Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A boa nova

Envelhecer traz muitos perigos. Dois dos mais comuns são tornar-se nostálgico e conservador. Acho que estou sendo acometido destes dois pecados. Pelo menos no que diz respeito à música. Explico melhor.

É que ando tendo muito pouca paciência com as novidades, tanto na música brasileira quanto no jazz, minhas principais preferências. E essa falta de paciência tem me provocado falta de curiosidade. Por isso, acabo sempre garimpando as prateleiras das lojas, reais ou virtuais, em busca das mesmas coisas, das músicas de Tom, Chico Buarque, Gil e Paulinho da Viola. Busco Miles Davis, Cole Porter, Gershwin e Ella Fitzgerald. Procuro Aldir Blanc, Paulo Cesar Pinheiro, Monarco e João Gilberto. Anseio por ouvir Sinatra, Tony Bennett, Elizeth e Cauby. Só Cartola ou Nelson Cavaquinho me comovem. Só John Coltrane ou Bill Evans me fazem perder o prumo.

Quando penso muito nisso, procuro corrigir a rota e saio a procura de coisa nova. Mas tem tanta coisa e tanta coisa ruim, que acabo desanimando. Volto à minha busca nostálgica e conservadora.

Por isso mesmo foi que me peguei surpreso e satisfeito ao descobrir uma cantora nova, cantando só gente nova, num disco garimpado na internet. Trata-se do CD Nosso, de Dani Gurgel. Foi a caminho do trabalho, no carro, que, por acaso, seu disco começou a tocar. E, sem que eu tivesse prestando especial atenção, minha atenção foi fisgada. Faixa a faixa, as canções se sucediam uma após outra, cada qual com sua levada diferente, todas envolventes.

Num determinado momento, sua voz e seu jeito de cantar me lembrou Rosa Passos. Não a Rosa de hoje, arquétipo de celebridade, travestida por si própria em diva, cantora eterna de eternas bossas novas. Sua voz lembrou-me a Rosa Passos de 1979 do disco Recriação, quando me apaixonei por Formicida, corda e flor, logo depois gravada por Nana Caymmi.

Dani Gurgel é muita coisa.
Cantora, fotógrafa e blogueira, a menina tem tudo pra estourar. Só espero que não vire diva e nem celebridade.

7 comentários:

Anônimo disse...

poxa, a falta de paciência para novidades é uma questão séria! eu sempre digo, brincando: "parei no tim maia!". o que é uma verdade grande. mas vez ou outra pinta algo novo interessante. o problema é ficar de verdade....

Eli Carlos Vieira disse...

Ótimas sugestões.
Confesso que não sou ouvinte fiel de jazz, não me aprofundei nesse estilo. Fico normalmente com os mais conhecidos, como Louis Armstrong,Glenn Miller, Billie Holiday etc.
Entre novos, acho que é possível sim, ter ouvidos para eles - os tempos são outros (comparações são inevitáveis). Acho Michael Bublé notável.

Abração

ninguém disse...

Pois então não sou só eu que fiquei parada naqueles anos de ouro de nossa mpb! Vou dar uma espiada na Dani. Claro que tem gente boa. Talvez minha memória é que esteja ruim para atentar a coisas que prezo, como letra, afinação etc.
abs

Vanessa Dantas disse...

"... em busca das mesmas coisas, das músicas de Tom, Chico Buarque, Gil e Paulinho da Viola. [...] Só Cartola ou Nelson Cavaquinho me comovem. Só John Coltrane ou Bill Evans me fazem perder o prumo." Delícia de texto! Me identifiquei horrores! E nessa, sigo na mesmice. Mas ainda bem que tenho um grande amigo que quando aparece por Sampa, só me apresenta coisas boas. Das últimas, tive a oportunidade de conhecer: Cibelle, Tutti Baê e Rodrigo Rodrigues. Vale muito, recomendo os três!

A n d r e a disse...

eu tive uma fase crônica de só ouvir minhas queridissimas velharias, e foi difícil garimpar novos sons, viu. naquelas andanças encontrei muita mesmice, e me decepcionei especialmente com o rumo que tomou o jazz mineiro. parece que tudo virou uma coisa vercilo (êta sonzinho enfadonho, não sei se durmo ou babo).. mas enfim, valeu a pena por descobrir Simone Guimarães e seu Flor de Pão lançado pelo selo Biscoito Fino. sei lá, como minha verve é muito roquenrol, agora ando numa onda samba-rock, groove, motown - tudo na base da velharia, é claro. : )

A n d r e a disse...

ah! o Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - de Ariana para Dionísio, do Zeca Baleiro foi um dos meus melhores garimpos de 2007. puro deleite.
ao que me tem parecido, os lançamentos mais autênticos tem pairado nas esferas do recife, com os camaradas Bid, Wado & Realismo Fantástico, e o Apollo Nove. além do jazz manguetown, tem as bossas eletrônicas, tipo o Zuco 103 e o Pink Martini que também ninguém merece mais, né. acho que é por aí.

Anônimo disse...

Obrigada!!!

E não precisa se preocupar: Diva, celebridade... NUNCA!!
Mas blogueira sempre!