Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Buenos Aires – A Comida

Descobrimos um excelente site na Internet o Guiaoleo que nos ajudou muito a escolher entre as dezenas de bons restaurantes que há na cidade. É um fórum onde os clientes dão notas e fazem comentários sobre a comida, o serviço e o ambiente de muitos restaurantes de Buenos Aires.

O porteño janta muito tarde. Se você chegar a um restaurante às 8 horas da noite, vai pegar os garçons enxugando os copos. Se quiser jantar às 10 da noite, faça reserva, pois neste horário eles estarão lotados. Fomos, quase todos os dias, jantar entre 11 horas e meia noite.

Buenos Aires não tem só carne. Tem restaurantes de todos os gêneros, como São Paulo. E, mais do que em São Paulo, tem um bom número de restaurantes de comida espanhola, sobretudo as de orientação basca. Fomos em três, sendo que dois deles são fenomenais. Inãki e o Centro Vasco Francês são dois restaurantes esplêndidos. O primeiro, mais moderninho e o segundo, um salaozão bem convencional, ambos tratam com maestria os pescados e mariscos, como é tradição da culinária basca. Comemos camarões, lagostins e lulas em risotos inesquecíveis.

Tentamos a pizza e fomos justamente naquela que era a mais bem votada no guia. E isso só reforçou minha convicção de que só se deve comer pizza em São Paulo. Nem na Itália comi tão boas quanto as da capital paulista. A de Buenos Aires era péssima. Massa péssima (parecia bolacha) e recheio péssimo. Não vale a pena!

Buenos Aires não tem só carne. Mas acima de tudo, tem a carne. Sou um carnívoro inveterado e praticante. E a carne argentina é muito especial. Muito mais macia que a nossa. E isso se deve, sobretudo, às raças do gado de lá e de cá, como já explicou István Wessel:




O gado argentino é formado por raças européias, como a Aberdeen Angus e a Hereford. Por uma questão genética, essa carne tem uma marmorização maior, ou seja, possui finas camadas de gordura entremeadas na carne, o que lhe atribui maciez, e tem um contrafilé grandão, que vai gerar o célebre bife de chorizo.

As raças zebuínas, originárias da Índia, são maioria no gado brasileiro, "azebuado" por excelência. Os animais, mais rústicos, demoram mais para chegar ao abate. O resultado é uma carne mais dura e, por outro lado, saborosa, com a gordura externa.

Mais do que carne, os argentinos aproveitam deste boi todo tipo de partes e miúdos, que eles chamam de achuras. Nem tudo eu me animo a comer, mas gosto muito das mollejas (glândulas que se encontram em volta da traquéia) e, principalmente, os chinchulines (intestinos), meus preferidos.

Em Buenos Aires não há só os restaurantes luxuosos e grandes. Há também os “bodegones”, espécies de botecos, absolutamente desprovidos de cuidado estético e, em muitos casos, sem muita preocupação com a higiene. Mas em alguns destes restaurantes, se come uma comida esplendidamente deliciosa.
Em busca da melhor empanada da cidade, escolhemos os 5 lugares mais elogiados no guia e saímos em diligência. A empanada que elegemos foi servida num lugar que dava até medo de entrar. Uma mesona única, rústica, de madeira, cercada de bancos, para ser utilizada pelos primeiros 8 clientes que chegarem. O resto, come em pé. O serviço fica a cargo de um índio mal encarado, jeito de poucos amigos, que fez uma cara pior ainda, quando pedi um par de talheres pra Cecília comer sua empanada, que qualquer habitante daquele país sabe que deve ser comida com as mãos. Mas como é que ela poderia separar os pedacinhos de cebola, pimentão e batata que vinham junto com a carne do recheio? Meio a contragosto, forneceu-me um par de garfo e faca de plástico, desses de festa de aniversário, e pudemos saborear a melhor empanada da cidade, sem sombra de dúvidas. Depois, fui conversar com o índio, que tinha cara de mal, mas era boa praça, e que me explicou que aquelas empanadas eram do tipo salteña, da região de Salta, de onde ele vinha. Explicou que essas são as verdadeiras empanadas e que aquelas feitas em Buenos Aires não são autênticas, pois não têm sabor de nada.

E a melhor carne que comi, depois de ter almoçado em restaurantes de luxo e comido muita carne boa, foi no último dia, em um bodegón no bairro de San Telmo, em que deu muito nojo tocar no saleiro, absolutamente sujo e gosmento. Mas quando mordi o primeiro pedaço do meu bife de chorizo (imenso), decidi que poderia morrer ali mesmo, tão grande a satisfação que senti. Foi a melhor carne que comi na minha vida. E fiquei aliviado por não ter sido aquele, o primeiro restaurante da viagem, pois, nesse caso, teria sido o único. Todos os dias e todas as noites. Não teria tido comida basca, nem empanadas, nem shows de tango.

Foi a melhor carne e a menor conta!

6 comentários:

Vivien Morgato : disse...

Eu me recuso a comentar esse post...é uma afronta!!!..rs

Beatriz Fontes disse...

Ok, a carne argentina é fantástica. Mas eu não me conformo com o fato dela já não vir acompanhada de arroz, batata frita, farofa e um molhinho à camapanha!

Tudo bem, posso escolher os acompanhamentos que quiser... Mas arroz é difícil. O que é aquela salada de arroz branco gelado!? Que horror!!!

Renata - Aassessoria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tooleo disse...

Faltou citar o nome dos restaurantes, não? Eu gostaria muito de saber o nome do lugar onde você comeu "a melhor empanada do mundo".

Quanto ao Desnivel, eu estive lá e não achei grandes coisas. Comi uma parrillada e achei médio.

Mario disse...

Eu amo a comida da Argentina. Tenho família lá e vou sempre cozinhar a carne. Quando estou em casa, eu olho restaurantes argentinos e pido delivery comida para comer com minha família também gosta do assado.

Eu não tenho conserto disse...

"Mas quando mordi o primeiro pedaço do meu bife de chorizo (imenso), decidi que poderia morrer ali mesmo, tão grande a satisfação que senti"
Ai meu Deusss!!! Eu estou morrendo de fome e agora quero mais ainda ir para a Argentina comer um bife ancho desse!!!!