Ganhei, há mais de vinte anos, um livro de presente. Presente de um grande amigo. Um amigo dos tempos do curso secundário. Éramos cinco. Muito amigos. Grandes amigos. Terminado o curso, foi natural que deixássemos de nos ver com a freqüência diária, embora tenhamos continuado a nos ver com muita intensidade. Ao menos nos primeiros anos.
Aos poucos, a freqüência foi diminuindo, até que passamos a nos encontrar uma vez por ano. Como um evento. Religiosamente. E na dedicatória do livro, ele deseja que a gente continue se encontrando para sempre, ao menos uma vez por ano.
Não conhecia o livro e nunca tinha ouvido falar no escritor. Ele foi pra estante, pequena na época, e ficou esperando na fila. Outros livros foram chegando e entrando na frente dele. O tempo foi passando e, vez ou outra, eu o via na estante ou lia algo sobre ele num jornal ou numa revista, numa lista dos 100 mais importantes ou numa notícia sobre alguma nova edição.
Peguei-o pra ler na semana passada. Trata-se de O Deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati. Como o livro narra a história de um oficial do exército em sua primeira missão, foi inevitável me lembrar da época em que servi. Não guardo absolutamente nada de proveitoso daquela experiência. Só me lembro que, já àquela época, eu tinha uma firme convicção de que aqueles meses significaram o tempo mais perdido de toda a minha vida. Não tenho nada contra a carreira militar. Acho-a uma profissão tão digna quanto à de advogado, garçom, engenheiro, jornalista ou operário. Só não concordava, na época, em estar fazendo aquilo compulsoriamente. Aliás, não concordo ainda hoje.
Mas o livro não é sobre a guerra ou sobre histórias de caserna. É um livro que retrata a esperança e a desilusão. E o reacender da esperança que toda desilusão desencadeia. É um livro triste porque mostra o quanto uma pessoa é capaz de esperar que as coisas aconteçam sem que ela faça algo pra isso. E triste, principalmente, por mostrar que cada um de nós é capaz, em algum momento, de ter algum tipo de ilusão. Ganhar na loteria, achar o grande amor, encontrar um bom emprego. Todas estas coisas são possíveis, algumas mais difíceis, outras menos. Tudo, porém, pra acontecer, precisa de um gatilho, de um impulso.
Aos poucos, a freqüência foi diminuindo, até que passamos a nos encontrar uma vez por ano. Como um evento. Religiosamente. E na dedicatória do livro, ele deseja que a gente continue se encontrando para sempre, ao menos uma vez por ano.
Não conhecia o livro e nunca tinha ouvido falar no escritor. Ele foi pra estante, pequena na época, e ficou esperando na fila. Outros livros foram chegando e entrando na frente dele. O tempo foi passando e, vez ou outra, eu o via na estante ou lia algo sobre ele num jornal ou numa revista, numa lista dos 100 mais importantes ou numa notícia sobre alguma nova edição.
Peguei-o pra ler na semana passada. Trata-se de O Deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati. Como o livro narra a história de um oficial do exército em sua primeira missão, foi inevitável me lembrar da época em que servi. Não guardo absolutamente nada de proveitoso daquela experiência. Só me lembro que, já àquela época, eu tinha uma firme convicção de que aqueles meses significaram o tempo mais perdido de toda a minha vida. Não tenho nada contra a carreira militar. Acho-a uma profissão tão digna quanto à de advogado, garçom, engenheiro, jornalista ou operário. Só não concordava, na época, em estar fazendo aquilo compulsoriamente. Aliás, não concordo ainda hoje.
Mas o livro não é sobre a guerra ou sobre histórias de caserna. É um livro que retrata a esperança e a desilusão. E o reacender da esperança que toda desilusão desencadeia. É um livro triste porque mostra o quanto uma pessoa é capaz de esperar que as coisas aconteçam sem que ela faça algo pra isso. E triste, principalmente, por mostrar que cada um de nós é capaz, em algum momento, de ter algum tipo de ilusão. Ganhar na loteria, achar o grande amor, encontrar um bom emprego. Todas estas coisas são possíveis, algumas mais difíceis, outras menos. Tudo, porém, pra acontecer, precisa de um gatilho, de um impulso.
É comum que as pessoas, em algum momento de suas vidas, se iludam de que as coisas vão acontecer naturalmente, sozinhas. Mas é muito triste que uma pessoa viva sua vida assim, esperando. Afinal, a esperança é a última que morre. Mas morre.
5 comentários:
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claro que não há reação sem ação.
é fato.
mas pandora é um dos mitos que mais me fascinam.
no fundo da caixa lá está ela, essa tal de esperança que nos faz esquecer a morte de um grande amor, a dor da rejeição, a humilhação do fracasso.
e que nos empurra pra frente quando tudo parece perdido.
*
É péssimo ver que tem gente que só espera, espera, espera...
Você usou a necessidade de ter um impulso, um gatinho para que as coisas aconteçam. E creio que assim foi com o livro em si, que você guardou em um primeiro momento, e a partir de algum fato ou lembrança (gatilho), decidiu lê-lo.
Acho que esse trecho diz alguma coisa sobre esperar, procurar....
"Pra ser feliz num lugar
Pra sorrir e cantar
Tanta coisa a gente inventa
Mas no dia que a poesia se arrebenta
É que as pedras vão cantar"
Pedras que cantam (Dominguinhos e Fausto Nilo)
Arnaldo,
Gosto de ler seus textos,gosto da forma como escreve.
Tenho um presentinho... lá no Caminho Suave.
Bjs
Arnaldo,
Você disse tudo: "A esperança é a última que morre. Mas morre". Um dos maiores defeitos do ser humano é atribuir à algo a responsabilidade de que as coisas na vida aconteça. Ainda que esse algo seja um fenômeno natural...
Nem sempre acontecem naturalmente.
Abraços
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