A corrupção é um tema
muito sério, ninguém duvida disso, mas tenho insistido que esta é apenas uma
parte da reflexão que a sociedade tem que exercitar. Além do mais, este mote é
antigo e já foi parte da estratégia política em diversos momentos de nossa
história. Carlos Lacerda fez isso desde os anos 40 e a receita era simples e
batida: foque as denúncias numa só uma direção, em apenas um partido ou
determinado político, como se este ou aquele, fosse o inventor da corrupção no
Brasil. Lacerda fez isso com Getúlio, com Juscelino, com Jango. Nunca conseguiu
se eleger. Outros, entretanto, conseguiram, utilizando o discurso de limpeza,
como Jânio e sua vassourinha e Collor com a fama de caçador de marajás. Em
ambos os casos, vimos no que deu.
O que temos agora, é
uma tentativa insistente, capitaneada pelo PSDB, de passar para a sociedade a
ideia do impeachment. Foi a estratégia escolhida pelos tucanos. Para isso,
conta com a poderosa ajuda da grande mídia.
Me pus, então, a
refletir sobre qual é a verdadeira razão dos tucanos insistirem tão
tresloucadamente nesta estratégia. A resposta é clara: eles não têm voto. Não
tiveram em 2014 e não terão em 2018.
Muita gente pode
imaginar que eles quase chegaram lá, que no 2° turno, apenas 3,46 milhões de
votos deixaram Aécio distante de Dilma, mas o raciocínio é um pouco menos
simplista. Se nos lembrarmos do 1° turno, veremos que enquanto Dilma teve 41,5%
dos votos, Aécio teve 33,5%, ou seja, uma diferença de quase 9 milhões. No
segundo turno, a majoração deveu-se muito mais ao antipetismo do que a uma
preferência pela penugem tucana. Só continuou na disputa porque o PT, durante a
campanha, decidiu concentrar em Marina Silva sua artilharia, ou seja, concluiu
que seria mais difícil vencer a candidata acriana do que o mineiro.
Além do mais, devemos
atentar ao fato de que o voto em Aécio, no 2° turno, foi extremamente
multifacetado, indo desde a parcela da classe média descontente com os rumos do
governo petista, até os radicais de direita que defendem a volta do regime
militar, passando pelos homofóbicos, pelos racistas e outros exemplares desta
diversa fauna que compareceu às manifestações de 15 de março. A percepção de
que esta mistura é muito heterogênea, aliás, foi o que motivou o fracasso das
manifestações de 12 de abril, quando a maioria da classe média ficou em casa, preferindo
não se misturar com os radicais (no que fez muito bem).
Agora, vamos brincar de
futurologia. Se Dilma continua no poder, com o PT bastante desgastado durante
os próximos 3 anos, mesmo que Lula saia candidato, dificilmente conseguirá, no
primeiro turno, mais do que os 30% de votos que tradicionalmente o partido tem.
Podemos contar que Marina (se conseguir registrar seu partido) estará,
novamente, na disputa e deve manter os 20 milhões de votos que conseguiu em 2014
e 2010. O PMDB deve lançar candidato próprio, possivelmente Eduardo Cunha, o
que garante um grande contingente do eleitorado conservador (sobretudo os
evangélicos). Além disso, tem Bolsonaro, que já declarou que sai candidato
(embora não tenha partido, ainda), e que deve aglutinar a preferência dos
radicais de direita, saudosos dos tempos em que a caserna é que mandava no
Brasil. Por fim, o PSOL, que teve quase 2% de votos em Luciana Genro, deve
crescer um pouco mais, principalmente se apresentar um candidato com propostas
mais consistentes. Aí, basta fazer as contas. O que sobra para o PSDB é muito
pouco.
Os tucanos sabem disso.
Eles são profissionais da política e fazem contas. É um partido que tem
caciques muito experientes (o que falta é índio), mas com grande dificuldade de
seduzir as massas, já o disse, publicamente, Fernando Henrique. Além do mais, como
se não bastasse o desgaste que a disputa interna entre Alckmin e Aécio deve
gerar, qualquer uma das soluções deve levar José Serra para outro partido,
provavelmente o novo PSD de Gilberto Kassab.
A saída do impeachment,
portanto, foi a estratégia escolhida. Levaria o PMDB ao poder (seja com Michel
Temer, seja com Eduardo Cunha), que ficaria desgastado nestes 3 próximos anos
de governo e, com isso, os tucanos teriam alguma chance de ir para o segundo
turno.
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