É bastante comum
utilizarmos os termos humano ou humanitário de forma positiva. Da mesma
maneira, quando classificamos alguém como desumano, estamos quase sempre
indicando uma atitude horrível. Credito este fenômeno a certa condescendência
exagerada com nossa espécie. É como uma puxada de brasa coletiva pra nossa
sardinha.
Se pensarmos bem (ah!
como é difícil pensar com isenção), ao mesmo tempo em que salientamos a
capacidade que o homem tem de ser solidário, carinhoso, altruísta e generoso,
deveríamos também reconhecer que, dentre os seres de todo o reino animal,
talvez sejamos o único exemplo capaz de escravizar, torturar e ser cruel com
outro da mesma espécie. Muitos animais utilizam a violência como forma de sobrevivência.
Para conseguir seu alimento, garantir seu espaço, perpetuar a espécie, diversos
exemplares da fauna terrestre são capazes de trucidar sua presa, mas nunca
veremos um leão matar um veado e abandonar a carne e nem uma gaivota tirar um
peixe do mar só para fazê-lo sofrer. Podemos dizer que, se fizessem isso, estes
animais estariam tendo atitudes humanas.
Entre os sentimentos
exclusivos dos humanos podemos citar a inveja e o ódio. Entre as atitudes que
somos capazes de tomar, talvez a mais vil seja a vingança. Sim, por que a
vingança é a maldade praticada apenas pelo fato de termos sido, também, vítimas.
É a vingança que faz com que legitimemos nosso algoz, dando a ele a
justificativa para ter sido cruel conosco, ao mostrarmos que somos capazes de ser
como ele é, muito mais do que somos capazes de perdoar.
E é justamente sobre a
vingança que trata o ótimo filme Relatos
Selvagens. Produção conjunta entre Argentina e Espanha, o filme é ágil e
perspicaz. São 6 histórias muito rápidas que prendem a atenção do espectador
durante todo o tempo e, apesar do tema ácido e também da violência das cenas, é
um filme muito engraçado. Como se isso não bastasse, tem Ricardo Darín em seu
elenco, sem dúvida nenhuma o melhor ator latino-americano dos dias atuais.
Nenhuma das histórias é
ruim, o que vai fazer com que cada um que assistir ao filme tenha a sua
preferida. Dirigido pelo argentino Damián Szifron, criador da excelente série Los Simuladores, de 2002 que,
lamentavelmente fez pouco sucesso quando exibida no Brasil, o filme mostra como
o cinema argentino está mais evoluído do que o brasileiro, na atualidade.
É duro reconhecer, mas
além da superioridade da carne e do futebol, temos que engolir o fato de que o
cinema dos hermanos é muito mais
instigante do que o nosso. Isso dá uma certa raiva, motivada por alguma inveja.
Dois sentimentos absolutamente humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário