Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Morno

Roberto Carlos despontou no início dos anos 1960. Num período aberto à rebeldia, passou ao largo dela e simbolizou o bom moço que as mães carolas ansiavam para namorar suas filhas. Lançou seus discos ao longo de 40 anos, sem nunca arriscar. Essa foi sua marca. E apesar disso, é injusto negar a qualidade de muitas de suas músicas e da sua forma de cantar. Transformou-se num rei, merecidamente. Canta e encanta gerações de fãs, com seu jeito calmo e sublime. Sempre reverenciou a Bossa Nova e diversas vezes declarou sua admiração por João Gilberto e Tom Jobim. É um dos maiores ícones de nossa cultura popular.
.
Caetano Veloso despontou no início dos anos 1960. Num período aberto à rebeldia, ergueu esta bandeira e foi sempre sua voz. Simbolizou tudo o que os pais de classe média não queriam que seus filhos fossem. Lançou seus discos ao longo de 40 anos, sem nunca ceder ao conforto do sucesso. Sempre arriscou. Essa foi sua marca. E apesar disso, conseguiu um considerável sucesso em sua carreira, imprimindo em nossa cultura, sua peculiar maneira de compor e cantar. Canta e instiga gerações de fãs, com seu estilo provocativo. Sempre reverenciou a Bossa Nova e diversas vezes declarou sua admiração por João Gilberto e Tom Jobim. É um dos maiores ícones de nossa cultura popular.

Dois símbolos tão distintos, têm a facilidade da sintonia, como quando Roberto canta Força Estranha, de Caetano ou quando Caetano canta Fera Ferida de Roberto. Certamente, esta sintonia deve muito à Bossa Nova e a Tom Jobim.

Por tudo isso, um disco reunindo estes dois grandes astros cantando só músicas do grande maestro, só poderia resultar num CD muito quente. Pois não foi o que aconteceu. O CD Roberto Carlos e Caetano Veloso e a obra de Tom Jobim é um disco morno. Caetano está muito Roberto Carlos no disco. Não se aventura, não inova, não arrisca. Isso pode cair bem na pele do rei, mas não convence na pele de Caetano. Roberto, por sua vez, está absolutamente desconfortável cantando Bossa Nova. Sua praia nunca foi o samba e Bossa Nova é samba, no final das contas.

Tanta coisa boa podia ter sido feita, aproveitando esta oportunidade, e tanta bobagem foi feita neste disco. Eles poderiam ter cantado muitas faixas juntos e não o fizeram. Quando fizeram, o resultado foi absolutamente óbvio. Há uma gravação de Insensatez em espanhol que é de uma insensatez atroz, me perdoem o trocadilho infame. Infame mesmo, aliás, são os arranjos pasteurizados de Eduardo Lage, há tantos anos fazendo os arranjos pasteurizados dos discos de Roberto, que nesses casos, funcionam muito bem. Neste, não funcionou.

O disco não é horrível. Pode ser até agradável ouvi-lo, desde que você esteja na sala de espera do seu dentista ou no elevador de um shopping center. O disco não empolga. Não é ruim, mas é morno. Isso é muito pouco quando se reúnem 3 símbolos tão importantes da nossa cultura.

6 comentários:

Eli Carlos Vieira disse...

É vero!
Essa é para não deixar saudades...

O rei é incontestavelmente o rei.
Caetano é bom também, tem seu nome.
Mas acredito que esse trabalho, trata-se de uma "parceria" de duas pessoas que já foram bem melhores (cada um a seu modo) e agora, com a marca que têm, se dão ao luxo de fazer trabalhos que não dão em lugar algum.
A intenção é boa, vem em época em que se lembram os 50 anos da bossa (época de duelos entre os jovens e seus pontos de vista).
Mas de boa intenção...

O projeto não me atraiu, como não o fazem os especiais de fim de ano do rei, com arranjos que parecem karaokê, previsíveis e sem alma.
Sobre Caetano, apesar de algumas mudanças e modernismo em seu cantar, ainda há excessões.

Valeu, abração, Arnaldo.
eLi

Lord Broken Pottery disse...

Puxa! Alguém precisava dizer o que você disse e ainda ninguém tinha dito. Concordo plenamente. A melhor definição é esta mesmo, um CD morno. Além do mais, a Bossa Nova sempre se caracterizou por ser uma forma despojada de se cantar. Pouca voz, um violão, emoção. Foi uma reação, inclusive, ao exagêro de vibrato na voz que se utilizava. Ouvir os dois cantores cantar Bossa Nova com tanto vibrato me incomoda.
Grande abraço

Anônimo disse...

gostei dos textos do blog, pois não são mensagens curtinhas e rasas, mas também não são aqueles textos imensos que as vezes costumam pintar pelos blogs (pois não tenho a mínima paciência de ler textos longos pela tela do computador...).
sabe, eu não ouvi o CD do show do roberto/caetano, mas gostei tanto do show no municipal aqui no rio... sei que o a gravação do cd foi feita apartir do show de sampa, mas os arranjos e tudo mais são os mesmos, né? enfim... acho que me empolguei com a presença dos dois juntos... hehe
beijinhos

Marina F. disse...

Viva o Rei!
bjs.

Diego Moreira disse...

Clap! Clap! Clap! Clap!
Excelente análise.

Abraços, meu camarada!

Ju Hilal disse...

Oi Arnaldo,
Gostei muito dos seus comentários. Obrigada pelas visitas.
Gostei muito também do seu blog. Vou passear por aqui regularmente. Pelo visto compartilhamos de muitas opiniões.
Um abração,
Juliana.