Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 5 de junho de 2010

Motivação e talento

Na juventude, cometi alguns poemas e outras tantas letras de música que fiz o favor de não mostrar a muita gente, livrando, assim, a humanidade, de experiência tão infeliz. Escrevi alguns contos, poucos, que minha autocensura não me permite mostrar a ninguém, nem mesmo à Clélia. Talvez, algum dia, mostre a ela, ao menos. Por enquanto, ainda não decidi se servem pra alguma coisa. Apesar da convicção da falta de qualidade dos versos e da incerteza em relação aos contos, fico insistindo em escrever. É como se fosse um vício incontrolável.

Minha dificuldade em escrever sempre encontrou desculpas e justificativas, sobretudo a falta de tempo, a mais comum de todas. Até que um dia, quando me mudei, sozinho, para o interior, deixando a família em São Paulo, durante um ano, antes que todos se mudassem pra cá. A partir desta perspectiva, a de ter, durante a semana, toda as noites livres e só, excitei-me com a expectativa de poder escrever como um louco. Não produzi uma linha. Mas vivi um ano inteiro atormentado, como se algo quisesse sair de mim, aprisionado.

Acabei encontrando espaço e motivo neste blog. Não sei bem qualificar isto que eu escrevo. Talvez sejam crônicas, talvez nem isso. Como falo freqüentemente sobre livros, filmes e discos, há quem diga que escrevo críticas. Não é isso. Não me sinto apto a criticar o trabalho dos outros. O que eu faço, na verdade, é me apropriar da obra alheia e fazê-la servir de mote pra que eu fale as coisas que habitam minha cabeça. O que importa é que este espaço acabou me proporcionando um certo sossego, uma tranqüilidade que eu não tinha antes.

Tudo isso pra falar do livro que estou lendo agora, por que escrevo?. Na verdade, foi como escrevo?, da mesma série, que comecei a ler. Acontece que o início da leitura de um remetia tantas vezes ao outro, que resolvi inverter a ordem e investigar o porquê, antes do como.

Organizado por José Domingos de Brito, o livro traz depoimentos, trechos de reportagens ou entrevistas, em que escritores renomados, do Brasil e do resto do mundo, tentam explicar o motivo que os levam a exercer esta atividade. O que os move, o que os motiva, sendo que nem sempre, pra não dizer quase nunca, conseguem chegar a uma resposta que os convença a eles próprios.

Ler estes depoimentos acabou me causando certo alívio, ao perceber que essa obsessão inexplicável não é exclusividade das almas desprovidas de talento.

Um comentário:

Valéria Martins disse...

Oi, Arnaldo! O livro está esgotado, né? Que pena. Mas vc deveria mostrar as crônicas, não sei se em um blog, mas em uma edição independente, que tal? Várias editoras trabalham nesse esquema em que o editor e o autor dividem os custos. Fazem uma tiragem pequena e uma grande festa de autógrafos, onde a intenção é vender a maior parte dos livros.

Bem, pense nisso. Beijos, boa semana.