Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Risco e prazer

Já falei aqui, há algum tempo, o quanto imagino ser difícil conviver com a obrigação de escrever crônica todo santo dia. E falei, também, como é perigoso comprar livros de crônicas de autores famosos, correndo o risco de perceber que os textos já haviam sido lidos nos jornais. Por isso mesmo, foi com muita atenção que comprei O Rei da Noite, de João Ubaldo Ribeiro. Tive o cuidado de ler, ainda na livraria, o início de vários textos, para ver se não os conhecia, já que tive, no passado, o hábito de ler sua coluna no Estadão. Como não leio o Estadão há muito tempo (sempre preferi a Folha, embora esta já não me satisfaça), este risco mostrou-se mínimo. Comprei o livro, portanto, com segurança. Foi uma sábia decisão, percebi depois.

Gosto muito mais do Ubaldo escritor de crônicas do que do escritor de romances. Na verdade, só li, dele, dois romances: A Casa dos Budas Ditosos, da coleção Plenos Pecados, tratando da luxúria, foi penoso de ler. Não foi por sentimento puritano, já que não tenho nada contra erotismo e nem mesmo a pornografia. Achei o livro ruim, só isso. O outro romance que li foi Sargento Getúlio, baseado no qual, achei o filme melhor. Pelo menos pela minha ótica, isso não é uma grande virtude para um livro. Provavelmente por causa destas duas experiências malsucedidas, O livro Viva o Povo Brasileiro repousa preguiçoso e virgem na minha estante há muitos anos.

As crônicas de Ubaldo, entretanto, sempre me agradaram muito, como me agrada vê-lo falar em entrevistas na televisão. Seus textos são rápidos e, principalmente, não são datados. Isso é muito raro. Nada pior que uma crônica que só tem vigor quando lida numa época específica.

Este livro, O Rei da Noite, teve o poder de me proporcionar bastante prazer. E é, fundamentalmente, o prazer que eu busco quando compro livros de crônicas, seja do Ubaldo, do Veríssimo ou do Cony. Compro, mesmo sabendo dos riscos que corro. Afinal, quanto maior o risco, mais prazerosa pode ser uma empreitada.

2 comentários:

Beatriz Fontes disse...

Viva o povo brasileiro é, sem dúvida, um de meus livros preferidos, não apenas do Ubaldo, mas da literatura brasileira. É algo que me emociona de um jeito que nem sei explicar: trata-se de um épico, que aborda a mitologia africana de uma maneira poética, linda demais. Creio que todo brasileiro deveria lê-lo. Foi com ele que de fato entendi que não é preciso ser grego para se ter mitologia e que Ubaldo, guardadas as devidas proporções, cumpre perfeitamente o papel de Homero. E creio que não estou exagerando.

Confesso, porém, que precisei vencer o primeiro capítulo. Ele beira o chato, com a história da alminha que vai voando... Mas daí entra o segundo capítulo e a história começa com um vigor impressionante e a gente praticamente esquece do primeiro capítulo. Pelo menos, até um trecho, lá pela metade, em que o primeiro capítulo finalmente faz sentido e, putz, a gente se da conta de que está realmente lendo uma obra-prima.

Por isso, Arnaldo, leia este livro o quanto antes. É bom demais! Pelo menos, esta é a minha opinião... Espero que você concorde comigo, mas, independente de você gostar ou não da leitura, adoraria debatê-la contigo. Conheço pouquíssimas pessoas que leram este livro.

Abraços!

Valéria Martins disse...

Fiz uma longa entrevista com o Ubaldo, certa vez, para a revista onde trabalhava. Foi um dos ótimos momentos da carreira. Mas confesso que não sou leitora dele, não. Acho um pouquinho chato.

Beijos!