Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Fama e sucesso


Há artistas que tentam e nunca conquistam a fama. Muitas vezes exibem talento, fazem escolhas corretas, mas não emplacam. Parece que alguma coisa emperra o processo, entorta a trajetória. Há outros que não buscam a fama. Fazem tudo direito, criam espaço, mas não o ocupam, por absoluta falta de interesse pela coisa de ser celebridade. Não sei em qual dos dois casos se encaixa a cantora Célia. Afinal, ela tem uma voz bonita, de ótima qualidade, um repertório bastante correto e já está na estrada há mais de 30 anos. Nunca, porém, ocupou um lugar de destaque na nossa música. Nunca teve espaço na mídia, apesar de ter gravado 10 discos em sua carreira. Um deles, aliás, o penúltimo, foi há 7 anos, chamado Pra fugir da Saudade, junto com o também ótimo Zé Luiz Mazziotti, cantando sambas de Paulinho da Viola.

Pois acaba de sair um novo disco de Célia, acompanhada do violonista Dino Barioni, chamado Faço no tempo soar minha sílaba. O título é um verso da canção Muito 
Romântico, de Caetano Veloso, que fez muito sucesso numa gravação excelente de Roberto Carlos. Eu me atrevo a dizer que essa gravação de Célia é muito melhor. É a primeira faixa do CD.



Este disco tem participações de Dominguinhos, Lucinha Lins e Zélia Duncan. Tem ainda Beth Carvalho cantando Pressentimento de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho, um dos sambas que eu mais gosto.

Seja por falta de sorte, seja por falta de interesse, o fato é que apesar de não ter fama, Célia teve sucesso, em sua carreira. E é muito importante saber diferenciar claramente essas duas coisas. Pois enquanto a fama tem a ver com a notoriedade, com o aplauso das multidões, com o reconhecimento no meio da rua, com a revista Caras, o sucesso tem a ver com a satisfação de fazer uma coisa bem feita. Fazer algo a que se propôs com correção e dignidade. Mesmo que quase ninguém perceba.

7 comentários:

Diego Moreira disse...

Muito boa essa diferenciação entre sucesso e fama, Arnaldo.
Sempre pensei assim sobre essa questão.
Pessoalmente prefiro ter sucesso do que fama.
Abraços!

Anônimo disse...

Eu acredito demais na sorte e no azar. É claro que certos artistas não buscam mesmo a fama - é o caso do ótimo violeiro Paulo Freire, um senhor instrumentista, que optou por levar uma vida simples e correta, fazendo sua arte ao lado de grandes craques da MPB, mas sem apelar para a notoriedade. Mas, à parte isso, creio na sorte e no azar como elementos imprescindíveis na definição dos rumos de uma carreira artística. É o caso de Clementina de Jesus, por exemplo. Se Herminio Bello de Carvalho não a ouvisse cantar um ponto de macumba no quintal de casa - ele perdeu o ônibus e estava voltando a pé - talvez o Brasil nunca tivesse ouvido cantar Clementina. Mas Herminio a chamou e produziu seu primeiro disco. Sorte pura. Quantos letristas do nível de um Hermínio estão por aí, escondidos, esperando que um cantor com visibilidade os grave? E de repente alguém que não tem esse talento todo - mas que é amigo do amigo do artista famoso - consegue emplacar uma faixa no CD e pronto, vira o letrista do momento. Tudo está por um fio na vida, eu creio muito na ilógica do tempo e espaço. Estar na hora certa, no lugar certo, conta tanto ou mais do que o talento.

Em tempo: adoro "Muito Romântico" e acho improvável que alguma gravação consiga superar a do Rei Roberto.

Vivien Morgato : disse...

Eu sou fã dos seus textos, Arnaldo: seu raciocínio é límpido, seu texto é ótimo.
OU seja, seu blog é um sucesso.;0)

Anônimo disse...

adorei sucesso X fama. vou copiar. eu sou essa! ahahhaah beijos pra vc

Anônimo disse...

Perfeito, Arnaldo!!! E que voz tem Célia!!! Lindo, lindo, lindo... claaaarooo que "Muito romântico" ficou muito mais lindo com ela cantando. Você disse tudo: essa mulher tem sucesso. Então... pra que fama?

Anônimo disse...

Concordo. A Célia é ótima, mas a mídia tem os seus eleitos e os seus preteridos, e ela está definitivamente no segundo caso. Há também os que já tiveram sucesso popular e foram abandonados pela mídia, como Belchior, Geraldo Azevedo (de quem sou fã) e muitos outros.
Enfim, quem não é escolhido pela mídia não existe, a não ser para um público reduzido, que não tem preguiça e vai atrás das coisas boas onde elas estiverem. Esse é o nosso caso.
Abraço.
Bap

Graziana Fraga dos Santos disse...

não tinha ouvido ela ainda, ouvi, adorei ;)
vou procurar saber mais, obrigada ;)