Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Criatividade e sabedoria

Lendo o blog da Cláudia, lembrei-me de uma passagem que aconteceu comigo muito parecida com o que ela contou no seu último post. Eu ia fazer um comentário lá, mas começou a ficar muito longo. Virou um post. Está esperando o que? Vá lá ler o post dela e depois você volta aqui...

Pois é. Isso aconteceu quando eu estava no colégio. Nas aulas de português, havia uma tarefa chamada expressão oral. Acho que era uma vez por semana. Tínhamos que escolher um tema e nos apresentar na frente da turma, utilizando a lousa e expondo o assunto escolhido por 15 minutos. Dava pra haver entre 3 e 4 apresentações. No início da aula, a professora sempre perguntava se havia algum voluntário que quisesse apresentar seu tema. Desnecessário dizer que após essa pergunta fazia-se um silêncio sepulcral na sala. O próximo passo era o sorteio. E aí, 3 ou 4 felizardos tinham que expor suas apresentações naquele palco.

Eu nunca preparava nada. Numa classe com mais de 40 alunos, eu sempre contava que a teoria das probabilidades estaria ao meu lado e eu nunca seria sorteado. E isso sempre deu certo, até o fatídico dia em que fui sorteado. Gelei. Não tinha nada preparado, evidentemente. E aí, eu tinha duas opções. Eu podia dizer que não havia preparado nada e com isso levaria uma nota zero, além de servir ao escárnio de toda a turma. A outra opção seria exercitar a minha cara de pau e criar na hora, um tema e uma apresentação. Escolhi a segunda opção.

No caminho que vai do fundo da sala até a beira da lousa eu inventei o tema. Chegando na frente dos alunos eu anunciei o assunto: Vou falar sobre energia solar.

Eu não tinha a menor idéia de como se gera, armazena, transmite e utiliza energia solar. Eu só tinha uma certeza. Se eu, estudante de um curso técnico em eletrônica, não sabia isso, a professora de português saberia menos ainda. E aí, comecei a divagar. Nenhum dos meus colegas entendia do assunto. A única coisa que eles sabiam era que eu estava falando um monte de besteiras. E olhando pra cara da professora, ficou claro que ela estava engolindo aquele blá, blá, blá. Ficou claro pra mim e pra turma toda, que numa generosa demonstração de corporativismo, evitava a todo custo cair em gargalhada com as bobagens que eu dizia. Mas como generosidade tem limite, o pessoal resolveu participar da farra e começou a me bombardear com perguntas. E eu comecei a respondê-las, cada vez com mais convicção.

Explquei como se construíam as placas coletoras de energia e que, através de orifícios redondos o sol passava e incidia numa superfície sensível à luz e ao calor. Dei detalhes construtivos da placa coletora e informações técnicas sobre o material da superfície fotossensível. Usei a lousa com maestria pra ilustrar cada explicação que eu dava. E aí, veio a pergunta crucual, proferida por meu melhor amigo: Como é que se gera a voltagem de 110 volts e a de 220 volts? Não tive dúvidas e respondi sem pestanejar. Muito fácil. Basta fazer alguns furos com diâmetro pequeno e outros com o dobro da medida.

Levei um dez. Pelo total domínio do assunto e por ter conseguido gerar tanto interesse na platéia. Às vezes, a criatividade vale mais que a sabedoria.

17 comentários:

Anônimo disse...

Maravilha, Arnaldo! Que maravilha! Eu acho que não conseguiria, por conta da timidez de falar em público, inventar uma história dessas e bancar até o final. Mas no meu trabalho de conclusão de curso - um livro-reportagem - consta o prefácio de um importante sociólogo chamado Aluísio Möel, a quem eu e meu grupo dedicamos à obra. Mas o fato é que Aluísio Möel simplesmente não existe, foi uma criação nossa para mostrar que ninguém deve levar tão à sério a universidade. A banca examinadora, como prevíamos, elogiou o prefácio do "professor Möel" e nos parabenizou por ter conseguido que tão nobre personalidade do mundo acadêmico - um pensador tão requisitado - escrevesse algumas linhas para apresentar nossa tese!

Marcia disse...

mas que patife. :P

Vivien Morgato : disse...

Meu curso não tinha ênfase em História Antiga e o professor era um cara, no mínimo, "duvidoso".
No encerramento do semestre, ele recebeu o trabalho escrito e fez uma pequena entrevista sobre os temas discutidos.
Me perguntou sobre a reunificação da Mesopotâmia: falei um tempão sobre poder,estratégias de dominação e de geopolítica....dizendo como tinha sido importante esse movimento de unificação.
Só teve um "probleminha"....essa reunificação NUNCA aconteceu. Ele me disse isso, diante da minha cara de tacho.Ops!

Anônimo disse...

Adorei! Do jeito que eu dou risada à toa, já pensou se eu fosse um dos seus amigos na sala? Teria acabado com sua atuação!

Eu sempre fui meio cdf... Aquela que levtandava a mão quando a professora perguntava se havia algum voluntário!

Telejornalismo Fabico disse...

*


não é a toa que virou engenheiro.
tenta, se não colar, tenta de novo.
uma hora a probalidade faz cai na alternativa certa.
:p



lousa?
pô, até eu que sou véio já usava quadro negro.



*

Graziana Fraga dos Santos disse...

me diverti muito
mas nunca cosnegui ser assim, até hoje me preparo pras aulas, bem organizada...heheheheh
ha, e quando não me preparo sou sempre apontada pela professora pra falar, nunca consigo enrolas bem ;)

Diego Moreira disse...

Arnaldo, eu era um garoto extremamente tímido na infância. Caso fosse colocado numa situação como essa eu jamais "exercitaria a cara de pau", como vc disse. Levava o zero, sem dúvida. Era gloriosamente sacaneado pelos colegas mas não conseguia inventar esses troços.
Até o dia em que eu, sem ter preparado picas pra um trabalho de grupo, tive que apresentar os fundamentos macroeconômicos da crise financeira do méxico ocorrida em 1994. E isso foi em 1995, numa aula de geografia da sétima série.
O bicho pegou e eu tinha que falar...
Passei os olhos rapidamente pelos cartazes elaborados pelo grupo tentando extrair algo que eu conseguisse entender e repoduzir.
Falei, na cara de pau, e deu certo. A timidez já era.
Passei a fazer os trabalhos assim. Só parei quando comecei a dar aulas. Aí o bicho pegou pois quando os alunos carregam as armas e disparam as perguntas, não dá pra deixar pra depois. É na hora ou nunca mais!
E hoje sei que tenho alguns alunos que são exatamente como você, Claudia e eu fomos nos tempos de escola...
Bacana esse texto.

Abraços!

Senhora disse...

Eu também já passei por isso. De ir lá na frente falar sobre um assunto.
E foi através desses sorteios nada espontâneos que comecei a gostar de falar em público. Apesar de ser tímida, eu me transformava. E falava, falava, sem ter noção do conteúdo. Bons tempos!

Anônimo disse...

Arnaldo, você é muuiiitooo mais talentoso do que eu, sem dúvida!!! Hauahauhauhaua... Se bem que... hum... aconteceram alguns lances parecidos com esse seu em minhas aulas de filosofia no ensino médio (coisa odiosa aula de filosofia no ensino médio, viu!). Mas você foi perfeito! E sua turma foi maravilhosa! Aposto que todos contam isso até hoje.

Ps - Valeu pelo link!

Clélia Riquino disse...

Acertou em cheio, Claudia! Nos encontros dos 5 etianos, como são carinhosamente chamados, esta história, vira-e-mexe, vem à tona! Entre outras... hilárias!

Clélia Riquino disse...

Bá,

Você, certamente, destruiria a performance do tio Arnaldo!!!

Clélia Riquino disse...

Não, não tenho, nem nunca tive, cara-de-pau e criatividade tamanha!!! Mas você é um ótimo argumentador, dizendo verdade ou mentira. É sempre convincente... Até qdo a gente tenta falar em outra língua (inglês ou espanhol), você sempre diz: invente, fale errado, mas com convicção!

PoDrE disse...

Põ....qiria sabe enrola minha sora assim...

Cily disse...

Olha, não sei qual dos dois leva o troféu: você ou a Mamy!!
Adorei o post e o blog.

Abraços

Anônimo disse...

Nossa, a Claudia tinha razão, vc foi mesmo criativo... e CORAJOSO, hehehe!

Que bom que vc tinha essa cumplicidade com a sua turma. Se fosse a minha classe dos tempos de escola, eles jamais perderiam a chance de rir bem alto das minhas besteiras e da minha cara! Ainda mais se a grande piada terminasse com uma nota zero pra mim! O.o

Abraço!

Rosamaria disse...

Oi, Arnaldo! Com licença.

Depois de muito passear por aqui, hoje estou tendo coragem de comentar. Adoro visitar vcs, pessoas que escrevem tão bem! Vim através da Clélia, por quem tenho grande admiração.

Teu baú é 10! Eu tenho um, cheio de roupas. Tranqueiras que trocaria com muito prazer pelas tuas.

Eu nunca faria o que vcs fizeram! Sempre fui muito tímida, podia dançar, cantar com as outras, mas falar nunca.

Meu blog é de uma dona de casa, sem nenhuma pretenção, mas ficaria feliz com tua visita.

Um abraço.

Beatriz Fontes disse...

Obviamente, não lembro da história que vou contar. Mas reza a lenda que eu, aos 2 anos de idade, tapeei minha avó para lavar as mãos no banheiro de cima.

Dizia ela o seguinte: eu estava passando o dia com ela e cheguei com as mãos sujas dizendo "Qué lavá mão". E ela disse: "Claro, vamos ali na pia". E eu: "Não. Cima!" e apontei para cima. E ela: "Não, vamos lavar ali na pia mesmo". E eu disse: "Então, não qué". E fiquei dando voltas em torno da mesa de jantar.

Até que cheguei pra ela e disse: "Qué fazê xixi". E ela: "Tá bem. Onde está sem peniquinho?" E eu respondi: "Cima!" Ela dizia que, no meio da escada, ainda pensou que era uma jogada minha, mas... "Ah, esse tiquinho de gente não ia pensar numa coisa dessas".

Chegando ao banheiro de cima, ela foi logo em direção ao tal penico. Mas eu, já na pia, disse: "Xixi, não. Qué lavá mão". ;-)