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sábado, 11 de abril de 2015

Selvageria

É bastante comum utilizarmos os termos humano ou humanitário de forma positiva. Da mesma maneira, quando classificamos alguém como desumano, estamos quase sempre indicando uma atitude horrível. Credito este fenômeno a certa condescendência exagerada com nossa espécie. É como uma puxada de brasa coletiva pra nossa sardinha.

Se pensarmos bem (ah! como é difícil pensar com isenção), ao mesmo tempo em que salientamos a capacidade que o homem tem de ser solidário, carinhoso, altruísta e generoso, deveríamos também reconhecer que, dentre os seres de todo o reino animal, talvez sejamos o único exemplo capaz de escravizar, torturar e ser cruel com outro da mesma espécie. Muitos animais utilizam a violência como forma de sobrevivência. Para conseguir seu alimento, garantir seu espaço, perpetuar a espécie, diversos exemplares da fauna terrestre são capazes de trucidar sua presa, mas nunca veremos um leão matar um veado e abandonar a carne e nem uma gaivota tirar um peixe do mar só para fazê-lo sofrer. Podemos dizer que, se fizessem isso, estes animais estariam tendo atitudes humanas.

Entre os sentimentos exclusivos dos humanos podemos citar a inveja e o ódio. Entre as atitudes que somos capazes de tomar, talvez a mais vil seja a vingança. Sim, por que a vingança é a maldade praticada apenas pelo fato de termos sido, também, vítimas. É a vingança que faz com que legitimemos nosso algoz, dando a ele a justificativa para ter sido cruel conosco, ao mostrarmos que somos capazes de ser como ele é, muito mais do que somos capazes de perdoar.

E é justamente sobre a vingança que trata o ótimo filme Relatos Selvagens. Produção conjunta entre Argentina e Espanha, o filme é ágil e perspicaz. São 6 histórias muito rápidas que prendem a atenção do espectador durante todo o tempo e, apesar do tema ácido e também da violência das cenas, é um filme muito engraçado. Como se isso não bastasse, tem Ricardo Darín em seu elenco, sem dúvida nenhuma o melhor ator latino-americano dos dias atuais.

Nenhuma das histórias é ruim, o que vai fazer com que cada um que assistir ao filme tenha a sua preferida. Dirigido pelo argentino Damián Szifron, criador da excelente série Los Simuladores, de 2002 que, lamentavelmente fez pouco sucesso quando exibida no Brasil, o filme mostra como o cinema argentino está mais evoluído do que o brasileiro, na atualidade.

É duro reconhecer, mas além da superioridade da carne e do futebol, temos que engolir o fato de que o cinema dos hermanos é muito mais instigante do que o nosso. Isso dá uma certa raiva, motivada por alguma inveja. Dois sentimentos absolutamente humanos.



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