Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Bolo solado

Há receitas que, se seguidas à risca, parecem não ter chance de o negócio dar errado. Os ingredientes estão certos, os procedimentos corretos, a temperatura do forno, tudo perfeito, conforme a receita e, ao fim, o bolo sola. Faltou alguma coisa e não sabemos o que é.

Com música pode acontecer a mesma coisa. Pegue-se um repertório irrepreensível, daqueles que ninguém, com todos os parafusos na cabeça, tem coragem de questionar. Um repertório mais que respeitável, produto de primeira. Junte-se, no mesmo caldeirão, uma cantora especial, afinada, timbre bonito, voz forte. Para temperar, um grupo de músicos muito mais que competente. Gente do quilate de Cristóvão Bastos, Alceu Maia, Victor Biglione, Luciana Rabello e Robertinho Silva.

Pois foi com todos estes ingredientes que se produziu o disco A Minha Homenagem ao Poeta da Voz, de Selma Reis, cantando músicas de Paulo César Pinheiro. E não é que o bolo solou? O vatapá embolou, o pão não cresceu. Tudo certo: repertório, cantora, músicos. Só que não deu certo.

Cantar os sucessos de Paulo César Pinheiro pode parecer fácil, mas não é. A principal dificuldade, talvez, esteja, exatamente, na comparação com as gravações consagradas. Assim como o poeta têm inúmeros parceiros fixos, há intérpretes para os quais suas músicas caem como uma luva. Ninguém canta suas parcerias com Eduardo Gudin como a cantora Márcia. Os sambas que fez com Mauro Duarte ficam insuperáveis na voz de Clara Nunes. O conjunto MPB4 é o melhor canal para ouvir as músicas feitas com Maurício Tapajós, e os sambas de João Nogueira, nada melhor que ouvi-los com o autor.

Enfim, não se trata de um disco intragável. Mas é como aquele bolo que ficou mais ou menos, aquele que a gente até come um segundo pedaço, só pra agradar o dono da festa.

2 comentários:

Andrea Nestrea disse...

eu gosto de bolo solado!!!osmeus sempresão!! haha
beijos e um ano tão 20 quanto 10!!

Valéria Martins disse...

A Selma me levou às lágrimas, certa vez, por sua interpretação de Ne me quitte pas em um show no Teatro Rival, no Rio. Ela tem uma carga dramática incrível. Mas faz pouco sucesso, né? Uma pena.