Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 28 de outubro de 2007

Outra viagem

A primeira vez que viajei de avião foi para ir pra Alemanha. Poucas vezes havia saído do estado de São Paulo e já tinha 30 anos. A partir daí, viajo pra lá ao menos 2 vezes por ano. Enchi meus passaportes de carimbos.

As primeiras viagens tiveram durações bem longas, com mais de 2 meses cada uma delas. Lembro-me da grande saudade que eu sentia. Saudade da Clélia e da Cecília. Saudade da nossa comida, da nossa música, da nossa língua. Saudade do Brasil.

A sensação que eu tive nos primeiros dias da primeira viagem foi muito negativa. Naquele tempo, eu ainda acreditava que um povo poderia ser classificado de forma simplista. Aquela coisa de que todo brasileiro é alegre, todo argentinho arrogante, todo japonês tímido, todo alemão grosseiro, todo italiano falastrão. Aos poucos, fui percebendo que todo mundo é igual. Em todo lugar há gente
boa e má, gente feliz e triste, gente egoísta e solidária.
.
Lembro-me que o que mais me chocou, na Alemanha, foi a extrema limpeza das ruas, a pontualidade das pessoas, a organização de tudo. Na Alemanha é praticamente impossível ver alguém jogando um pedaço de papel no chão ou um carro atravessar o sinal vermelho. Aquilo me dava uma sensação bem ruim. Uma constatação de que aquele povo era mais educado que o povo brasileiro. Que aquela gente tinha mais preparo para conviver coletivamente, mais respeito pelo próximo. E reforçava um tipo de preconceito que era tudo o que eu sempre combatera.
.
Fiquei mais aliviado quando viajei, num feriado, pra Itália e vi uma imensidão de alemães emporcalhando as ruas com latas de cerveja e bitucas de cigarro, e seus carros cruzando os sinais vermelhos. Pude perceber que aquela educação toda que eles tinham na Alemanha era a custa de pesadas penalidades que sofriam em seu país, caso tivessem este comportamento. Bastava estar num lugar onde as leis eram mais frouxas para se comportarem como todos os outros povos. Passei a sentir mais simpatia pelos alemães.
.


Conhecer muitos países foi o que aconteceu de mais proveitoso nessas minhas viagens de trabalho. Lembro-me que todo feriado, todo final de semana prolongado era uma oportunidade pra viajar. Íamos, sobretudo pra Itália, onde um dos amigos que viajaram comigo, tinha um pedaço da família em cada canto daquele país. Era sempre uma festa. Sempre muita comida e bebida pra receber o parente brasileiro. E eu, sempre na cola, aproveitando tudo. Foi a primeira vez que bebi vinho Lambrusco. E além de tudo, a alegria de ouvir uma língua latina, novamente.

Foi graças a essas viagens de trabalho que conheci Paris, Londres, Copenhague, Lisboa. Sempre aproveitando alguma brecha, pude visitar a Espanha, a Bélgica, a Áustria e a Holanda. Pude pisar no chão da Argentina, Venezuela, Canadá e Estados Unidos. Em alguns desses lugares tive alguns dias pra explorar. Em outros, apenas algumas horas. Em todos, sempre busquei experimentar algo novo, entender seus sabores.

Atualmente, as viagens que faço são muito mais curtas. E, muitas vezes, fico mais tempo dentro do avião do que no país pra onde estou indo.

É exatamente o que vai acontecer hoje. Viajo, daqui a pouco, pra Alemanha, pra participar de um evento com um dia e meio de duração. Vou num pé e volto noutro. Mas já sinto saudades.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

De volta pra casa

Fazia tempo que não enfrentava um atraso de vôo. Pois aqui estou eu, no aroporto de Confins, em Belo Horizonte, amargando uma espera de mais de 2 horas. Acabaram de informar mais uma previsão. Fiquei um dia em BH e dois em Vitória e estou louco pra voltar pra casa.

Acho Vitória uma das cidades mais agradáveis do Brasil, embora agradável não seja um adjetivo que excite muito. Mas não é assim que eu sinto. Vitória é uma cidade que me agrada e me excita. É que quando eu penso em Vitória, logo me vem à mente a sua moqueca, que difere da baiana por não ter leite de côco e nem dendê, o que a torna mais leve. Quem é do Espírito Santo diz que isso também a torna mais saborosa. Aí, já discordo. Como eu gosto das duas, não entro nesta briga. Mas a disputa existe. Tanto que eles têm até um lema: “Moqueca é a capixaba. O resto é peixada”. Pura provocação. (A foto da moqueca é de Humberto Capai/Usina de Imagem)

Minas sempre me ganha pela comida. É, provavelmente, a que eu mais gosto, entre as cozinhas regionais. E o que mais me seduz, nesta terra, é que, ao contrário da Bahia, Rio Grande do Sul ou Pernambuco, onde só se come vatapá, galeto ou carne de sol em restaurantes típicos, em Minas, pode-se comer feijão tropeiro, tutu ou frango com quiabo, em qualquer restaurante de esquina. E BH é a única cidade que eu conheço em que todos os botecos, à noite, ficam cheios de gente, seja sábado, seja segunda-feira. Qualquer dia! É lá que mais se cultua a comida de boteco, a baixa gastronomia, tão apreciada por quem gosta de um copo sujo, como eu. Fui conhecer o
Pinguim, a mais famosa choperia do interior paulista, o primeiro inaugurado fora de Ribeirão Preto. Me esbaldei.

O rádio do táxi que me levou da cidade ao aeroporto estava sintonizado numa daquelas estações que reservam grande parte de sua programação para falar de crimes e tragédias ocorridas na cidade. E no programa, além das notícias, pude ouvir depoimentos de pessoas humildes relatando os fatos ocorridos. Mortes por problemas de atendimento num hospital, atropelamentos por falta de controle do tráfego numa avenida, transtornos vários por conta de mal planejamento de alguma obra. Todos, problemas relacionados com a ineficiência do poder público, o que contrasta com a forte campanha de marketing do governo estadual, de Aécio Neves, o governador namorador. Fiquei intrigado. Será que essa gente não enxerga a relação destes problemas com a administração estadual? Será que o marketing governista mineiro, exportado até mesmo pra fora do estado, está cegando e anestesiando todo mundo?

Em meio a essas elucubrações fui surpreendido com um comentário do taxista que, até então, estivera calado. Após ouvir as repostagens, desembestou a fazer um discurso indignado contra o governo estadual, ressaltando o perfil marketeiro de Aécio Neves, o governador namorador. Um discurso parecido com o que eu estava pensando. Fiquei com mais esperança no mundo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Conversa pra filosofar

Desde que comecei o blog, sempre que vejo um filme, ouço um disco novo, faço uma viagem ou leio um livro, faço cada uma dessas coisas pensando em escrever. No decorrer da leitura do livro, por exemplo, fico pensando nas coisas que vou salientar, no que me tocou mais, no caminho que vou tomar no próximo post. Muitas vezes, aliás, o que escrevo nem tem tanto a ver com o filme, CD ou livro. Eles apenas servem de pano de fundo pra eu poder expressar aquilo que me dá vontade, naquele momento.

Inexplicavelmente, não sei bem o que escrever sobre Às Margens do Sena, uma espécie de biografia do jornalista Reali Jr., a partir de entrevistas e conversas com Giani Carta. Isso não quer dizer que o livro não seja bom. Muito pelo contrário. Acredito que minha dificuldade em escrever sobre ele deva-se, exatamente, pelo fato dele ter me absorvido toda a atenção enquanto eu o lia. A única coisa que eu pensava, lendo o livro é que, se eu fosse jornalista, gostaria de ter seguido os seus passos. Afinal, ele escreve, sobretudo, a respeito de política e futebol, dois assuntos dos quais eu mais gosto. Mais do que isso, sua carreira começou em São Paulo, mas, desde 1972, ele se mudou pra Paris com mulher, filhas e a coragem. Conheço muito pouco de Paris, mas, nos 2 dias e meio que passei lá, fiquei com uma profunda sensação de que não me sentiria muito deprimido se tivesse que morar naquela cidade. Além do mais, uma de suas filhas, a Cristiana Reali, além de bonita (as 4, na verdade, o são) é uma das atrizes mais respeitadas, atualmente, na França. E, pensando em tudo isso, percebi que o que eu sentia, mesmo, era uma ponta de inveja do Reali. Não uma inveja maléfica. Sentia um tipo de inveja do bem (se é que isso existe), pensando que até gostaria de ter a vida dele, mas consciente de que gosto muito da minha vida, não desejei, em nenhum momento, que ele não tivesse tido a sua.

O Reali é um tipo de jornalista das antigas. É do tempo que não era necessário fazer faculdade pra ser jornalista. Bastava trabalhar em jornal e ter qualidade. E aí, pensando nisso, percebi que a maioria dos jornalistas que eu mais admiro, não fizeram faculdade pra exercer essa profissão. Nenhum deles. Nem Clóvis Rossi, nem Carlos Heitor Cony, nem Juca Kfouri, nem Sérgio Cabral, nem José Trajano, nem Elio Gaspari, nem Luís Nassif. Mas não vou gastar este tempo e espaço pra ficar filosofando sobre o que eu acho da obrigatoriedade do diploma pra exercer a profissão. Tenho minha opinião, mas isso importa muito pouco. Além do mais, esse não é um assunto que me tira o sono.

O livro é delicioso. O papo flui rápido e fácil. Reali fala de jornalismo e, sobretudo, do seu trabalho como correspondente de rádio e jornal. Fala dos políticos franceses e dos exilados brasileiros na França, com quem ele conviveu na época da ditadura militar no Brasil. Fala de Celso Furtado, de Miguel Arraes, de Brizola. Fala de seu contato com FHC e com Lula. E fala, sobretudo, das viagens de férias que costuma fazer pelas cidades da Europa ao lado de Luís Fernando Veríssimo. Viagens gastronômicas, como as que eu gosto de fazer.

Aproveita a conversa para filosofar. Filosofar e ensinar. Ensina como é que um jornalista deve preservar suas fontes. Ensina como é que um jornalista de esquerda consegue trabalhar num órgão de direita (O Estado de São Paulo). Ensina, sobretudo, como viver uma vida plena de prazeres, conjugando trabalho e dedicação à família.

Agora que terminei de ler o livro, vou emprestá-lo pra Bá, minha querida sobrinha, que se forma este ano e será, sem dúvida nenhuma, uma ótima jornalista.

domingo, 14 de outubro de 2007

Programa triplo

Como já é de praxe, aproveitamos o fim de semana prolongado por um feriado para ir pra São Paulo, ontem. Fizemos um programa triplo, sem contar as habituais peripécias gastronômicas.

O primeiro filme que assistimos foi Piaf – Um hino ao amor, de Oliver Dahan, sobre a vida da cantora francesa Edith Piaf. Confesso que sei muito pouco sobre ela e, por isso mesmo, fiquei espantado com o que vi. Pelo que o filme mostra, sua vida foi um drama absoluto, do começo ao fim. Desde a mais tenra infância, passando pela adolescência, mesmo no auge, tudo, muito dramático. E o filme é assim, também. Chega a sufocar um pouco. Fiquei com a sensação de que a atriz que a interpreta (Marion Cotillard) teve uma atuação muito caricata, principalmente seus trejeitos e seu aspecto físico. Pesquisando um pouco, depois, percebi que a caracterização beirou a perfeição.

.











Outra coisa muito bem feita foi a dublagem das cenas. Tanto assim, que saí do cinema convencido de que a atriz teria cantado nos números musicais. Depois, nas pesquisas, descobri que foram usadas, na maioria das cenas, gravações originais da própria Piaf e, nos casos em que isso não foi possível, a tarefa ficou a cargo da cantora francesa Jil Aigrot.



O ponto fraco do filme é a forma com que ele lida com a ordem cronológica. É sempre um grande desafio ficar brincando com duas épocas num filme. Poucos são aqueles em que isso é feito com sucesso. Em Piaf, as épocas são embaralhadas de tal forma, que tem-se a impressão de que o responsável pela montagem do filme não sabia o que estava fazendo. Isso não compromete a compreensão da história, mas causa algum desconforto. Enfim, saí do cinema na dúvida se tinha gostado do filme ou não. Depois das pesquisas, gosto mais dele hoje do que gostei ontem.

O segundo filme foi Propriedade Privada, de Joachim Lafosse, com a atriz Isabelle Huppert de A professora de piano e de 8 mulheres. É o típico filme
francês, bem paradão. Super paradão, pra dizer a verdade. O filme é tão lento que nos dá a chance de ficar refletindo sobre a vida e nisso reside sua maior virtude. Na relação entre uma mãe de meia idade e seus filhos pós-adolescentes, verifica-se, sobretudo, falta de amor. Aliás, percebe-se a inexistência de amor em todas as relações pessoais do filme. Isso, embora dê uma tristeza muito grande, faz pensar em quanta gente vive assim, sem estabelecer relações verdadeiramente amorosas. E, embora o filme trate, em seu ponto central, da discussão sobre a posse de uma casa, não é o interesse por dinheiro que causa essa falta de amor. É cansaço. Cansaço da vida. Lembra até uma letra de Antônio Maria: “Cansaço da vida, cansaço de mim, velhice chegando e eu chegando ao fim”. E o filme, realmente, cansa um pouco.

Pra terminar o dia com mais alegria, fomos ver o show da Teresa Cristina e Grupo Semente, no teatro da Fecap. Não poderia haver programa melhor. O show serviu pra lançar seu novo CD, Delicada, que eu tinha ganhado da Clélia no começo da semana. Ela desfilou músicas do disco novo e algumas outras coisas gravadas nos discos anteriores. Exibindo a sempre sincera simpatia, cantou com competência todo tipo de samba e até o que nem parecia samba, como a música Gema de Caetano Veloso. Resgatou um ponto de umbanda antigo e belíssimo de Ruy Mauriti, Nem Ouro nem Prata e no fim do show, na hora do bis, desfilou 3 músicas de carnaval, algo bem carioca. Cantou acompanhada do Grupo Semente e de Paulão 7 cordas, responsável também pela direção musical do show e do disco. E, como sempre acontece em seus shows, contou com uma canja de Pedro Miranda. E, como em todas as canjas de Pedro Miranda, ele cantou O samba é meu dom. Ainda bem!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O som do Vinil

Assisti, ontem à noite, no canal TV Brasil, um trecho do programa O Som do Vinil, apresentado por Charles Gavin, baterista dos Titãs. O programa tem uma proposta pra lá de interessante. Escolhido um disco, ele é dissecado em cada uma das faixas, contada a história de cada música, através de entrevistas com cantores, compositores e músicos que participaram daquela gravação. É entrevistado, até mesmo, o artista que foi responsável pela capa. No programa de ontem, o disco escolhido foi o Clube da Esquina. E no programa, desfilaram depoimentos de toda a turma: Milton Nascimento, Lô Borges, Wagner Tiso, Fernando Brant, Márcio Borges e Toninho Horta entre muitos outros. Assisti o programa com muito prazer. Com prazer e nostalgia. Saudade de um tempo, eu pré adolescente, em que essas bolachonas pretas eram meus únicos objetos de desejo e destino de todo e qualquer dinheiro que caísse em minhas mãos.

O programa e o disco de ontem me fizeram pensar nos primeiros discos que fizeram minha cabeça:

Agora – Ivan Lins
Foi o primeiro disco que comprei. Eu tinha uns 11 ou 12 anos de idade. E durante um bom tempo, foi o único disco que eu tive. Mesmo depois que minha irmã, por descuido, deixou-o cair no chão da sala, quebrando-o e provocando uma cratera parecida com uma mordida, que comia a primeira faixa e a metade da segunda, de cada lado. Embora triste, não deixei de ouvi-lo, sempre a partir do meio da segunda faixa de cada lado. Era uma época em que eu estava vidrado num programa de TV chamado Som Livre Exportação, onde um bando de jovens desconhecidos como Ivan Lins, Gonzaguinha e Aldir Blanc, produziam um som absolutamente revolucionário, pra mim. Fui gostando, com o passar do tempo, cada vez menos de Ivan Lins. Muitos anos depois, quando este disco saiu em CD, comprei-o excitado. Não achei quase nenhuma graça.


1962-1966 e 1967-1970 - The Beatles
Com estes dois álbuns duplos, duas coletâneas, tive meu primeiro contato com os Beatles, por quem ficaria fanático e de quem nunca tinha ouvido falar antes do grupo terminar. O mais engraçado é que fui me interessar pelos Beatles apenas depois de ter conhecido o som de John Lennon.


Imagine - John Lennon
Não estou bem certo, mas acho que foi o segundo disco que comprei. Usei o dinheiro que ganhei no dia da criança. Foi difícil convencer meu pai a me dar dinheiro, ao invés de um brinquedo, como presente. Além do disco, cujas faixas eu ouvia como um viciado, eu era fissurado por um enorme pôster que acompanhava o encarte, com John Lennon, todo de preto, tocando um piano branco, numa sala branca. Muitos discos, nesta época, vinham com pôsters excelentes. Excelentes e grandes, coisa impensável na era do CD.


Goat's Head Soup – The Rolling Stones
Meu interesse pelos Beatles nunca provocou minha curiosidade pelos Stones. Deles, só tive dois discos e só este tocou mais em minha vitrola, sobretudo a faixa Angie. Sempre fiquei com a sensação de que explorei pouco os discos deste grupo. Mas, a falta de curiosidade naquela época, foi, pouco a pouco, e sempre, aumentando.



To whom it may concern – Bee Gees
Com essa idade, o que rolava na rádio que eu ouvia era mesmo a Música Pop americana. E entre os muitos grupos que eu gostava de ouvir estavam os Bee Gees. Gostava dos arranjos vocais. Durou pouco esta fase. Quando eu comecei a descobrir a MPB fui me desinteressando por eles e a sua guinada na direção do som da discoteca sepultou de vez meu interesse.


Caetano e Chico – Juntos e ao vivo
Foi o primeiro disco de MPB que me fez vibrar. Foi através dele que eu descobri o que acontecia no país. A ditadura, a resistência. Foi gravado num momento muito tenso do regime militar. Cheio de cortes e remendos, obra da censura.





Clube da esquina – Milton Nascimento e Lô Borges
Foi o disco que me mostrou que havia uma música muito moderna e diferente sendo produzida no Brasil. Não era samba, não era bossa nova, não era pop e era tudo isso ao mesmo tempo. Arranjos magníficos. Muita inventividade, muita coragem. O disco cheirava liberdade criativa.

Falso Brilhante – Elis Regina
A importância deste disco, pra mim, está ligada ao show de mesmo nome. Foi o primeiro que eu fui e o que me causou mais impacto, entre todos que eu vi. Era a primeira vez que eu entrava num teatro e a primeira vez que prestava atenção em Elis Regina. Depois disso, nunca mais tirei os olhos (e os ouvidos) dela.


Refavela – Gilberto Gil
Outro disco ligado a um show inesquecível. Foi em São Bernardo, uma fila imensa, com Gil chegando super atrasado. Pra compensar, ele fez um show que não terminava nunca. Fui embora antes do fim. Tinha que tomar o último ônibus. Foi este disco que me despertou para o som da áfrica e abriu meus ouvidos para o Reagee.


Moleque – Gonzaguinha
Provavelmente, o último disco de Gonzaguinha que eu gostei e o primeiro que comprei. Todos os anteriores são muito bons, mas só fui comprar muito depois, já no formato de CD. O discos que vieram posteriormente, foram piorando e, mesmo assim, comprei muitos deles. Foram piorando aos poucos, até chegar naquela babação de explode coração. Aí, tive que parar.





Comecei a escrever este texto sem ter em mente sobre quais discos falaria. Eles foram pintando na minha memória naturalmente. Só agora percebo que é uma insanidade tentar fazer alguma lista. Se eu ficar mais um tempo pensando, surgirão outros dez, outros cem, outros mil discos que fizeram e ainda fazem a minha cabeça. Só agora, escrevendo este parágrafo, me lembrei de João Gilberto, MPB4, Paulinho da Viola, Maria Bethânia e tantos outros que produziram discos que me deixaram em outra órbita. Tenho saudades do vinil.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Especialidades gaúchas

Nova passagem rápida por Porto Alegre, resolvi não comer pizza, pra não ter que me deparar com o catchup e nem escrever novamente sobre isso, ofendendo as susceptibilidades gaúchas. E, sendo assim, acabei optando pelo mais tradicional. Galeto, num dia e churrasco, no outro.

Numa galeteria, o critério é te entupir de comida, até você dizer chega. É a mesma estratégia que qualquer família, na Itália, utiliza, para agradar um visitante, ilustre ou não. Eu, a sinceridade obriga-me a confessar, sinto-me extremamente agradado com esta estratégia. As melhores galeterias em que eu já fui ficam em Caxias do Sul, mas em Porto Alegre e São Leopoldo, há boas também.

O processo começa com uma saladinha básica, almeirão e batata. Depois, vem uma infinidade de entradas, um festival de delícias: queijo, pão, salame, lingüiça, polenta, pastéis, entre outras coisas. A seguir, servem uma fumegante sopa de capeletti que eu, particularmente, adoro. Nunca deixo de tomá-la quando vou a Porto Alegre, seja inverno ou verão. E aí, quando você já está absolutamente empanturrado, começa o serviço, propriamente dito. Espaguete, rondeli, canelone, costela de porco e, é claro, o galeto. O galeto é um franguinho minúsculo que aos amantes dos animais daria dó vê-lo assado na travessa. Eu sou um grande amante dos animais. Amo tanto os animais que chego ao ponto de comê-los. Cozidos, assados, fritos e até mesmo crus. E, ao contrário dos seres humanos, que não amo tanto, eu como os animais qualquer que seja o sexo.

O problema neste tipo de refeição é que, pelo menos no meu caso, só se pára de comer muito depois de quando se deveria ter parado. Vale a pena. A gente sai do restaurante inchado, mas com uma expressão besta de felicidade no rosto.

Comer churrasco em Porto Alegre não deveria ser diferente do que comer churrasco em São Paulo. Afinal, todas as boas churrascarias daqui e também as medianas, são pilotadas por gaúchos. Aliás, o gaúcho é o único povo que sabe fazer churrasco, no Brasil. Ainda bem que tem tanto gaúcho em São Paulo, o que faz com que tenhamos mais churrascarias que Porto Alegre.

Deveria ser a mesma coisa, mas não é. Há as churrascarias gaúchas paulistas e as churrascarias gaúchas gaúchas. E as gaúchas são melhores. E eu me lembro, quando ainda era bem jovem, de um tempo em que as churrascarias daqui eram como são, hoje, as de lá. Acho que o gosto dos paulistas exerceu uma influência maléfica sobre os proprietários e, hoje, cada vez mais, estão inventando umas viadagens nas daqui, servindo todo tipo de coisa, como sushi, sashimi, camarão e até macarronada. Nada a ver.

Além do mais, aqui em São Paulo, há um hábito de servir a picanha em fatias bem fininhas, como se fosse churrasco de carpaccio. Em Porto Alegre, sempre posso comer grandes nacos de carne, bem vermelhas, sangrando. Do jeito que eu gosto.

Fui e voltei. Fiquei menos tempo que da última vez. Fui no tradicional. E me dei bem.

domingo, 7 de outubro de 2007

Tropa d(a) Elite

Eu e a Clélia, quando morávamos em São Paulo, sempre tivemos o hábito de pegar sessão dupla no cinema. Chegamos a experimentar sessão tripla, mas é muito cansativo. Além do mais, o cinema nunca é o mesmo sem a tradicional pizza depois do filme. O segredo da sessão dupla é diversificar os tipos de filmes. Evitar assistir dois filmes pesadões é sempre uma boa medida. Há muito tempo não fazíamos isso e ontem resolvemos voltar à velha forma. A Cecília foi com a gente.

Depois de assistir ao leve e delicioso filme O Homem que desafiou o diabo, fomos encarar Tropa de Elite de José Padilha.



Antes de qualquer coisa, devo dizer que o filme, como obra cinematográfica, tem boa qualidade. Tem uma dinâmica ágil, fotografia correta e prende a nossa atenção o tempo todo. A maioria dos atores não tem grande expressão, mas isso evidencia, ainda mais, o talento do protagonista, o excelente ator Wagner Moura, sem dúvida, um dos melhores surgidos nos últimos tempos.

Mas a questão estética e até mesmo a artística é o que menos importa neste filme. Importante mesmo são as reflexões que ele suscita na sociedade. E, neste sentido, o filme tem algumas virtudes e alguns pecados.

A principal virtude é a de fazer uma radiografia na estrutura da polícia militar. Mostrar que a corrupção naquela corporação é o principal motivo para que a violência seja um dos maiores problemas no nosso país. Sim, porque, apesar da história se passar na cidade do Rio de Janeiro, a corrupção que se verifica lá é a mesma em qualquer grande cidade brasileira.

O filme não poupa ninguém. Além de desmascarar a corrupção policial, toma o cuidado de não retratar os traficantes como pobres vítimas de um sistema cruel e selvagem. Sim, nosso sistema é cruel e selvagem e os traficantes colaboram pra isso. E não poupa a classe média, seja quando está engajada em algum programa social numa ONG qualquer, seja quando está consumindo as drogas que alimentam o tráfico.

O eixo central do filme é o retrato de um batalhão especial da polícia, o BOPE, do qual, um dos oficiais assume a narrativa em primeira pessoa. Com isso, humaniza a corporação, o que é até bom, mas esquece-se de humanizar as outras protagonistas da história, como a PM, os traficantes, a classe média, e reside aí, um de seus pecados, já que estes são retratados de forma maniqueísta. Mas o filme, a meu ver, não trata os soldados do BOPE como heróis. E é essa a confusão que está se fazendo a seu respeito. O fato de uma narrativa ser feita na primeira pessoa não significa, necessariamente, que esta seja a posição de seu diretor. Quem está fazendo isto é uma parcela da sociedade. Isto sim é que é grave. E está heroificando este batalhão, baseada num discurso de que nele, não há policiais corruptos, todos são honestos. Mas nesta história não há heróis. Não há para quem torcer.

Antes de qualquer coisa, eu não acredito que haja uma corporação da polícia que esteja imune a ser corrompida, mas, mesmo que isso fosse verdade, o fato de não corromper-se não é suficiente para arrogar-se de honesto. E é isto que o filme, talvez até sem querer, acaba mostrando em relação ao BOPE. Nele, nenhum dos policiais do batalhão é corrupto, mas todos praticam a tortura para obter confissões, todos participam, ou são coniventes com execuções sumárias de bandidos, mesmo que estes já estejam dominados. Estes policiais, no filme, acreditam que agir fora da lei é justificável para combater o crime. Mas não é.

O crime tem de ser combatido com repressão. Não há outra maneira. Mas deve ser reprimido de acordo com a lei. Quando um policial age fora da lei para reprimir uma ação criminosa, ele iguala-se ao criminoso e até o justifica. E quando o filme mostra a ilegalidade na ação do BOPE, acaba desmascarando sua atuação, derrubando o discurso do narrador da história e abrindo caminho para destruir sua heroicidade.

E é aí que a coisa adquire o aspecto mais perigoso. É que uma boa parcela da sociedade não desabona este comportamento desta polícia. São pessoas que embarcam num discurso simplista e aplaudem ações como esta, mesmo que baseadas na ilegalidade. E a oportunidade que o filme dá pra que esta reação aconteça é, possivelmente, seu maior pecado. Sim, pois o filme é muito simplista, o que acaba fechando a porta para outras reflexões, outras conclusões. Uma delas, sempre desprezada quando se fala em tráfico, é discutir quem é, realmente, que ganha o grosso do dinheiro com este negócio. Sim, porque o negócio é milionário e é muita ingenuidade pensar que sejam os chefes dos morros, aqueles que ganham mais dinheiro com ele. Não. Os verdadeiros chefes deste negócio não moram em barracos. Devem morar na zona sul ou na Barra da Tijuca.

Apesar de tudo, o filme deve ser visto pelo maior número de pessoas possível. É bom que seja. Mas é bom que as pessoas tentem tirar suas próprias conclusões. Se for pra receber a conclusão concebida por outro, se querem que a coisa venha já mastigada, então é melhor que economizem seu dinheiro e fiquem em casa assistindo o Fantástico.

sábado, 6 de outubro de 2007

Bom divertimento

Nunca achei muita graça no ator Marcos Palmeira. E antes que alguma das raras leitoras deste blog me interpele, vou logo reconhecendo: Ele é muito bonito. OK, mas um ator não deveria depender só disso. Minha má vontade com ele começou a diminuir quando assisti alguns episódios do seriado Mandrake, baseado num personagem de Rubem Fonseca e produzido pelo canal de TV paga HBO. E a minha cisma esvaiu-se toda com o filme O Homem que desafiou o diabo, de Moacyr Góes.

Trata-se de uma fábula em que o protagonista percebe que a única maneira de empreender uma busca pela liberdade é enfrentar todos os medos que temos na vida. E assim, sem medo de nada, sai em busca de uma terra onde nos rios corre leite e as montanhas são de rapadura. Mete-se em intermináveis encrencas, enfrentando valentões sertão adentro e namorando muitas mulheres por onde passa.

É um filme despretensioso, mas divertido. Tem um ritmo ágil, uma fotografia competente, muito humor e sensualidade. Um dos pontos de qualidade é a trilha sonora, com a assinatura de Gilberto Gil nas canções. O ponto alto do filme, entretanto, é o ator Leon Góes que, além de esplêndida atuação, trabalhou na preparação dos atores. Fez um trabalho brilhante, já que todos exibiam um sotaque nordestino absolutamente autêntico.


E como se não bastasse tudo isso, há no filme a deliciosa presença de Fernanda Paes Leme. Quase não falou. E nem precisava.

Lembrança, ainda

Desde que houve o acidente com o avião da Tam eu só viajei utilizando o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos ou Viracopos, em Campinas.

Ontem, vindo de Joinville, com a tarde caindo e o tempo bem nublado, fechado mesmo, desci em Congonhas. Impossível não lembrar de 17 de julho.

Segunda-feira, viajo pra Porto Alegre. Vou por Viracopos.