Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 25 de março de 2007

Saudade de conversar

Com essa história de grandes lojas de livros e CDs, como a FNAC e a Mega Store Saraiva, encravadas nos shopping centers, quase me esqueci das pequenas livrarias e lojas de disco que me davam tanto prazer freqüentar na minha juventude. Sou de um tempo em que a livraria Cultura era uma lojinha pequena no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, onde eu ficava fuçando nas prateleiras, enquanto matava aulas no cursinho.

Lembro-me também da discoteca Merci, em São Bernardo, que eu visitava toda semana, atrás das novidades e onde eu comprei a maior parte dos meus discos de vinil. Lá, eu conversava com o dono da loja, pedia coisas difíceis de encontrar e ele ia sempre atrás. De tanto freqüentar a loja, ele sabia o que eu gostava e ficava me mostrando as coisas novas que chegavam. É daquela época esta minha incapacidade de me controlar quando entro numa dessas lojas, o que faz com que meu orçamento esteja sempre numa corda bamba. É difícil sustentar esse vício. E, pra piorar, a Clélia sofre do mesmo mal e do mesmo vício.

Nessas super lojas de hoje, a gente não conversa com ninguém. Quando não se encontra algum livro ou CD, há aquelas máquinas onde se pode fazer a pesquisa pelo nome do artista ou pelo título. Às vezes, mesmo assim, não conseguimos encontrar o que queremos. E quando se pede ajuda ao funcionário, ele, invariavelmente, vai até a máquina, mesmo que você diga, em alto e bom som, que já pesquisou. Não adianta. Ele faz isso assim mesmo. Faz parte do procedimento. Terminada a consulta, ele diz que não tem o produto. Se não tá no sistema, não tem jeito. Justiça seja feita, na FNAC, ainda é fácil encomendar o que você não encontrou.

Mas o que eu sinto falta mesmo é de conversar com o livreiro, de trocar informações com o balconista da discoteca. É de interagir!

Em Campinas, a livraria Pontes ainda guarda um pouco desta característica de que eu tenho tanta saudade. Mas onde eu me realizo mesmo é na loja de discos Iluminações, na rua José Paulino, n° 1474. Lá, o Carlos sempre tem uma porção de dicas e opiniões pra me dar, baseado em tudo o que eu já comprei na loja. E nesse final de semana, foi lá que eu vi que saiu, em CD, uma série de velhos discos da gravadora Odeon e da gravadora Eldorado. Acabei comprando vários discos que eu tinha em vinil e que adorava. E não só dessas duas coleções, achei outros que não pestanejei em comprar, assim que os vi na prateleira:

Theo de Barros – Primeiro disco

Apesar de ser parceiro de Geraldo Vandré na canção Disparada, este grande compositor e arranjador nunca foi reconhecido pela mídia e pelo grande público como deveria. Neste disco, há uma série de obras instrumentais e algumas canções em que ele canta com sua boa voz.


Antonio Adolfo – Feito em casa

Este pianista e arranjador sempre atuou como coadjuvante, como muitos músicos ótimos, e este disco, cujo título é também o da primeira faixa, foi uma das primeiras experiências de produção independente, numa época em que era praticamente impossível lançar um disco sem se submeter à ditadura das grandes gravadoras, todas multinacionais. Ele resolveu bancar a parada e assumir o risco de gravar, divulgar e vender o disco sem depender da estrutura de uma grande empresa. O resultado foi ótimo, pelo menos em termos musicais.


Luiz Melodia – Coleção sucessos
Apesar de eu não gostar de coletâneas, este disco tem algumas coisas especiais. Começa com uma gravação de Codinome beija-flor que, em minha opinião, é muito melhor que a gravação do Cazuza, que fez tanto sucesso. Tem A voz do morro, de Zé Kéti e a minha preferida, Onde o sol bate e se firma, uma canção que foi gravada pela Olívia Byington num disco super antigo.


Boca Livre – Em concerto

Este disco, desse conjunto vocal que eu sempre gostei, já sem o Cláudio Nucci e com o Lourenço Baeta, foi gravado ao vivo em 1989. Tem coisas interessantíssimas como uma versão a capela de Cheek to Cheek de Irving Berlin, Uma linda interpretação de Azul da cor do mar do Tim Maia e tem João Balaio, uma versão para o português muito louca do João Bosco.


Paulinho Nogueira – Água branca

Este violonista tem uma obra pequena mas muito especial. Ele ficou conhecido do público por ter sido o professor de violão do Toquinho. Isto lhe trouxe alguma notoriedade e um pouco de dor de cabeça, pois muita gente se matriculava em suas aulas e não se conformavam em não conseguir atingir o nível de qualidade de seu aluno mais célebre. Neste disco, há bonitas canções como Coração de strass que também foi gravada pela desaparecida Rosa Maria.

Enfim, foi um final de semana musicalmente nostálgico. Agradavelmente nostálgico.

19 comentários:

Telejornalismo Fabico disse...

*



aqui em porto alegre a gente tinha muitas pequenas livrarias. e depois de entrar pela terceira vez seguida, era inevitável que o vendedor te conhecesse.
houve uma baixa nos anos 90, mas agora a gente encontra muitas soltas pela cidade.
mas uma coisa não posso negar: a cultura daqui é extremamente agradável, e a gurizada adora puxar um papo e contar o que leu.
mas meu grande fascínio tá no sebos. achar aquela edição rara no meio das tranqueiras ainda me fascina.
escrevi um post esses tempos sobre um livro que procurava há vinte anos. a sesação de pegar ele nas mãos é idescritível.




*

Anônimo disse...

Arnaldo, me de imensas saudades da minha Campinas querida...qdo estive ai em outubro fui buscar os sebos pois queria trazer para espanha alguns livros que eu tinha lido qdo era adolescente pois minha filha de 17 anos me pediu...te garanto que perdi pelo menos 4 horas nos sebos do centro..entre tantas coisas parece que tinha voltado no tempo...aqui em Espanha ainda se conservam algumas lojas, livrerias assim que te sentes como se te conhecessem de toda vida...Este post me trouxe muitas saudades...
Parabens pelo texto, esta otimo

Um abraço carinhoso para ti e um beijinho carinhosos para Clelia do outro lado do oceano

Anônimo disse...

Quando adolescente, amava entrar em lojas de discos - na rua do Catete tinha uma que era deliciosa, sem contar que o vendedor era gatinho - e ficar fuçando. Agora perdi o hábito. A verdade é que muita coisa baixo na internet... o que não tem a mínima graça. :-\

Anônimo disse...

Eu tenho em vinil esse disco do Théo de Barros! Fiquei feliz em saber que saiu em CD! É foooooda!

Clélia Riquino disse...

Recebi o beijo, Adriana... mando outro pro 'cê!

Vivien Morgato : disse...

A livraria mais antiga de campinas fechou há quase vinte anos, era bem perto da catedral, sempre tinha promoções incriveis.

Clélia Riquino disse...

Qual era o nome desta livraria, Vivien? Perto da catedral, na Av. Francisco Glicério? Localize-me...

Vivien Morgato : disse...

Clélia, não me lembro do nome: ficava quase na esquina do Convívio, ali no largo da catedra. Na Glicério. Nas últimas vezes que fui lá, ainda estava no ensino médio, logo, ainda era no paleozóico....
Um dos - muitos - livros que comprei lá, baratíssimo, foi um do Herbert Daniel, um dos mais interessantes que li sobre sobre a ditadura.Acho que se chamava Depois daquela viagem, ou algo assim...acabei dando de presente, mas foi importante ter lido.

Vivien Morgato : disse...

Correção: Passagem para o próximo sonho.Esse é o título correto.

Clélia Riquino disse...

Vivien,

Queria me lembrar desta livraria, pois morei em Campinas nos anos 70/80. Lembro-me da Pontes (na Dr. Quirino), Papirus (na Sacramento, próxima à PUCC); da Doceria Términus (embaixo do hotel de mesmo nome), na Fc° Glicério; da casa do pão de queijo, na Irmã Serafina, próxima à esquina com a Gal. Osório, em frente à praça do coreto. Era delicioso!

Vivien Morgato : disse...

A última vez que comprei lá, e quando foi fechada, eu trabalhava na Fininvest: ficava em frente, atravessando a Glicério.
Acho que hoje é uma lanchonete, mas não tenho certeza.

Clélia Riquino disse...

Qdo passar por lá, tentarei lembrar...

Jô Beckman disse...

Aqui em são paulo tem uma livraria na Vila Madalena que gosto muito chamada "Livraria da Vila" não é das menores, mas é charmosa...vale à pena... Pena que vc não vai encontrar nenhum vinil por lá...hehe
abraço

Anônimo disse...

olá, arnaldo, belo post, muito bom! aproveitp pra avisar que vamos fazer show no sesc pompéia dias 7 e 8, Arranco de VArspovia e Danilo Caymmi cantando só sambas do Dorival. Que tal aparecer pra gente se conhecer? Eu adoraria! beijos pra vc

Arnaldo Heredia Gomes disse...



Conheço esta livraria, na Vila Madalena. Na verdade, achei meio esnobe, com atendimento um tanto pernóstico.

Pertinho dessa região, em Pinheiros, eu gostava da Edgar discos, que não existe mais (na qual o filme Durval discos foi baseado) e gostava também do Sebo de Elite, na rua Lisboa. Esse eu não sei se existe ainda.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Andrea,

Estamos pensando, eu e a Clélia, em ir assistir esse show. Aí, quando terminar, eu vou até você e falo, com a maior cara de besta: " Oi Andrea, eu sou o Arnaldo".

Clélia Riquino disse...

Gosto bastante do atendimento da livraria CULTURA, no shopping Villa-Lobos, em São Paulo. Tanto na área de livros, qto na de CDs, especialmente o setor de clássicos, jazz & instrumental, em geral, que o cara manja tudo! Nem precisa procurar no "sistema"... A disposição dos livros acho um tanto complicada. Sempre me perco (ou não me acho!). Mas basta perguntar, pelo título ou autor, que algum vendedor, solícito e "inteirado" do assunto, nos indica a prateleira certa. Há tb um esquema de encomenda, no qual você solicita o livro, paga, com antecedência e o recebe em casa. Já fizemos isso e foi bastante eficiente. Só não me lembro se houve taxa de frete (por morarmos em Valinhos). A FNAC (Campinas) tb tem um esquema legal de encomenda. Ligam qdo chega o livro e te dão um prazo de alguns dias pra retirá-lo na loja (não há pagamento antecipado da mercadoria, portanto, pode-se desistir dela, caso queira).

Clélia Riquino disse...

Freqüentei a Merci, com você, na época em que ainda namorávamos, e lembro-me bem do Sérgio, dono da loja, que lhe atendia. Na nossa estante de vinis, há mtos deles com o selo de lá. Qdo os CDs tomaram conta do mercado, ela transferiu-se pr'um shopping, num pequeno espaço, e perdeu todo o glamour! Além da presença do Sérgio, substituído por seu irmão, que não tinha, como ele, conhecimento e interesse por música.

Anônimo disse...

oba!!! vou adorar te ver por lá! assim, mesmo, oi, arnaldo, eu sou a andrea! bj