Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 21 de agosto de 2010

Lidando com o tempo

Eu tinha 20 anos quando li Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez e Dom Casmurro de Machado de Assis. Em idade mais tenra havia lido alguns dos livros da fase romântica do escritor brasileiro e não tinha me sentido arrebatado por sua prosa. Quando penetrei em seu universo realista, entretanto, o arrebatamento foi instantâneo e somente suplantado pela leitura, logo depois, da obra do autor colombiano.

Não sou dado a releituras, já que me assombra o fantasma representado pela convicção de que não terei tempo, em minha vida, para ler, sequer os livros que repousam em minha estante, quiçá, todos aqueles que eu desejo. Esta convicção, que é quase uma certeza, me persegue há muito tempo e isso faz com que eu evite releituras. Nem mesmo filmes eu costumo ver mais de uma vez, o que mostra que esta minha urgência se conta em minutos.

Apesar disso, e por absoluto acaso, reli essas duas obras quando estava com trinta anos. A sensação que tive foi a que estava lendo coisa inédita, tal foi a diferença que as leituras representaram. Eram os mesmos livros, as mesmas edições, o que fez com que eu percebesse como o tempo operava, em mim, significativas mudanças. Ao fazer 40 anos, repeti, deliberadamente, esta experiência e a leitura dos dois livros revelou-se, mais uma vez, surpreendente.

A nossa maneira de ver as coisas, as mesmas coisas, pode mudar, sem que isso signifique que alguma destas maneiras seja equivocada. As nossas verdades são dependentes de vários fatores e o tempo é o mais poderoso de todos. É por isso que tendo a desconfiar das pessoas que carregam certezas absolutas por toda a vida, pessoas que têm dificuldade em rever suas próprias posições, através do exercício do auto-questionamento. Ao longo dos anos, aprendi a apreciar, com sinceridade, as situações em que consegui ser convencido a mudar minha opinião e descobri que pode ser prazeroso o momento da percepção de que eu estava errado. Isso requer, entretanto, desapego à vaidade e uma certa dose de coragem, principalmente no mundo extremamente competitivo em que vivemos.

E é com extrema excitação que encaro, a partir de agora, a oportunidade de ler Dom Casmurro e Cem anos de solidão, novamente. Anseio pelas novas descobertas.

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