Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 28 de outubro de 2007

Outra viagem

A primeira vez que viajei de avião foi para ir pra Alemanha. Poucas vezes havia saído do estado de São Paulo e já tinha 30 anos. A partir daí, viajo pra lá ao menos 2 vezes por ano. Enchi meus passaportes de carimbos.

As primeiras viagens tiveram durações bem longas, com mais de 2 meses cada uma delas. Lembro-me da grande saudade que eu sentia. Saudade da Clélia e da Cecília. Saudade da nossa comida, da nossa música, da nossa língua. Saudade do Brasil.

A sensação que eu tive nos primeiros dias da primeira viagem foi muito negativa. Naquele tempo, eu ainda acreditava que um povo poderia ser classificado de forma simplista. Aquela coisa de que todo brasileiro é alegre, todo argentinho arrogante, todo japonês tímido, todo alemão grosseiro, todo italiano falastrão. Aos poucos, fui percebendo que todo mundo é igual. Em todo lugar há gente
boa e má, gente feliz e triste, gente egoísta e solidária.
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Lembro-me que o que mais me chocou, na Alemanha, foi a extrema limpeza das ruas, a pontualidade das pessoas, a organização de tudo. Na Alemanha é praticamente impossível ver alguém jogando um pedaço de papel no chão ou um carro atravessar o sinal vermelho. Aquilo me dava uma sensação bem ruim. Uma constatação de que aquele povo era mais educado que o povo brasileiro. Que aquela gente tinha mais preparo para conviver coletivamente, mais respeito pelo próximo. E reforçava um tipo de preconceito que era tudo o que eu sempre combatera.
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Fiquei mais aliviado quando viajei, num feriado, pra Itália e vi uma imensidão de alemães emporcalhando as ruas com latas de cerveja e bitucas de cigarro, e seus carros cruzando os sinais vermelhos. Pude perceber que aquela educação toda que eles tinham na Alemanha era a custa de pesadas penalidades que sofriam em seu país, caso tivessem este comportamento. Bastava estar num lugar onde as leis eram mais frouxas para se comportarem como todos os outros povos. Passei a sentir mais simpatia pelos alemães.
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Conhecer muitos países foi o que aconteceu de mais proveitoso nessas minhas viagens de trabalho. Lembro-me que todo feriado, todo final de semana prolongado era uma oportunidade pra viajar. Íamos, sobretudo pra Itália, onde um dos amigos que viajaram comigo, tinha um pedaço da família em cada canto daquele país. Era sempre uma festa. Sempre muita comida e bebida pra receber o parente brasileiro. E eu, sempre na cola, aproveitando tudo. Foi a primeira vez que bebi vinho Lambrusco. E além de tudo, a alegria de ouvir uma língua latina, novamente.

Foi graças a essas viagens de trabalho que conheci Paris, Londres, Copenhague, Lisboa. Sempre aproveitando alguma brecha, pude visitar a Espanha, a Bélgica, a Áustria e a Holanda. Pude pisar no chão da Argentina, Venezuela, Canadá e Estados Unidos. Em alguns desses lugares tive alguns dias pra explorar. Em outros, apenas algumas horas. Em todos, sempre busquei experimentar algo novo, entender seus sabores.

Atualmente, as viagens que faço são muito mais curtas. E, muitas vezes, fico mais tempo dentro do avião do que no país pra onde estou indo.

É exatamente o que vai acontecer hoje. Viajo, daqui a pouco, pra Alemanha, pra participar de um evento com um dia e meio de duração. Vou num pé e volto noutro. Mas já sinto saudades.

14 comentários:

Claudia Lyra disse...

Boa viagem, Arnaldo! Poxa... apesar da saudade que você passou, esse seu emprego tem essa coisa bem legal de te proporcionar viagens. Gosto tanto de viajar e que não fui a canto nenhum, hehehehehe... Beijos!

ninguém disse...

Que vida abençoada, Arnaldo! Juro a você: não me interessa acumular bens "materiais", ganhar um Nobel (como se eu pudesse!) ou beijar o Richard Gere na boca. Agora, viajar, ter grana para viver com o pé no avião rumo a algum lugar diferente, é meu sonho de consumo.
Aproveita bem e conta pra gente, como neste post.
abrçaos

Vivien Morgato : disse...

Arnaldo: ahco isos o máximo.Meu sonho sempre foi viajar, mas nunca coloquei meus pés fora do Brasil.
Mas isso está na minha lista.Ah, esqueci de te pedir uma coisa: dá pra vc trazer uma revita alemâ pra mim? beijos.

Diogo Novaes disse...

Olha...

Confesso que fico com uma pontinha de inveja de tantas viagens que parecem ter sido bem bacanas.

Eu adoro viajar e conhecer e ter a oportunidade de fotografar outras paisagens, outras culturas é fantástico.

Talvez quando eu for fotógrafo da National Geographic.

Abraço.

Maria Helena disse...

Arnaldo,
Magoooooouu!!!!!!!!
Que Deus o Abençõe, que seja feliz e competente em todas.
Paris é o meu sonho de consumo.
Bjs

Andrea Drewanz disse...

Arnaldo, sei bem o que você sentiu quando foi para Alemanha. Tenho parentes lá, e cada vez que eu ia, me achava a pessoa mais sem educação no mundo. Comecei a ir com meu pai, ainda pequena, e percebo que desde então as coisas já mudaram, mas não tanto. A rigidez de certas atitudes, contrasta com a sensibilidade do povo com a cultura, por exemplo.
Vou tentar explicar minhas impressões sobre a Alemanha depois, no meu blog.
Boa viagem e auf wiedersehen!
***
Aliás, vim aqui para te dizer que indiquei seu blog como um dos meus favoritos. Dá uma passadinha lá no "box de ideias" e confira os detalhes. Você depois vai ter que escolher os seus favoritos também.
Beijos.
Andrea

Mi do Carmo disse...

Não posso deixar de sentir inveja...

Eli Carlos Vieira disse...

Dizem mesmo que quando se viaja para outra nação, se aprende muito e volta-se mudado!

Conheço pessoas que retornam de viagens ao mundo e quando conversam com os seus aqui deixados, são chamados de anti-patriotas, pois reclamam da sujeira a que os brasileiros submetem os chãos brasileiros.
Comentam ainda da falta de educação e de senso de comunidade para com o próximo etc, etc e etc.

Gosto sempre de ouvir essas histórias, tendo sempre o cuidado de filtrar certas afirmações...
Afinal é necessário tentar compreender os significados mais profundos de uma cultura, país ou nação......

Abração
E que venham boas viagens!
:-]

Anônimo disse...

Tio,
Ontem o vô veio aqui e disse que não tinha nada para fazer à tarde então ficou fuçando numas coisas velhas... Acabou enconrando cartas e postais que você mandou pra ele na sua primeira viagem à Alemanha. Hoje pedi que ele a trouxesse pra eu ler... Acabei de ler e enrei aqui... Que coincidência!

Nas cartas você pede pra ele cuidar da tia Clé e da Ceci, conta que estava nadando e frequentando uma sauna toda semana e que jogava futebol aos sábados! Lembra?

Saudades de vocês... Espero que a gente se veja logo... Boa viagem!

Smaaaaaaaaaaaaack!

Clélia Riquino disse...

Bá,

O tio já está em solo brasileiro. Acaba de ligar de Guarulhos, está vindo pra casa. Chegará, provavelmente, cansado e com sono (pois não consegue dormir direito em avião). Vó Dalva e eu prepararemos um almoço especial pra ele. Teremos o fds prolongado pra ficarmos juntos!

Saudade de você também. A gente vai se encontrar dia 10, sábado, na casa do Ricardo. Lembra? (isso 'tá parecendo um e-mail e nem é no meu blog!)

bjão,
tia Clé

Jô Beckman disse...

O povo brasileiro é relamente complicado... fico arrepiada só d epensar em ter copa do mundo aqui...não temos preparo p/ receber as pessoas que vem de luagres como a Alemanha, por exemplo...vamos ver no que vai dar.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Cláudia,

Eu já me empolguei mais com essa coisa. O que me empolga, ainda, é quando faço viagens a lugares inéditos. Isso tem sido raro.


Maristela,

Viajar é bom sim, mas é ruim sentir saudade. E eu sinto muita. Sempre.


Vivien,

Já trouxe. Agora é só combinar de nos encontrarmos pra eu te entregar. Acho que uma idéia é você vir jantar aqui em casa, pra retribuir o delicioso jantar que você nos fez.


Diogo,

Pior é que eu nem levei minha câmera, desta vez. Ia ficar tão pouco tempo! Além do mais, estava namorando uma câmera nova, mas achei que por lá iria estar mais barata. Resolvi segurar o escorpião no bolso e voltei sem nada pra casa.


Maria Helena,

Obrigado.


Andrea,

Ao longo desses anos eu fui aprendendo a ver os alemães com olhos menos distorcidos pelo preconceito.


Mi do Carmo,

Faça isso não. Passei um frio danado e viajei como uma sardinha enlatada. 11 horas na classe econômica é fogo!


Eli,

Esta é a melhor parte de viajar. Aprender. Aliás, esta é a melhor parte da vida!


Bá,

Aquelas primeiras viagens foram as mais excitantes. E naquele tempo não havia e-mail nem celular. Telefonar era caro. A gente se encontra no casamento do Ricardo?


Clé,

Bonito, hein? Usando o blog como mídia!


Jô,

Penso, justamente o contrário sobre a maior parte do nosso povo. Eu tenho bem clara esta experiência. A gente, em geral, se preocupa muito mais com o bem estar dos nossos visitantes do que o contrário. Pode acreditar.

Anônimo disse...

Opa Arnaldo.
queria eu poder ter no trabalho a oportunidade de viajar tanto..
mas de qualquer forma sempre reparo essas coisas de como as pessoas vivem em seu pais de origem.
Uma analise interessante é observar a nós mesmos quando estamos em outros países.
abraços e boas viagens..

Ta favoritado no meu blog.

Anônimo disse...

Arnaldo,
A cópia do carimbo da viagem entre 26.01 e 03.02.00 trouxe lembranças da Espanha, mais precisamente, o país "v(b)asco". A tal "sidreria" em San Sebastian, onde bebemos todas... Acho que foi das poucas vezes que fomos juntos pro exterior. Um dia aposentados, lembraremos isso num botequim... Esta semana será BH outra vez... Abraços