Assisti à primeira parte de Ninfomaníaca, de Lars von Trier com algum desconforto. Não foi
devido ao ambiente sombrio e andamento lento do filme, já que estas características,
típicas deste diretor, estavam presentes em outras obras suas como Dançando no escuro e Dogville, dos quais gostei bastante. Também
não foi a temática do sexo, visto que este tema me interessa muito, como escrevi,
recentemente, neste blog, aqui e aqui. O que causou este meu desconforto foi o
fato do sexo, no filme, ser mostrado sem qualquer componente de emotividade.
Obviamente não sou inocente a ponto de acreditar que o sexo só funciona se
estiver acompanhado de amor, claro que não, mas sexo, em minha concepção, tem
que estar aliado a carinho ou, ao menos, ter a companhia de carícias. Pois no
filme de von Trier, o sexo é sempre mostrado sem amor, sem carinho, sem, nem ao
menos, alguma carícia. O sexo, na tela, sempre aparece como algo apenas
genital, como instinto, como vício.
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Acontece que é este mesmo o objetivo do filme. É abordar
o sexo quando ele é uma doença. É disso que ele quer tratar. E é por isso que
ele é bom, apesar do desconforto que me causou. A escolha da atriz Stacy Martin
me pareceu muito apropriada, pois sua inexpresividade caiu muito bem para o
papel da protagonista da história, quando jovem.
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O personagem representado pelo ótimo ator sueco
Stellan Skarsgård, para quem a protagonista narra sua história, serve, também,
para que o diretor passe seus recados, como quando ele diz que vem de uma
família antissionista mas não antissemita, uma clara referência à desastrada
entrevista que ele deu, durante a apresentação do filme Melancolia, no festival de Canes, quando declarou que compreendia
Hitler, causando embaraço em todos os presentes. Mais importante que esta baboseira, é o fato
de ser através deste personagem que é exposto o que há de mais interessante no
filme, ou seja, a comparação entre a arte da sedução e uma pescaria e o paralelo
entre sexo e a audição de um prelúdio de Bach escrito para orgão.
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No filme, o amor só aparece na forma de ilusão da
protagonista que, ingenuamente, acreditou que este ingrediente poderia ser o
remédio para o seu mal. O que vai acontecer com ela após descobrir que nem isso
pode curá-la, só descobriremos quando a segunda parte do filme for exibida.
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Um comentário:
Arnaldo, como amante da psicanálise, posso te dizer que esse filme e o seu artigo deram muito o que pensar.
Seu texto me fez ver um outro ponto de vista, porque, na verdade, comentei com o Juan que esse primeiro não me chocou, mas acho que o segundo vai ser mais forte porque até aqui ela não se expôs a nenhuma situação realmente extrema.
Quanto ao que você mencionou sobre amor e carinho. Essa concepção romântica do sexo é bem nova, não? Acho que em nossa sociedade pós-moderna, o que vemos são as coisas indo por dois extremos: uma romantização completa de tudo e uma banalização de tudo que se relacione ao afeto. E, como todo mundo sabe, nenhum extremo faz bem!
Esta reportagem mostra algumas imagens do 2, mas é bem interessante: http://www.rtve.es/alacarta/videos/dias-de-cine/dias-cine-nymphomaniac-volumen-ii/2342500/
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