Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago

Fui ler Saramago pela primeira vez quando ele já tinha escrito muitos livros. E foi O Evangelho segundo Jesus Cristo, o primeiro que me arrebatou. Escrito por um ateu convicto, foi fácil me identificar com ele. Sua narrativa, sem pontuação, embora me tenha parecido difícil, no começo, depois de 15 ou 20 páginas, me pareceu a coisa mais natural do mundo. Mergulhei naquelas páginas que mostravam um Cristo humano, sem divindade, muito mais crível. E eu que não creio no Cristo divino, passei a crer no Cristo homem.

Depois foi Ensaio sobre a Cegueira que me absorveu. Eu o li de um fôlego só, absorto, angustiado. Que delícia ler algo que te consome, que te prende, que te estimula a ficar refletindo o tempo todo.

Do terceiro, A Caverna, não gostei tanto. Talvez estivesse num grau de exigência muito grande, expectativa criada pelos dois anteriores. Pensando naquele livro, agora, lembro-me que, apesar da aparente falta de entusiasmo, ele também me prendeu a suas páginas. Memorial do Convento, li o começo e não prossegui, sem desistir, postergando a leitura. Nunca mais li nada dele. Tenho a estante com alguns livros seus, ainda virgens pra mim.

E agora Saramago está morto. A morte que ele tratou através de suas intermitências num livro que faz parte da virgindade da minha estante. Morreu o escritor que está entre os que eu mais admiro e que mais me proporcionaram prazer com a leitura. Um prazer genuino, um prazer emocionante. Mais que o escritor, admiro o pensador, o homem que teve a coragem de morrer ateu e comunista, numa época em que estas duas coisas estão fora de moda.

Um comentário:

Beatriz Fontes disse...

O meu preferido é Todos os nomes, mas gosto demais do Memorial do Convento, também. E de quase todos os romances.