão beijada, a Zagallo para ser campeão. O livro mostra como é difícil entender por que este comunista, em pleno regime militar, foi convidado para ser técnico da seleção, classificou-a para a Copa sem perder nenhum jogo e foi demitido alguns meses antes de ir ao México. Como o próprio João declarou: “O difícil não é entender por que fui demitido mas, sim, por que fui contratado”.

É um livro que se lê em 2 dias, apesar de suas 550 páginas. Nele percebemos que entre militante político, brigão e contador de histórias, a melhor faceta de João era a de jornalista esportivo. Foi o melhor jornalista de futebol que o Brasil já teve. Ele entendia de futebol por ter sido jogador e técnico. E entendia, sobretudo, por ser torcedor fanático do Botafogo, o que fazia com que percebesse o que se passava na cabeça do povo e, com isso, conseguia se comunicar diretamente com ele, usando a sua linguagem.

João Saldanha é de um tempo em que não era necessário ter diploma pra ser jornalista. Um tempo em que era necessário saber escrever direito pra ser jornalista. Bons tempos, aqueles.

Um comentário:

ninguém disse...

Arnaldo. Ia comentar no teu post anterior sobre Natal e tua bendita idéia de romper a mesmice. Quero notícias do jantar original. Mas li este texto sobre o João e me deu saudade de outros tempos. Fui casada por 19 anos com comentarista esportivo, portanto futebol estava me nossa vida diária. Lembro do quanto este cara magro, com cara de mau, foi importante para o Brasil. Hoje, se não lançam o livro, quem dele lembraria?
bj