Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 23 de setembro de 2007

Rebeldia e Lirismo

Por incrível que pareça, a primeira vez que vi este grupo foi no programa Silvio Santos. Eu era menino, nem adolescente ainda. Era a época mais negra da ditadura militar, com Gil e Caetano exilados e Chico Buarque fora do país. Nada que parecesse revolucionário ou questionador tinha chance de aparecer, sobretudo na televisão. E de repente, ver aqueles jovens mal ajambrados, com roupas que não combinavam com nada, cabelos e barbas longas e amarfanhadas ao lado do apresentador todo empertigado, era a maior demonstração de rebeldia que eu já tinha visto. Reunia os baianos Morais, Galvão, Paulinho boca de cantor e Pepeu e a carioca Baby. Tratava-se dos Novos Baianos. Eu não conseguia tirar os olhos da tela. O que mais me impressionava, porém, era a música que eles faziam. Fiquei fascinado.

Seu segundo disco, Acabou Chorare é um verdadeiro clássico. Com uma formação que já havia agregado o baixista Dadi, além de Jorginho, Baixinho e Bolacha, produz um som cheio de influências, das mais autênticas, da música brasileira. A primeira faixa resgata um antigo samba de Assis Valente interpretado de forma deliciosa.



Quando eu ouço a canção Preta Pretinha, lembro-me de meu sogro. Anti-comunista ferrenho, ele considerava o termo “maconheiro”, a ofensa máxima que poderia lançar para uma pessoa. Ele adorava esta música, sem imaginar o que significava a expressão “enquanto corria a barca”. Morreu sem saber. E eu nunca quis lhe contar para não desiludi-lo.



A canção que mais gosto do disco é, provavelmente, a que mais gosto entre todas as que o grupo gravou. Trata-se de Acabou Chorare, de um lirismo impressionante.



Desfeito o grupo, cada um seguiu seu caminho, buscando uma carreira solo. Hoje estão meio sumidos, mas Morais e Baby até fizeram bons discos. Pepeu fez um primeiro disco sensacional, chamado Geração do som e depois enveredou por caminhos cada vez mais comerciais e mais cômodos.

Galvão escreveu um ótimo livro contando a vida do Grupo com histórias deliciosas e explicando seu conceito de vida em comunidade. O livro chama-se Anos 70: Novos e Baianos e é dificílimo de encontrar. Nele, fica evidente a identificação que o grupo teve com a cidade de São Paulo, registrada nos belos versos da canção Sampa, de Caetano Veloso:


Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
mais possível novo
quilombo de Zumbi
e os Novos Baianos passeiam na tua
garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa.

4 comentários:

Clélia Riquino disse...

(...) E de repente, ver aqueles jovens mal ajambrados, com roupas que não combinavam com nada, cabelos e barbas longas e amarfanhadas ao lado do apresentador todo empertigado, era a maior demonstração de rebeldia que eu já tinha visto. (...)

Você caprichou no vocabulário, hein?!

ajambrar
Verbo transitivo direto
Verbo pronominal
Arrumar(-se), ajeitar(-se).

amarfanhado
Adjetivo
1. V. amarrotado (1 e 2).

empertigado [Particípio de empertigar]
Adjetivo
1. Teso, direito, aprumado: Tem um andar empertigado; “A seu lado, conspícuo, empertigado, fato novo a pear-lhe os gestos, o marido tentava vãmente sofrear-lhe o choro com um gaguejar de palavras de consolação.” (José Gomes Ferreira, O Mundo dos Outros, p. 128).
2. Orgulhoso, vaidoso, altivo.

empertigar [De em + pértiga + -ar]
Verbo transitivo direto
1. Tornar teso, direito: O colete de gesso empertigava-o.
Verbo pronominal
2. Aprumar-se, endireitar-se: O sargento empertigou-se diante do tenente.
3. Tomar ares altivos ou soberbos.

Gosto muito de Preta Pretinha e ela também me faz lembrar meu pai... Pela mesma razão que você.

Bjo,
Clé

Graziana Fraga dos Santos disse...

preta pretinha faz lembrar meu dindo, ele sempre cantava esta música pra mim :)

tentei me cadastrar nesta comunidade de música, estou tentando me achar :)

Anônimo disse...

Ha! Não era só o seu tio que não sabia o significado da expressão... estou rindo até agora.

Limonada disse...

Eu adoro novos baianos!!! Principalmente "A menina dança".