Foi por absoluta covardia que resolvi estudar engenharia. O que eu queria, mesmo, era estudar história. O fato de ter feito o curso técnico em eletrônica, aliado a uma convicção de que cursando história eu teria uma carreira com mais dificuldades de ganhar dinheiro, me levou pra engenharia. Mal sabia eu que, em qualquer carreira, é muito difícil alcançar um patamar no qual se seja bem remunerado. Tem que ralar muito e demora pacas.
Além do mais, ao terminar o curso médio (naquele tempo chamava-se colegial), comecei a trabalhar na indústria e, já ganhando um salário que eu julgava bom (leda ilusão), seguir pra faculdade de engenharia era o caminho natural.
Pra compensar isso, dirigi todas as minhas leituras para os livros de história, que dividiam minha estante com aqueles que tratavam de cálculo, física e transistores. E assim, minhas leituras, nessa época, desprezaram as obras de ficção, que tanto tinham me seduzido nos anos anteriores. Larguei a prosa e a poesia e fiquei, cada vez mais, focado em textos que tratassem de política, filosofia e biografias.
Há tempos fiz as pazes com a ficção, quando me caiu nas mãos o livro Quase Memória do Carlos Heitor Cony, que me fez voltar aos romances e contos, com voracidade. E, durante todo este tempo, tenho deixado de lado os livros de história. A exceção foram os livros de Elio Gaspari, da quadrilogia que trata da ditadura militar, que eu li de um só fôlego. E agora, acho que pra matar as saudades de outros tempos, acabei de ler o livro D. Pedro II: Ser ou não ser, da coleção Perfis Brasileiros, escrito por José Murilo de Carvalho.
Nos meus tempos de devorador de livros de história, sem nenhum critério mais acadêmico, o que me seduzia era o período republicano, sobretudo depois dos anos 1930. A história colonial e o império nunca tinham me provocado muita curiosidade. Este livro, entretanto, mudou isto. E passei a entender por que a figura de Pedro II sempre foi tão simpática ao povo brasileiro, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Avesso à pompa e circunstância, típicas da nobreza e dos regimes monarquistas, D. Pedro era um homem à frente do seu tempo. É uma pena, aliás, que esta frase tenha virado um clichê, pois no caso dele, ela se aplica perfeitamente.
Um homem afeito às artes e à ciência, tinha como principal deficiência a capacidade de articulação política, numa época em que os partidos conservador e liberal mandavam na cena, no Brasil. Apesar disso, seu reinado durou 49 anos, apenas suplantado pelo da Rainha Vitória, na Inglaterra, à mesma época. Teimosia e indecisão foram duas características que o fizeram cometer, ao menos dois erros estratégicos e que acabaram lhe custando o trono. A primeira característica o levou a insistir na continuidade da guerra do Paraguai, num momento em que uma solução diplomática poderia ter dado um fim à disputa, evitando as atrocidades cometidas pelo exército brasileiro no final do conflito. Sua posição em relação à abolição, claramente favorável, não foi acompanhada de uma atitude mais firme, levando o Brasil ao vergonhoso fato de só ter abolido a escravidão mais de vinte anos depois dos Estados Unidos. Claramente simpático ao ideal republicano, viu este sistema ser implantado através de um golpe de estado, o que fez o país regredir muitos anos no que diz respeito à democracia.
Aliás, todas as grandes transformações políticas no Brasil, a partir de então, foram resultado de golpes de estado. Triste vocação de um país cujo povo resiste e insiste na alegria.
Pra compensar isso, dirigi todas as minhas leituras para os livros de história, que dividiam minha estante com aqueles que tratavam de cálculo, física e transistores. E assim, minhas leituras, nessa época, desprezaram as obras de ficção, que tanto tinham me seduzido nos anos anteriores. Larguei a prosa e a poesia e fiquei, cada vez mais, focado em textos que tratassem de política, filosofia e biografias.
Há tempos fiz as pazes com a ficção, quando me caiu nas mãos o livro Quase Memória do Carlos Heitor Cony, que me fez voltar aos romances e contos, com voracidade. E, durante todo este tempo, tenho deixado de lado os livros de história. A exceção foram os livros de Elio Gaspari, da quadrilogia que trata da ditadura militar, que eu li de um só fôlego. E agora, acho que pra matar as saudades de outros tempos, acabei de ler o livro D. Pedro II: Ser ou não ser, da coleção Perfis Brasileiros, escrito por José Murilo de Carvalho.
Nos meus tempos de devorador de livros de história, sem nenhum critério mais acadêmico, o que me seduzia era o período republicano, sobretudo depois dos anos 1930. A história colonial e o império nunca tinham me provocado muita curiosidade. Este livro, entretanto, mudou isto. E passei a entender por que a figura de Pedro II sempre foi tão simpática ao povo brasileiro, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Avesso à pompa e circunstância, típicas da nobreza e dos regimes monarquistas, D. Pedro era um homem à frente do seu tempo. É uma pena, aliás, que esta frase tenha virado um clichê, pois no caso dele, ela se aplica perfeitamente.
Um homem afeito às artes e à ciência, tinha como principal deficiência a capacidade de articulação política, numa época em que os partidos conservador e liberal mandavam na cena, no Brasil. Apesar disso, seu reinado durou 49 anos, apenas suplantado pelo da Rainha Vitória, na Inglaterra, à mesma época. Teimosia e indecisão foram duas características que o fizeram cometer, ao menos dois erros estratégicos e que acabaram lhe custando o trono. A primeira característica o levou a insistir na continuidade da guerra do Paraguai, num momento em que uma solução diplomática poderia ter dado um fim à disputa, evitando as atrocidades cometidas pelo exército brasileiro no final do conflito. Sua posição em relação à abolição, claramente favorável, não foi acompanhada de uma atitude mais firme, levando o Brasil ao vergonhoso fato de só ter abolido a escravidão mais de vinte anos depois dos Estados Unidos. Claramente simpático ao ideal republicano, viu este sistema ser implantado através de um golpe de estado, o que fez o país regredir muitos anos no que diz respeito à democracia.
Aliás, todas as grandes transformações políticas no Brasil, a partir de então, foram resultado de golpes de estado. Triste vocação de um país cujo povo resiste e insiste na alegria.
Terminado o livro, me dá ganas de continuar estudando história, aprofundando-me em cada época, cada detalhe, cada crise política. Resistirei bravamente. Volto pra alguma ficção, já que estou convencido que é a diversidade que me enriquece.
6 comentários:
O 'barbudo' foi um sujeito fantástico. Em verdade um homem à frente do seu tempo, na concepção mais profunda da expressão.
Belo texto, malandro!
Também gosto de história. Vou procurar esse livro por aqui, pois D. Pedro II realmente me é muito simpático.
coincidentemente pensei em fazer história, acabei na comunicação... sempre ótimas dicas por aqui!
Arnaldo,
Sempre gostei de história (nunca pensei como profissão),do Brasil e Geral. Tenho meus personagens prediletos e por acaso D.Pedro II é um deles.
Adorei história da arte, é fascinante. Estudar todos aqueles genios maravilhosos da pintura,
escultura,arquitetura,para mim superou até,os pontos de fuga,as
plantas baixas as perspectivas os
projetos de desenho arquitetônico
aula que eu apreciava muito.
Engenharia é uma escolha e tanto, parabéns.
Bjs
"[...]Triste vocação de um país cujo povo resiste e insiste na alegria[...]"
Gostei do D.Pedro simpático da Claudia!
História é realmente fascinante, seja como profissão, ou pela história em si.
Realmente é estranho duelar entre exatas e humanas.Mas erros estratégicos as vezes funcionam, cedo ou mais tarde, deixam seus frutos!
Abraço
:-]
José Murilo é mesmo muito bom. Implico um pouco com a posição politica, que o levou a ser chamado de monarquista por alguns historiadores.De qq forma, vários historiadores concordam com a grande simpatia que Pedro II tinhha entre as classes populares.
Leia Os Bestializados dele e a Formação das Almas, acho que vc vai gostar.beijos.
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