Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 22 de setembro de 2007

Muita cana


É uma viagem de carro entediante, já que, depois de passar por Limeira, a paisagem que a rodovia Anhanguera nos oferece é imutável. É cana-de-açúcar dos dois lados. E foi assim até chegar em Sertãozinho, pouco depois de Ribeirão Preto. E aí, alguém há de me perguntar: E que diabos você foi fazer nessa cidade?

É que aconteceu lá, nessa semana, a Fenasucro 2007, a feira de negócios do setor sucro-alcooleiro que ocorre anualmente naquela cidade desde 1993. É uma exibição de toda a tecnologia que hoje está disponível para a extração do açúcar e álcool, hoje tão valorizado no mercado mundial.

Você anda pela feira e cheira dinheiro. Este mercado está hiper aquecido e tem muita gente investindo pesado, buscando aumentar a eficiência das usinas e garantir um lugar de destaque nesta festa que se anuncia. O ponto positivo é que toda essa tecnologia tende a diminuir a exigência de trabalho manual no processamento do que se extrai da cana-de-açúcar. Isso é bom, já que esse trabalho, historicamente, sempre foi bastante perigoso e insalubre. Desde a época dos escravos, este trabalho com a cana provoca muitos acidentes nos trabalhadores.

E passear pelos corredores da feira me levou a pensar no mundo em que estamos vivendo.

O lado mais negro do capitalismo tem a ver com a sua incapacidade de promover justiça social, já que o sistema é baseado num modelo que privilegia a competição, possibilitando o sucesso de poucos, em detrimento do bem-estar de toda a população. A derrocada de qualquer outro sistema econômico já testado no mundo faz o senso comum concluir que o capitalismo é o único capaz de se manter em pé. Mesmo que isso seja verdade, o que não é seguro afirmar, não quer dizer que seja o melhor. E certamente não é o mais justo.

O lado bom do capitalismo é a velocidade com que ele promove os avanços tecnológicos. E a vantagem que a tecnologia traz é substituir a necessidade de mão-de-obra braçal por outra mais especializada. Com isso, a tecnologia, tende a corrigir, ao menos parcialmente, o estrago que esse sistema econômico provoca na humanidade. Mas para isso é necessário que haja algum mecanismo que garanta que os benefícios tecnológicos estejam ao alcance de toda coletividade. E esse é um papel que somente o estado pode desempenhar.

É por isso que a faceta mais cruel do sistema capitalista é o liberalismo, que apregoa que todos os desequilíbrios, sejam econômicos, sejam sociais, podem ser resolvidos pelo mercado. Não podem. O mercado tem uma atitude cruel. O mercado enxerga o capitalismo pelo lado mais selvagem que lhe é inerente, buscando maximizar os ganhos da minoria de sucesso em detrimento do bem-estar social da comunidade. O mercado não enxerga o lado social e seria muita ingenuidade esperar isso dele. Quem tem que enxergar isso é o estado. Por isso o estado tem que ser forte. Por isso o estado tem que ser atuante. Pra que educação, saúde e segurança não sejam tratados como produtos. Pra que não aconteça o que está acontecendo hoje. Porque assim, como é hoje, a situação fica insustentável. E pra suportar, só com muita cana. Na cabeça.

2 comentários:

Telejornalismo Fabico disse...

*




não esqueça, como lembrou o ex-petista lula nos países nórdicos, que a extração de cana não é pior do que trabalhar em minas.
e enrique os usuneirosa da mesma forma que as mineradoras.


sucro.
interessante palavra.




*

Diego Moreira disse...

Na única vez que viajei pelo interior de São Paulo, na estrada para Araçatuba, também só vi cana...

Era cana, cana, cana, usina.
Mais cana, cana, cana, usina.

Sempre. Impressionante.