No final do mês passado foi lançado o livro Direito à memória e à verdade, no qual, o Estado Brasileiro relata, oficialmente, os crimes e torturas praticados pela ditadura militar. Não vi ainda o livro, já que a primeira edição, com 5 mil exemplares, será distribuída a comissões de familiares, centros de pesquisa, imprensa, parlamentares e bibliotecas públicas. Entretanto, uma versão eletrônica da publicação já está disponível nas páginas da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e na do Movimento Nacional de Direitos Humanos.
O que me chamou à atenção, na verdade, foi a diferente abordagem que duas revistas semanais deram à notícia do lançamento.
Enquanto a Carta Capital noticia o lançamento, mostrando a postura firme do governo e também as reações contrárias (Jarbas Passarinho) ou neutras (Delfim Netto), a Revista Veja aborda o fato, alertando para os perigos do revanchismo. A reportagem da maior revista semanal de notícias do Brasil, admite, timidamente, a correção com que os fatos são narrados no livro, mas ressalta, de forma covarde, o quanto essa iniciativa pode melindrar setores das forças armadas, descontentes com a total abertura dos arquivos da ditadura. Mais adiante, o texto de Veja abandona o tom de covardia para, aí sim, adotar um discurso revanchista, ao dizer que “o livro descreve em detalhes a selvageria que se instalou nos porões da ditadura contra os militantes de esquerda – boa parte, nunca é demais repetir, disposta a qualquer coisa para instalar uma ditadura comunista igualmente sangrenta no país”.
Com isso, a revista tenta, na prática, justificar, por exemplo, o comprovado hábito de decapitar os guerrilheiros do Araguaia. Ela se posiciona como se entre as duas facções em luta, não houvesse uma que era constituída pelo Estado Brasileiro, e que deveria, portanto, seguir a lei. Ela se esquece que, num governo democrático, o Estado deve combater aqueles que desrespeitam a lei, utilizando apenas artifícios e ferramentas absolutamente legais.
O que me chamou à atenção, na verdade, foi a diferente abordagem que duas revistas semanais deram à notícia do lançamento.
Enquanto a Carta Capital noticia o lançamento, mostrando a postura firme do governo e também as reações contrárias (Jarbas Passarinho) ou neutras (Delfim Netto), a Revista Veja aborda o fato, alertando para os perigos do revanchismo. A reportagem da maior revista semanal de notícias do Brasil, admite, timidamente, a correção com que os fatos são narrados no livro, mas ressalta, de forma covarde, o quanto essa iniciativa pode melindrar setores das forças armadas, descontentes com a total abertura dos arquivos da ditadura. Mais adiante, o texto de Veja abandona o tom de covardia para, aí sim, adotar um discurso revanchista, ao dizer que “o livro descreve em detalhes a selvageria que se instalou nos porões da ditadura contra os militantes de esquerda – boa parte, nunca é demais repetir, disposta a qualquer coisa para instalar uma ditadura comunista igualmente sangrenta no país”.
Com isso, a revista tenta, na prática, justificar, por exemplo, o comprovado hábito de decapitar os guerrilheiros do Araguaia. Ela se posiciona como se entre as duas facções em luta, não houvesse uma que era constituída pelo Estado Brasileiro, e que deveria, portanto, seguir a lei. Ela se esquece que, num governo democrático, o Estado deve combater aqueles que desrespeitam a lei, utilizando apenas artifícios e ferramentas absolutamente legais.
O governo da época não era democrático. Não havia se constituído através de um processo legal. O governo, à época, era o resultado de um infame golpe de estado que contou com o apoio das mais retrógradas parcelas da nossa sociedade. Nem por isso, entretanto, podemos admitir que se permita que a história fique escondida debaixo da cama, como um cão medroso.
12 comentários:
Bela iniciativa do governo... não tem porque se falar em melindre de Forças Armadas ou coisa assim: é a história e pronto!
Perfeito, Arnaldo!
E a Veja... Bem, não podemos esperar outra posição da Veja, ela é a voz dos lambedores de botas de quartel.
A Claudia disse bem: é história e pronto, não importa o que digam os reacionários.
Fico imaginando como se poderia estudar História se a referência fosse melindrar esses e aqueles.
Quanto a Veja, é impressão minha ou ela está ficando cada vez mais marronzinha????
Arnaldo,
A revista Veja é vergonhosamente contrária ao governo que jogam sujo, comprometendo até o seu próprio nome(se é que tem algum).
Bjs
acompanhei este embate, Lula recebeu várias criticas, inclusive da própria esquerda que esperava que ele fizesse mais...
ainda bem que temos jornalistas como Mino Carta no país...
Arnaldo,
a partícula "que" está errôneamente colocada na frase, por favor desconsidere.
Bjs
Acho que como o nome do livro mesmo diz, é um DIREITO. Triste é só constatar que indivíduos sem pensamento crítico ainda reproduzam as falácias que a Veja gosta de publicar.
Cláudia,
Também achei muito corajosa a iniciativa do governo. Este governo do qual eu esperei tanto e que tanto tem me deixado desgostoso.
Bruno,
Eu não espero muita coisa da Veja não. Só que fico meio indignado, de vez em quando. Mas logo eu volto pro mundo real.
Vivien,
A veja já está marronzíssima!
Maria Helena,
Acho que a maioria dos grandes órgãos da imprensa perderam completamente a idoneidade.
Graziana,,
Embora eu ache o ego do Mino Carta exageradamente inchado, a sua revista, a Carta Capital, é a única que eu consigo ler.
Isadora,
O problema é que a Veja, com seu mais de 1 milhão de tiragem, não pode ser desprezada, apesar das mentiras, apesar das falácias. É como acontece com a Folha de São paulo, como acontece com o programa do Jô. Eu não sou contra a liberdade de imprensa, mas quando comparamos a tiragem da veja com a da carta Capital (1 milhão contra 65 mil exemplares), dá um grande desânimo.
Eu já fui acusado de muitas coisas. Mas é a primeira vez que me qualificam como alguém que não tem pensamento crítico. OK. Mais uma pra minha lista.
Sempre vão existir os dois lados da moeda. Em relação às Forças Armadas, o melindre vai continuar existindo até que se aposentem os últimos militares que participaram dos anos de ditadura. Eu, que cresci odiando os militares (minha família sentiu na pele), hoje sou casada com um que tem uma cabeça completamente diferente dos dinossauros e torce para que eles caiam fora logo. Também aprendi que nem todo mundo que "lutou contra" a ditadura era santo. De qualquer modo, o que sempre me deixa revoltada é saber quantos inocentes pagaram o pato.
Quanto à Veja, faz tempo que essa revista precisa de uma recauchutada. Particularmente, nem gasto mais meu parco dinheirinho comprando essa porcaria...
E vou ter que discordar da Isadora: Arnaldo pode até não ter as mesmas idéias que eu, mas que tem pensamento crítico, tem sim.
Bem, relendo meu comentário, percebo que a ironia que eu queria fazer não ficou bem clara na última parte... :o) Era só uma brincadeira pra dizer que é indiscutível que o Arnaldo tem um pensamento crítico...
E o pior, Dani, é que eu nem comprei a Veja. Ela estava na poltrona do avião quando eu voltava de Porto Alegre. Li a reportagem e lembrei-me da notícia que havia lido na Carta Capital. Faz tempo que deixei de ler a Veja. Aliás, a Veja e a Folha de São Paulo.
Se esse livro causou essa bazófia toda, imagino o que não foi o lançamento do "Brasil: Nunca mais!"
Meu pai tinha o livro em casa. A capa em vermelho berrante chamava a atenção. Lembro de ter lido naquelas páginas, ainda muito menino, algumas das táticas de tortura da ditadura.
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