Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Dendê

Como eu viajei pro Maranhão e Pará na semana passada, minha amiga Vivien me pediu uma encomenda. Que eu visitasse e escrevesse um post sobre o mercado Ver-o-peso em Belém. Eu até passei em frente ao mercado, Vivien, mas ele já estava fechado. Não deu. Aliás, essa coisa de eu viajar muito, sempre faz muitas pessoas acharem que isso representa uma porção de oportunidades de conhecer lugares novos e interessantes. Até representa, mas muito menos do que as pessoas imaginam. Por conta do trabalho, os compromissos são sempre tão apertados, que quase nunca sobra tempo pra algum tipo de passeio. O máximo que consigo fazer, são incursões gastronômicas. E desta vez, nem mesmo isso foi possível fazer.

Já visitei o Pará umas 4 vezes, e o que mais me chama a atenção, sempre que vou pra lá é a situação de extrema pobreza em que vive uma enorme parcela do nosso povo. Desta vez, fui visitar uma usina de processamento de óleo de dendê que é utilizado para a produção do biodiesel. Encravada entre as cidades de Moju e Tailândia, a 300 Km ao sul de Belém, a usina processa o fruto dessa palmeira para produzir aquilo que o presidente Lula acredita que pode ser a solução dos nossos problemas energéticos, caso ele encontre alguma maneira de fazer o Brasil crescer. Aliás, essa história também ajudou muito na eleição da senadora Ana Júlia para o governo daquele estado. Quem ouve um e outra falando, imagina que estamos tratando de um mar de prosperidade num oásis de vida confortável. Não é nada disso. Absolutamente.

Andar 300 Km numa estrada no Pará não é nem um pouco comparável a andar numa rodovia paulista. Tem muito mais buraco do que asfalto, uma quantidade imensa de caminhões transportando madeira, deus sabe lá de que origem e muita, muita terra sem utilização produtiva. Andam-se dezenas de quilômetros sem ver uma alma viva e de repente, do nada, vê-se um casebre, básico, minúsculo, onde se imagina, vive algum ser humano. Sem nada. Sem nenhum sinal do mínimo conforto a que estamos acostumados aqui no sul. A situação só não é pior do que a do sertão nordestino, já que, apesar da extrema pobreza, nesta região, não dá pra passar fome. A disponibilidade que existe de peixes e frutas impede que isso aconteça.

Mas viver não é só isso. Viver não é só comer e beber. Isso é sobreviver e quem tem que sobreviver são os animais da floresta. Gente tem que viver. Tem que viver bem. Com conforto e dignidade.

3 comentários:

Vivien Morgato : disse...

Um pouco antes do Prestes morrer, vi uma palestra dele aqui na cidade. Ele reafirmou que sua trajetória política estava ligada a tudo que viu, quando na participação da Coluna Prestes. Como descobrir o Brasil fez diferença pra ele. Dá pra descobrir um pouco do Brasil aqui, nesse blog e isso é muito bacana.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Pois é, Vivien. É isso o que eu mais tiro de positivo nas viagens que faço.

Beatriz Fontes disse...

Sou louca para conhecer o Pará. Mais precisamente Belém. Quando estive em Macapá, queria muito ter feito a travessia do Amazonas, mas não tive chance. Fica para a próxima.

Agora, quanto à pobreza do povo, concordo com você... Me dá até raiva. Imagino que, se o Pará é pobre, o Amapá é ainda mais. Não fui muito além da capital, mas as estradas eram terríveis e a paisagem repleta de palafitas. Bonito, de uma certa maneira. Mas só de pensar nas dificuldades que aquele povo enfrenta, poxa... E eles ainda têm que aturar a peste do Sarney como senador.