Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ninfomaníaca, 1ª parte

Assisti à primeira parte de Ninfomaníaca, de Lars von Trier com algum desconforto. Não foi devido ao ambiente sombrio e andamento lento do filme, já que estas características, típicas deste diretor, estavam presentes em outras obras suas como Dançando no escuro e Dogville, dos quais gostei bastante. Também não foi a temática do sexo, visto que este tema me interessa muito, como escrevi, recentemente, neste blog, aqui e aqui. O que causou este meu desconforto foi o fato do sexo, no filme, ser mostrado sem qualquer componente de emotividade. Obviamente não sou inocente a ponto de acreditar que o sexo só funciona se estiver acompanhado de amor, claro que não, mas sexo, em minha concepção, tem que estar aliado a carinho ou, ao menos, ter a companhia de carícias. Pois no filme de von Trier, o sexo é sempre mostrado sem amor, sem carinho, sem, nem ao menos, alguma carícia. O sexo, na tela, sempre aparece como algo apenas genital, como instinto, como vício.
.
Acontece que é este mesmo o objetivo do filme. É abordar o sexo quando ele é uma doença. É disso que ele quer tratar. E é por isso que ele é bom, apesar do desconforto que me causou. A escolha da atriz Stacy Martin me pareceu muito apropriada, pois sua inexpresividade caiu muito bem para o papel da protagonista da história, quando jovem.
.
O personagem representado pelo ótimo ator sueco Stellan Skarsgård, para quem a protagonista narra sua história, serve, também, para que o diretor passe seus recados, como quando ele diz que vem de uma família antissionista mas não antissemita, uma clara referência à desastrada entrevista que ele deu, durante a apresentação do filme Melancolia, no festival de Canes, quando declarou que compreendia Hitler, causando embaraço em todos os presentes.  Mais importante que esta baboseira, é o fato de ser através deste personagem que é exposto o que há de mais interessante no filme, ou seja, a comparação entre a arte da sedução e uma pescaria e o paralelo entre sexo e a audição de um prelúdio de Bach escrito para orgão.
.
No filme, o amor só aparece na forma de ilusão da protagonista que, ingenuamente, acreditou que este ingrediente poderia ser o remédio para o seu mal. O que vai acontecer com ela após descobrir que nem isso pode curá-la, só descobriremos quando a segunda parte do filme for exibida.
.

Um comentário:

Larissa disse...

Arnaldo, como amante da psicanálise, posso te dizer que esse filme e o seu artigo deram muito o que pensar.

Seu texto me fez ver um outro ponto de vista, porque, na verdade, comentei com o Juan que esse primeiro não me chocou, mas acho que o segundo vai ser mais forte porque até aqui ela não se expôs a nenhuma situação realmente extrema.

Quanto ao que você mencionou sobre amor e carinho. Essa concepção romântica do sexo é bem nova, não? Acho que em nossa sociedade pós-moderna, o que vemos são as coisas indo por dois extremos: uma romantização completa de tudo e uma banalização de tudo que se relacione ao afeto. E, como todo mundo sabe, nenhum extremo faz bem!

Esta reportagem mostra algumas imagens do 2, mas é bem interessante: http://www.rtve.es/alacarta/videos/dias-de-cine/dias-cine-nymphomaniac-volumen-ii/2342500/