Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 26 de setembro de 2009

O pior pecado

A cena se repete todos os dias, invariavelmente. Pode mudar o cenário, com nuvens ou com céu aberto, mas os personagens são os mesmos, ainda que mudem. Eu, sozinho no carro, sou como tantos outros, a maioria sozinhos, indo em seus carros, manhã bem cedo, rumo ao trabalho. Há os que andam nas calçadas, determinados, ambos os lados, um rumo parecido. Descem dos ônibus ou se dirigem ao ponto. Rostos diferentes, roupas diferentes, o mesmo semblante. O cenho fechado, grave, obscuro, como o que exibimos nós, de dentro dos carros.

E no meio desta cena, eis que um personagem me chama a atenção. É um rapazote no mesmo cenário que todos, também anda sozinho, determinado, indo pro trabalho ou pra escola, quem sabe. É de manhã cedo, como é pra todos. O mesmo céu, o mesmo chão. O que difere é um inexplicável sorriso em seu rosto.

Não há uma imagem engraçada em seu campo de visão e nenhuma mulher especialmente bonita anda à sua frente e nem vem ao seu encontro. Não é um riso largo, nem um riso de ironia. Também não é um sorriso idiota. Não é dirigido a ninguém que se possa notar. É um sorriso só dele, que não precisa ser explicado e que, talvez, nem ele mesmo perceba. Nem é um sorriso especialmente bonito, mas é um sorriso, só isso.

Vendo aquilo, pequei o pecado que eu mais abomino. Vendo aquilo, senti uma curtíssima e imensa ponta de inveja.

2 comentários:

Vanessa Dantas disse...

Olhos de ver. E beleza maior é assumir - o pecado. Beijo.

Eli Carlos Vieira disse...

Sorrir sem ter motivo (vai saber, né?)
Talvez o sorriso tenha atingido um bom propósito...algo como fazer repensar coisas.
Será mesmo pecado o sentimento causado?

Abração!