Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 8 de março de 2014

Duas infâncias

Gostei tanto de ler a coletânea de textos do Antônio Prata publicados no Estadão entre 2004 e 2010, sobre o qual escrevi aqui no ano passado, que não titubeei em comprar seu último livro, Nú, de Botas. Desta vez não é uma coletânea esparsa, mas são textos em torno de uma só ideia, interessantíssima, aliás. São histórias leves e rápidas, relatando passagens de sua infância, algumas reais, outras inventadas, como ele mesmo reconhece. O que torna o livro muito legal é o fato de que a linguagem é atual e estruturada, como se àquela época, aquela criança já tivesse o domínio da articulação. Desta forma, as mais estapafúrdias ideias que se passam na cabeça de um guri de 4, 5 ou 6 anos de idade, recebem argumentação absolutamente coerente a justificar qualquer ato.
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Mais uma vez pude confirmar a agilidade da escrita deste ótimo autor, mas o que mais me chamou a atenção, entretanto, no livro, foram as referências de sua infância. Ao contrário do que aconteceu no livro O Drible, sobre o qual escrevi aqui, na semana passada, com cujas referências da juventude eu me identifiquei completamente, no livro de Antônio Prata, as referências eram também conhecidas, mas eram as da época da infância da minha filha e meus sobrinhos. Ele fala de playmobil, do programa do Bozo, de roupas de moleton. Na infância do autor, a TV é em cores, como na infância da Cecília. Na minha, a TV era em preto e branco e chegou bem tarde, ao menos em casa. No início, ainda era o rádio.
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Mesmo assim, mesmo com referências de infância que não são as minhas, foi possível me identificar, e muito.  Esta é uma das magias em se ter filhos. A gente ganha duas infâncias pra se lembrar.

7 comentários:

Clélia Riquino disse...

Legal a ideia de que os filhos nos proporcionam uma segunda infância... os netos nos proporcionarão uma terceira? e os bisnetos, uma quarta? Mas, aí, talvez, já não tenhamos memória pra guardar e relembrar tantas infâncias...!

Conheci o Antonio Prata, escrevendo na Capricho (editora Abril). Não que comprássemos a revista, mas lia seus textos pela Internet. As crônicas faziam parte da coluna: “Estive pensando...”, na qual ele refletia sobre assuntos juvenis, de forma interessante e bem-humorada! Depois, ele partiu pro público adulto. Também com qualidade.

Não li o livro, mas imagino que o título tenha a ver com alguma foto dele, criança, nu, de botas! (acertei?)

bj,
Clé

Unknown disse...

Eu tenho muitas memórias incríveis da minha infância... Junto com vocês. Lembro quando eu e a Cecília escrevíamos livros e vendíamos pra vocês nas nossas Bienais do livro. Lembro também das peças de teatro que nós apresentávamos. Lembro que eu queria ser engenheira, mesmo sem saber o que era isso. Lembro dos discos da Arca de Noé e do Rumo. Lembro da música que você compôs no aniversário da Cê... Foi bom demais!!!

Clélia Riquino disse...

Lembro também da infância de vocês com a gente, Bá! (nossos filhos 2 e 3...)

bjão,
tia Clé

Clélia Riquino disse...

Fiquei em dúvida, agora. Acho que lia as crônicas do Antonio Prata nas Capricho da Cê. (perguntarei pra ela)

Clélia Riquino disse...

Algumas foram publicadas também em livro: Estive pensando - crônicas de Antonio Prata. São Paulo: Marco Zero, 2003.

Unknown disse...

Goya, agora você vai ter que postar essa música citada pela Bartira. Pode ser?

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Putz, Pio. Não me lembro nem um pouco daquela música. Nem da melodia nem da lera. Só me lembro que foi uma obra prima, como todas que já compus.