Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Revirando-se no túmulo

Tenho uma auto-reconhecida má vontade com as modernidades em geral. Já fui chamado de mal-humorado, por causa disso, coisa que, provavelmente, sou mesmo. Tenho procurado, então, exercitar mais minha capacidade de tolerância e foi com esse espírito que resolvi ouvir o disco de um tal Teddy Correa chamado Loopcinio em que canta clássicos de Lupicínio Rodrigues. Antes de ouvir, dei uma pequena olhada na internet e descobri que o moço é vocalista de uma banda chamada Nenhum de Nós da qual, sinceramente, nunca ouvi falar. Li também que, no disco, ele fazia uma “releitura” da obra de Lupicínio, inserindo uma levada mais moderna às músicas do homem. Isso me arrepiou, já que tenho certa aversão a esta coisa de releitura. Mesmo assim, resolvi arriscar, já que naquele momento estava de bom humor, estado de espírito que se alterou imediatamente, após poucos segundos de audição.

O pior é que resolvi ouvir, de cara, a faixa com a música que eu mais gosto do grande compositor gaúcho. E se eu tinha me arrepiado com a idéia, meu corpo todo estremeceu quando meus tímpanos captaram aquela blasfêmia. Sou obrigado a confessar que não ouvi a faixa até o fim. Por isso, vou achar compreensível que vocês não consigam fazê-lo quando clicarem no comando colocado aí embaixo:



(Nervos de Aço com Teddy Corrêa)

Fiquei imaginando Jamelão, o grande intérprete de Lupicínio, ouvindo esta barbaridade. Fiquei imaginando Noite Ilustrada, do qual tenho um disco lindo, cantando, com sua voz elegante, as canções do mestre. Certamente choraria de desgosto. Mais do que isso, fiquei imaginando o próprio Lupicínio, dando voltas no caixão, urrando de ódio, protestando contra esta heresia.

Só sei que ouvir este disco, ou melhor, ouvir um trecho desta faixa, me causou profunda azia. Dois envelopes de sal de frutas não foram suficientes pra me curar. Fui obrigado, então, a buscar correndo, este remédio, mais do que isso, este antídoto aí embaixo:



(Nervos de Aço com Paulinho da Viola)

12 comentários:

A n d r e a disse...

meu querido e bom, quer dizer, mau humorado Arnaldo, vou te contar, que horror, meu amigo. o tal de nenhum de nós é uma daquelas náuseas dos anos oitenta, junto com kid abelha, kid vinil, e outras aversões. é droga pesada. fiquei imaginando vc atirando o tal cd longe, muito mal humorado mesmo. eu tb ficaria. argh.

Diego Moreira disse...

Camila-a! Uou! Camilaaaa!

Você deve ter ouvido isso há mais de vinte anos, Arnaldo.

O Theddy Correa era, para mim, um dos melhores daquela safra - ruim - do rock nacional dos anos oitenta. Dobrava e guardava o Renato Russo e o Cazuza no bolso.

Mas, justamente por conhecer seu estilo - e pelo trocadilho horroroso no título do disco, eu já sabia que o troço não podia dar certo. A única coisa que o cantor e o compositor cantado têm em comum é a origem no Rio Grande. Ambos são de Porto Alegre. Mais nada.

Não me dei nem o trabalho de ouvir a faixa. Já a do Paulinho... Um primor! Um primor!

Eli Carlos Vieira disse...

Tudo é questão de um monte de fatores. Nunca fui de T.Correa, muito menos de Nenhum de Nós (ele dobrava e guardava Russo e Cazuza? Sei não, sei não...)
Desta faixa do Thedy só fico com o arranjo louco, que me agrada sobretudo da segunda parte em diante (eu mudaria as batidas/percussão), justamente pelo quesito modernidade!
Mas, com siceridade, nem a versão de Paulinho me falou algo...
Prefiro, sim, a versão que Jamelão interpreta! Aí o instrumental e o vocal fluem, sem frescurites ou "lances intimistas". A voz chorosa e descompromissada de Jamelão dá um significado a mais à letra, que é muito doce!

Abração, Arnaldo!
E não te acho mal humorado não. Afinal, ter opinião convicta sobre coisas da vida não pode ser confundida com personalidade negativa e/ou mal humorada...´
Estás é certo!

Valéria Martins disse...

Vc que gosta de música instrumental brasileira: conhece um violonista chamado Zé Paulo Becker?

Assisti a um show dele em 2009 e fiquei encantada. Uma música viva e vibrante, alegre! Eu adoro alegria.

Acabei ganhando o novo CD de presente de Natal. Chama-se Pra tudo ficar bem, da Biscoito Fino. Procura ouvir e me diz.

Beijos

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Pois é, Andrea, eu abomino essas bandas dos anos 80. Acho que já sou mal humorado desde aquela época.

Diego, pra te falar a verdade, eu até conseguia digerir alguma coisa do Cazuza, mas o Renato Russo, eu nunca engoli. Aquela voz me lembrava o Jerry Adriani, e aí, não dava pra ouvir.

Eli, gosto muito do Jamelão, mas o Paulinho da Viola, pra mim, sempre vai ser imbatível.

Valéria, eu só tenho, do Zé Paulo Becker, o disco Lendas Brasileiras, de 2001, recheado de clássicos. Uma maravilha! Estou, aliás, ouvindo este disco agora, motivado pelo teu comentário. Vou procurar ouvir o disco novo que você recomendou.

Romanzeira disse...

AAAAIII MEUS TÍMPANOS!!! Ainda bem que vc colocou o antidoto!
Também detesto releituras, principalmente de classicos. O classico é um classico, deve ficar como está, sem releituras, cantados por aqueles que entendem do riscado e que principalmente não vão macular sua beleza.
A voz do Paulinho, a batida do pandeiro, o violão ao fundo, são um bálsamo para a alma e os ouvidos em qualquer ocasião, principalmente depois de ouvir uma heresia musical.

* * * *

Nenhum de nós é uma banda de rock dos anos 80, tem umas duas ou tres musicas que tocaram muito no rádio - e que eu até gosto - mas o resto do repertorio deles é sofrível.

Romanzeira disse...

Meu avô tinha um disco lindo do Noite Ilustrada. Realmente a voz dele é muito elegante.

Diego Moreira disse...

Arnaldo, acho que o Thedy Correa e o Nenhum de Nós formavam, pelo menos, um grupo sério. O Cazuza era um garoto zona sul bem instruído e mau caráter que ganhou espaço na gravadora do pai. O Renato Russo viveu às custas do complexo de patinho feio dos adolescentes perteurbados - coisa que ele foi e conhecia bem. Uma dupla e tanto. Até já gostei. Hoje não dá mais. Inclusive o Nenhum de Nós.

Abraço.

Tatiana disse...

É..tem que concordar com você. Coisa esquisita.
Difícil mesmo.

Eli Carlos Vieira disse...

Seriedade para mim, Diego, não diz nada quando quesito é música. Ainda mais na modalidade rock. O chato é que este Thedy é quem misturou tudo...
Ser sério, caricato, depressivo, cômico, boêmio...são fatores que não podem ser levados em conta quando se analisa a obra. Se Nenhum de Nós era apenas um grupo sério, tudo bem, mas na música daquela época eu realmente acredito que Cazuza, Russo, Titãs, Paralamas entre outros representavam bem mais o que escreviam/cantavam do que Nenhum de Nós. O que importa para mim é a música, a letra, a melodia e não a qual estilo seus intérpretes são. Tudo bem, tudo é relativo, mas não dá para falar que somente porque os caras eram "sérios", que podem ser chamados melhores que outros, por serem drogados, bixas e desregrados...
Enfim, questão de opinião.
Abraços a todos!

Guilherme Lisboa disse...

Arnaldo,
realmente, essa versão é um lixo! Fiquei curioso e, de fato, não consegui escutar até o final (aguentei só até 0:52).
Dei muita risada aqui com o seu texto, mas, nesse caso, definitivamente, não se trata de ser ou não mal-humorado.
Abraço, Gui

Raquel disse...

Ô gente preconceituosa!
Eu também na primeira escutada desgostei,mas sou musicista!Tinha que ouvir com imparcialidade e ouvi a segunda,terceira,quarta vez e A DO REI!
É releitura das boas!
Ficou eletrônica a música do Lupi e completamente diferente!
Isto é ousado e foi feito com conhecimento1
Amo o Lupi e todas a sua obra e acho que este é um jeito excelente de imortaliza-lo!Viva o Tedy Correa!