Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Rico ensinamento

Chego em casa, do trabalho, correndo, com tempo apenas de tomar um banho, pegar a mala e ir pro aeroporto. Estou indo pra Salvador. Custo a crer no ruído que ouço. Um barulho que me lembra a infância. O som de ensaio de fanfarra. Pensei que não houvesse mais fanfarras. Pensei que não havia mais desfiles escolares no 7 de setembro. Pois, em Valinhos há. Fico com a sensação de que não ouço este barulho desde a infância, mas talvez já tenha ouvido no ano passado e no retrasado e no outro e no outro. Talvez eu apenas não me lembre.

O que eu me lembro é que na minha infância havia duas épocas com ensaio de fanfarra. Uma em agosto, pro aniversário de São Bernardo do Campo e a outra pro 7 de setembro. Eu odiava desfilar, já que não tocava na fanfarra e só tinha de marchar. E, acreditem se quiserem, eu tinha uma baita dificuldade em coordenar os passos: esquerda, direita, esquerda, direita. Mais tarde, nunca mais tive dificuldade em optar.

A lembrança mais clara que eu tenho de episódios envolvendo desfiles e fanfarra foi numa conversa que tive com meu pai, num almoço na casa de minha vó. Na verdade, nem foi bem uma conversa. Foi uma informação:

- Este ano vamos pra praia no feriado.

- Mas pai, eu tenho que desfilar.

- Você vai faltar. Todos queremos ir pra praia neste feriado prolongado.

- Mas a professora disse que quem faltar ficará 3 dias suspenso, sem poder ir na escola.

- OK. Então o seu feriado será mais prolongado que o nosso. Sorte sua.

Não fui ao desfile, me diverti na praia e ainda fiquei 3 dias gazeteando em casa e na rua.

Meu pai pode nem ter percebido, mas acabou me passando um importante ensinamento:

Há coisas que não vale a pena levar muito a sério.

7 comentários:

Eli Carlos Vieira disse...

Sons...
Não ha melhora forma de se lembrar de coisas boas do passado senão através de sons.
Trilhas sonoras perfeitas resgatam épocas muito boas, difíceis de esquecer.

Fanfarras têm uma força, vibrante.
Você ouve e fica preso ao som.
Retumbante, imponente, mas não menos emocionante!
Pois é, meu caro...ainda existem
não com a mesma intensidade d'antes, mas existem!

Abração
:-]

Maria Helena disse...

Arnaldo,
no meu próximo post,falo justamente sobre essa questão.
Os desfiles cívicos, fanfarras, e amor à pátria, orgulho no passado.
Como educadora (aposentada)gostaria muito que esses valores fossem resgatados, mas sei também que é uma utopia por razões diversas.
Bjs

Telejornalismo Fabico disse...

*




porto alegre ainda tem desfile.
como todas as cidades do interior.

e nunca me pegaram pra desfilar, nenhuma vezinha.

eu sempre pulava a janela da 'concentração' ou simplesmente não ia.





*

Claudia Lyra disse...

Seu pai sabe tuuudooooo!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

O pior das fanfarras é que elas nunca tocam direito, a molecada é sempre muito ruim de serviço.

Porém, vejo alguma beleza naquela tentativa de exaltar a pátria, ainda que as fanfarras mais pareçam exércitos de brancaleones. Cada país tem as fanfarras que merece (risos).

Eu nunca desfilei em fanfarra, mas pelo que conheço de mim, acho que não gostaria de participar não.

No 7 de Setembro tenho meu ritual particular muito próprio. Uma besteira, que seja. Mas pendura a bandeira nacional à janela, meto Clara Nunes na vitrola (sim, porque só tenho Clara Nunes em vinil), faço uma bela caipirinha e proponho um brinde solitário a todos os brasileiros máximos que me ajudaram a ser quem sou. Simples assim.

Belo texto, como sempre!

Anônimo disse...

Ricos ensinamentos do vô!!

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Eli,

Neste caso, os sons servem pra lembrar coisas ruins do passado. Som de fanfarra me lembra o regime militar. Um passado que o Brasil não merece que seja comemorado.


Maria Helena,

Acho que o amor á pátria tem que ser demonstrado no amor ao povo, na solidariedade. Não gosto muito dessa coisa de cultuar símbolos e bandeiras.


Sean,

Você já era mais esperto do que eu. Desde aquela época. Nunca consegui (ou tive coragem de) escapar desses micos.


Cláudia,

Meu pai sabe tudo.


Bruno,

O pior de tudo é que esse pessoal que toca tambor na fanfarra, depois, pensa que pode tocar samba. E aí, fica aquela coisa de Samba de americano, como meu pai gosta de falar. Aliás, ele é mestre em tirar esse tipo de gente de qualquer roda de samba. Quando a turma está tocando e cantando e aparece um desses fanfarrões e começa a tocar garfo na garrafa de cerveja, ele dá um sinal pra turma, para o samba, e tira, delicadamente as armas da mão do indivíduo. E aí o samba segue, novamente.


É isso aí, Cauê. E você tem a chance de aproveite-los bem de perto.