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sábado, 18 de abril de 2015

Motivações do impedimento

A corrupção é um tema muito sério, ninguém duvida disso, mas tenho insistido que esta é apenas uma parte da reflexão que a sociedade tem que exercitar. Além do mais, este mote é antigo e já foi parte da estratégia política em diversos momentos de nossa história. Carlos Lacerda fez isso desde os anos 40 e a receita era simples e batida: foque as denúncias numa só uma direção, em apenas um partido ou determinado político, como se este ou aquele, fosse o inventor da corrupção no Brasil. Lacerda fez isso com Getúlio, com Juscelino, com Jango. Nunca conseguiu se eleger. Outros, entretanto, conseguiram, utilizando o discurso de limpeza, como Jânio e sua vassourinha e Collor com a fama de caçador de marajás. Em ambos os casos, vimos no que deu.

O que temos agora, é uma tentativa insistente, capitaneada pelo PSDB, de passar para a sociedade a ideia do impeachment. Foi a estratégia escolhida pelos tucanos. Para isso, conta com a poderosa ajuda da grande mídia.

Me pus, então, a refletir sobre qual é a verdadeira razão dos tucanos insistirem tão tresloucadamente nesta estratégia. A resposta é clara: eles não têm voto. Não tiveram em 2014 e não terão em 2018.

Muita gente pode imaginar que eles quase chegaram lá, que no 2° turno, apenas 3,46 milhões de votos deixaram Aécio distante de Dilma, mas o raciocínio é um pouco menos simplista. Se nos lembrarmos do 1° turno, veremos que enquanto Dilma teve 41,5% dos votos, Aécio teve 33,5%, ou seja, uma diferença de quase 9 milhões. No segundo turno, a majoração deveu-se muito mais ao antipetismo do que a uma preferência pela penugem tucana. Só continuou na disputa porque o PT, durante a campanha, decidiu concentrar em Marina Silva sua artilharia, ou seja, concluiu que seria mais difícil vencer a candidata acriana do que o mineiro.

Além do mais, devemos atentar ao fato de que o voto em Aécio, no 2° turno, foi extremamente multifacetado, indo desde a parcela da classe média descontente com os rumos do governo petista, até os radicais de direita que defendem a volta do regime militar, passando pelos homofóbicos, pelos racistas e outros exemplares desta diversa fauna que compareceu às manifestações de 15 de março. A percepção de que esta mistura é muito heterogênea, aliás, foi o que motivou o fracasso das manifestações de 12 de abril, quando a maioria da classe média ficou em casa, preferindo não se misturar com os radicais (no que fez muito bem).

Agora, vamos brincar de futurologia. Se Dilma continua no poder, com o PT bastante desgastado durante os próximos 3 anos, mesmo que Lula saia candidato, dificilmente conseguirá, no primeiro turno, mais do que os 30% de votos que tradicionalmente o partido tem. Podemos contar que Marina (se conseguir registrar seu partido) estará, novamente, na disputa e deve manter os 20 milhões de votos que conseguiu em 2014 e 2010. O PMDB deve lançar candidato próprio, possivelmente Eduardo Cunha, o que garante um grande contingente do eleitorado conservador (sobretudo os evangélicos). Além disso, tem Bolsonaro, que já declarou que sai candidato (embora não tenha partido, ainda), e que deve aglutinar a preferência dos radicais de direita, saudosos dos tempos em que a caserna é que mandava no Brasil. Por fim, o PSOL, que teve quase 2% de votos em Luciana Genro, deve crescer um pouco mais, principalmente se apresentar um candidato com propostas mais consistentes. Aí, basta fazer as contas. O que sobra para o PSDB é muito pouco.

Os tucanos sabem disso. Eles são profissionais da política e fazem contas. É um partido que tem caciques muito experientes (o que falta é índio), mas com grande dificuldade de seduzir as massas, já o disse, publicamente, Fernando Henrique. Além do mais, como se não bastasse o desgaste que a disputa interna entre Alckmin e Aécio deve gerar, qualquer uma das soluções deve levar José Serra para outro partido, provavelmente o novo PSD de Gilberto Kassab.

A saída do impeachment, portanto, foi a estratégia escolhida. Levaria o PMDB ao poder (seja com Michel Temer, seja com Eduardo Cunha), que ficaria desgastado nestes 3 próximos anos de governo e, com isso, os tucanos teriam alguma chance de ir para o segundo turno.

Taí: agora ficou mais fácil entender esta renitente insistência no impedimento da presidente do Brasil. Puro desespero de causa.


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