Ela começa sua análise reconhecendo que estas definições têm variado ao longo do tempo, de acordo com a ideologia de quem as profere e com o contexto em que elas estão inseridas. Sem nenhuma análise de juízo moralizante, conceitua a pornografia como um discurso em que a descrição do corpo nu ou a utilização de suas partes no exercício do ato sexual é feita com o único objetivo de produzir a excitação de uma pessoa. O discurso pornográfico torna o ato sexual transparente, em que o sexo surge sem relação com o sujeito. O discurso pornográfico, segundo ela, apresenta uma sexualidade sem mistério, sem intimidade.
Já o erotismo trabalha as diferentes formas dos mitos e fantasmas dos seres humanos. É um discurso que encara a sexualidade como não sendo apenas confinada ao sexo, mas envolvendo uma história, onde se inscrevem as relações que se estabelecem entre o desejo e o interdito, o encontro e o desencontro, o prazer e a dor, o sonho e a realidade, o amor e a morte.
Apesar de concordar, de forma geral, com essas definições, eu tendo a não supervalorizar o erotismo em detrimento da pornografia. Na verdade, não tenho nada contra a pornografia. Acredito que, enquanto qualquer manifestação artística de erotismo tenha a capacidade de nos proporcionar prazer, uma obra pornográfica pode também alcançar esta façanha. Por sua típica pobreza de enredo e de substância, qualquer manifestação de pornografia acaba exigindo muito mais criatividade para extrair alguma satisfação consistente. E é justamente aí que pode residir uma fonte, ainda que indireta, de prazer. Pois neste caso, ao invés do prazer que obtemos ao ler um texto erótico, a história que nós mesmos criamos, a partir de um objeto pornográfico (seja ele um filme, uma foto de revista, um conto) é que vai nos propiciar esta sensação. E o prazer de estar criando esta história, isso por si só, já nos satisfaz.
Satisfação, aliás, é o que pode ser conseguido com qualquer obra de arte, erótica ou não. O prazer se manifesta de muitas maneiras. E, apesar de reconhecer muitas outras funções da arte, é a geração de prazer aquela que mais me toca. É a mais básica.
Foram as revistinhas de Carlos Zéfiro (os chamados catecismos) que forjaram a sexualidade da minha geração. Na época, eram absolutamente proibidas e consideradas maleficamente pornográficas. Seu autor as publicava num esquema de completa clandestinidade, temeroso de ser descoberto e sofrer os rigores da lei. Mais tarde, muito mais tarde, descobriu-se que se tratava de Alcides Caminha, um funcionário público carioca, parceiro de Nelson Cavaquinho em dois ou três ótimos sambas. Hoje, estas revistas são consideradas obras de um universo cult. Hoje, são objetos de arte erótica. Tudo muda. Muda com o tempo, muda como as pessoas mudam.
Voltando a falar do livro, ele tem a interessante característica de reunir contos eróticos escritos apenas por mulheres. Escritoras brasileiras e portuguesas. E aí, podemos nos deparar com a maneira com que as mulheres escrevem erotismo. É diferente da dos homens. E as mulheres portuguesas escrevem de maneira diferente das brasileiras. Toda diferença enriquece. Viva a diversidade!
10 comentários:
Diante da sua explanção, sobre o livro, não tem como não aguçar a curiosidade e a vontade de lê-lo...
Bom domingo,
Abraço...
Não sei... acho que a maior pobreza da pornografia é não deixar nada pra nossa imaginação advinhar... já o erotismo cria imagens mentais poderosas.
uma das grandes hipocrisias do nosso tempo, a despeito de todo o avanço, continua sendo o sexo.
olhar para o que as pessoas fazem, descobrir que fazem coisas diversas e têm desejos viscerais mexe com muitas coisas na gente: coisas que aprendemos sobre o que é certo e errado, sobre como deveríamos nos comportar, sobre como viver as emoções sexuais.
não sei definir bem a diferença entre pornografia e erotismo, para além deste senso comum do explícito e do sugerido.
mas tendo a achar que busca (ou prefere) o erotismo quem vive, ao mesmo naquele momento, um ideal de amor romântico, e então compreende o sexo como uma expressão de amor.
e curte a pornografia, mais explícita e sacana, quem consegue aceitar em si (ou nos outros, que seja) a separação destas duas coisas.
eu gosto de ambos.
Tendo a concordar com a Márcia, beijos.
Arnaldo, fiquei também curios para ler os contos. Acho que a comparação mais interessante entre o jeito mulher e o jeito homem de escrever textos eróticos se dá ao ler Anaïs Nin e Henry Miller. Um outro texto interessante é o livro "A Casa do Budas Ditosos", do João Ubaldo Ribeiro: é escrito por um homem, mas é uma narrativa na primeira pessoa de uma personagem mulher.
Arnaldo, adorei o post. Realmente, aguçou a curiosidade. Também acredito ser muito tênue a linha que separa erotismo e pornografia. Acho que está muito na mente da pessoa, dependendo do momento, do contexto, do local... sei lá. Posso ver uma cena e chamá-la de pornográfica num dia em que estou de mal com o mundo e dizer que a mesma cena é erótica num dia em que estou mais à vontade com a vida. Difícil explicar... Mas o livro já está na minha "to do list". hehehe
Mineira,
Que bom que o texto te aflorou a curiosidade.
Cláudia,
Penso justamente o contrário. Por nos oferecer tão pouco é que a pornografia exige muito mais de nossa imaginação.
Márcia,
Interessante o teu enfoque. Tenco a concordar com ele, como fez a Vivien. De qualquer maneira, nessas questões de sexo, a hipocrisia sempre tende a dar uma travada nas pessoas. Também gosto de ambos.
Jayme,
Li Delta de Venus e Trópico de Cancer quando era adolescente ainda. Lembro-me que ambos me instigaram, mas precisaria ler de novo pra verificar o efeito. Já do livro do João Ubaldo eu não gostei. Nem eu nem a Clélia. Mas conheço muita gente que adorou.
Dani,
Acho que você acertou na mosca. Essas definições não servem pra nada. A gente é que deve decidir. Depende do nosso humor.
Concordo quando vc diz que o prazer se manifesta de muitas maneiras. Hoje, tende-se a ligar o prazer somente a penetração, esquecendo-se do imenso prazer que causa o mistério e a sensualidade, e é lógico a nossa imaginação. E por sermos indivíduos únicos, cada qual se excita e se satisfaz com manifestações diferentes. E que gostoso é descobrir o prazer do outro. E se deixar descobrir...
Um brinde a diversidade.
carlos zéfiro ainda é pouco conhecido (da nova geração, então, nem se fala, talvez de alguns que tenham comprado os CDs de Marisa Monte que trouxeram os exemplares junto) e reconhecido pelos "serviços prestados". acho que a fronteira entre pornô e erótico passa também pela questão do bom gosto e do mau gosto. enfim, coisas para se conversar muito.
mas vim desejar a vocês um bom início de primavera neste domingo.
abraços
ola pessoal eu peguei tal imagem ai dessa mulher..ptz perdao espero q vc n se incomode..caso se incomode me avise pelo e-mail: sra.deh@hotmail.com
ai tirarei de meu blog ^^ te mais bjokis hmm adorei tal esse blog
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