Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Como nós

A principal virtude do filme Procurando Elly é desmanchar a imagem estereotipada que a mídia ocidental tenta nos passar do povo do oriente médio. Feito no Irã, o filme nos mostra pessoas absolutamente normais, com sonhos e excitações, algumas delas chulas (a maioria), como os que temos cá no ocidente. O único ponto que chama a atenção é o fato das mulheres ficarem cobertas dos pés à cabeça, o tempo todo, até mesmo quando entram no mar. Mesmo isso, entretanto, acaba nos parecendo absolutamente normal, após alguns minutos de exibição da fita, colaborando, positivamente, para o nosso exercício de tolerância com o que nos é diferente.

O filme tem um marco, exatamente na metade, quando um fato importante altera o comportamento dos personagens, até então, efusivo e alegre. A partir deste ponto, a trama passa a mostrar o quanto as pessoas tentam se esquivar de qualquer situação incômoda e começam a manejar a culpa como um instrumento de opressão. Se o comportamento da primeira metade do filme me incomoda, apesar de positivo, mas, justamente pela minha má vontade com estas situações de alegria imensa e exagerada, na segunda parte, regozijei com o filme, já que o comportamento negativo, absolutamente egoísta das pessoas, me pareceu muito mais próximo dos sentimentos sinceros do ser humano.

A alegria exagerada me incomoda. Me parece um artifício desonesto que as pessoas utilizam para convencer, a si próprias e aos outros, que na vida está tudo bem. Na vida nunca está tudo bem. A vida da gente é sempre feita de momentos de alegria e de tristeza, de consternação e de beleza, de fulgor e tédio. E são estas vicissitudes que a tornam rica e a nós, capazes de levá-la, para o lado que queremos. Quando nos enganamos e nos tornamos artificialmente alegres, deixamos de ser sujeitos para ser coadjuvantes.

Quando encaramos uma situação traumática, entretanto, e temos a possibilidade de enfrentá-la e matar nossos fantasmas, recorremos, freqüentemente, às ferramentas de autodefesa, dentre as quais, apontar o indicador pra frente é das mais utilizadas. E é isso o que passa a ocorrer na segunda metade do filme, em que cada personagem se apura em imputar culpas alheias, na tentativa de repassar o problema em lugar de tentar resolvê-lo. E nessa hora, mais uma vez, o filme mostra que os iranianos são exatamente iguais a nós.

Um comentário:

Romanzeira disse...

Opa, mais um para minha lista de filmes a assistir! rs...