Desde a morte de Eduardo Campos, a decisão do meu voto foi definida, em favor de Dilma Rousseff.
Isso não quer dizer que eu iria votar no candidato do PSB, mas, até aquele
momento, eu estava sinceramente indeciso. Com sua saída da disputa, fiquei sem outra alternativa.
Nas últimas eleições
presidenciais, o debate foi pautado pelo eleitorado mais conservador e, infelizmente,
a discussão ficou centrada em questões como a legalização do aborto, descriminalização
do consumo de maconha ou casamento gay. Isso, em minha opinião, empobreceu o debate
que poderia ter tomado um rumo mais ideológico.
Desta vez, novamente, encontrou-se
uma via que evita a discussão mais profunda do que a sociedade brasileira quer
como diretriz do novo governo. Escolheu-se, aliás, um tema antigo e desbotado,
já utilizado desde a redemocratização do Brasil, pós-Segunda Guerra, nas
eleições de 1945. O surrado tema da corrupção foi
utilizado na eleição de Dutra, de Juscelino e de Jânio, sempre com arautos da
moralidade, entre os quais, o mais eloquente, à época, foi Carlos Lacerda.
Hoje, na falta de alguém com a
verve que tinha Lacerda, a mídia une-se e investe-se do dever cívico de delatar
os desmandos do governo federal, tomando o cuidado de não deixar claras as
responsabilidades estaduais e municipais.
Se não fosse uma questão de má
fé, poderia, até, passar por ingenuidade o embarque nesse discurso a respeito
da corrupção, como se fosse ferramenta exclusiva de um só grupo ou partido. É
hipocrisia falar do mensalão e se calar sobre a compra de votos que
possibilitou a reeleição do presidente Fernando Henrique, assim como noticiar as
estripulias em torno da Petrobras e se calar sobre o escândalo no metrô de São
Paulo. Uma coisa não justifica a outra, mas não é honesto abrir espaço apenas
para um dos lados do espectro político.
O critério da minha escolha não é
por um determinado nome e nem mesmo por um partido, mas, numa convicção muito
pessoal, pelo modelo que eu acredito para o desenvolvimento do Brasil. Na minha
forma de ver, o crescimento da economia do país não pode ocorrer em detrimento
da distribuição mais justa de renda. A diminuição da desigualdade social é mais
urgente que o crescimento econômico e uma coisa não garante a outra, todos
sabemos. Esta é a questão que deveria estar em discussão, pois é a clara
diferença entre as propostas dos dois grupos que vêm disputando o poder nos
últimos 20 anos.
Deixando a ingenuidade de lado, é
imperativo reconhecer que ambas as posições são legítimas e expressam, cada
uma, a maneira de pensar de uma parcela da nossa sociedade. Há os que acreditam
na necessidade de um estado que garanta igualdade de oportunidades para todos e
há aqueles que não têm esta preocupação, ou seja, que acreditam que cada um tem
que buscar o seu caminho, se virar. Há quem se incomode com a presença de
crianças pedindo esmolas nos semáforos e há os que só enxergam o interior de
seus carros quando estão parados num semáforo. Há quem tolere posições e formas
diferentes de pensar e há aqueles que só conseguem se comunicar com quem pensa
de forma semelhante. Enfim, há essa imensa divisão em nossa sociedade e é
natural que cada pessoa escolha quem representa seu posicionamento.
Entre as alternativas que eu
elenquei, no parágrafo acima, eu me posiciono sempre na primeira, em cada frase.
Por isso é que eu defini meu voto na continuidade de Dilma Rousseff na presidência
da república. Entendo que, dentre as possibilidades com alguma chance de
vitória, ela é a única que pode, minimamente, conduzir a sociedade na direção
que eu enxergo como correta. Acho absolutamente natural, entretanto, que
aqueles que pensam diferente de mim, ou seja, que optem pelas outras
alternativas, escolham o candidato Tucano.
2 comentários:
Arnaldo,
Gostei muito desse post. Concordo com você em relação à corrupção e em relação à distribuição de renda. O que me surpreende em relação a isso é que, mesmo com notícias importantes sobre isso (Brasil deixando o mapa da fome, desiguladade diminuindo - a passos pequenos, mas diminuindo), as pessoas ainda acham que essa é uma medida populista para ganhar votos.
Não sei se você chegou a ler uma matéria do El País Brasil sobre a "captação" de famílias pelo Bolsa Família: são pessoas tão pobres ou tão isoladas que sequer sabem que o benefício existe e que podem ser beneficiadas. Muitas não pediram porque não tem documentos e achavam que precisariam pagar para tirá-los. Esse tipo de coisa me faz ter fé, assim como as notícias de que muita gente já pediu para sair do Bolsa Família por considerar que não precisa mais do benefício.
Ainda assim, tenho muitas críticas ao governo do PT, especialmente sobre os temas que você mencionou mais acima no texto, como casamento gay e aborto. O governo é muito conservador nesse aspecto.
Nesse sentido, discordo de você: gosto que esses temas estejam em pauta, embora a posição dos três principais candidatos sejam bem similares em relação a eles. Todos conservadores.
Larissa, querida, eu acredito que estes temas que você citou devam estar em discussão durante todo o tempo e não somente no período pré eleitoral. Neste período, estes temas só servem de ferramenta para os conservadores disseminarem o ódio e acabam encurralando qualquer um dos candidatos para uma posição mais segura. Discordando de você, não é o governo que é conservador e sim a nossa sociedade. Isso só muda com uma discussão bem elaborada e com tempo para o debate. No momento imediatamente antecedente à eleição, este debate se extingue e dá lugar aos, sempre alertas, arautos da moralidade cristã, sempre ávidos para destilar seu veneno de intolerância.
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