Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Bossa & Jazz

Antes da Bossa Nova, a música brasileira que tocava no rádio era mais triste. Não era pior. Longe disso. Eram ótimos os tangos, polcas, boleros e sambas cantados por Orlando Silva, Silvio Caldas, Nelson Gonçalves ou Cauby Peixoto. Só que era uma música mais dramática. A Bossa Nova surgiu pra reagir a essa dramaticidade. E a reação, na verdade, veio até um pouco antes. Gente como Dick Farney, Lúcio Alves ou Johnny Alf, estava enjoada daquela coisa de “ninguém me ama, ninguém me quer”. Eles queriam algo diferente, algo mais moderno. E o que havia de mais moderno, na época, vinha dos Estados Unidos. Vinha nas vozes de Ella Fitzgerald ou Sarah Vaughan, e nas canções de Cole Porter, Irving Berlin ou os irmãos Gershwin. A modernidade vinha, sobretudo, na voz de Frank Sinatra.

Foi no início dos anos 1950, pouquinho antes do surgimento da Bossa Nova, que foi fundado, no Rio de Janeiro, o Sinatra-Farney Fã Clube. Presidido pelo diretor de cinema Carlos Manga, reunia músicos e aspirantes em torno deste tipo de música. Tinha carteirinha e tudo. E entre os que o freqüentavam, dois músicos bem jovens: João Donato e Paulo Moura.

50 anos depois, numa festa na casa de Manga, surgiu a idéia de juntar estes dois esplêndidos músicos num CD, com o repertório das canções que se tocava no clube. E pra homenagear o anfitrião, batizou-se o disco de Dois panos para Manga.

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Donato e Moura têm muito em comum. Mas a principal característica de ambos é a extrema criatividade, seja nos arranjos, nas composições, nos improvisos. E este disco nos brinda com essa união. Uma feliz combinação. Piano e clarinete. Preto e branco. Bossa Nova e jazz. As músicas foram gravadas de forma tão simples e natural, que parece até um descompromissado sarau na sala de casa. Uma delícia de se ouvir.

Um detalhe à parte é o caprichado encarte, onde, em meio a fotos tiradas no tradicional hotel Copacabana Palace, somos presenteados com a transcrição de uma deliciosa conversa entre os dois. Enfim, um disco para ler e ouvir. E se deliciar.

2 comentários:

Branco Leone disse...

Sensacional essa pré-história da Bossa Nova. Eu, filhote do rock, só conheci Paulo Moura há poucos anos, num evento chamado Um Sopro de Brasil, e mesmo assim porque fui eu a fazer a programação visual gráfica do espetáculo. Entre outras maravilhas que pude assistir, uma das que mais me impressionou foi ele e sua clarineta de "prástico", sozinhos no palco. E olha que tinha Spock Frevo no programa. Coisa de louco.
Obrigado pelo comentário lá na cozinha. Sim, vou falar dos chinchulines.

Diego Moreira disse...

Os caras da antiga tinham vozes potentes. Orlando Silva, Caldas, Cauby, e Nelson Gonçalves cantando juntos explodiriam qualquer auto-falante!

Já os caras da bossa nova chegam com voz miudinha... um "comportamento anti-musical". Fazendo harmonias complexas, melodias enfeitadas e dizendo "que no peito dos desafinados também bate um coração".

Apesar de termos bebido em fontes 'yankees' no movimento da bossa nova, creio que, de certa forma, a ordem da famigerada globalização foi subvertida pela bossa nova pois entendo que ela influenciou mais o jazz do que este à bossa nova.

No mais, representa uma contribuição além para o mosaico cultural brasileiro, incomparável e infinitamente mais rico do que o fashion-hollywood-enlatado-fast-food dos caras lá do norte.

Abração!