Numa discussão que tive
com alguns amigos, ainda ontem, pelo Facebook, voltei a aludir a uma convicção
que tenho desde que entrei, pela primeira vez, nesta casa de loucos. A de que o
FB é uma espécie de mesa de boteco.
A internet é uma
ferramenta que dá oportunidade pra que todo mundo participe e, aí, cada um faz
isso da maneira que consegue.
Não é muito diferente
de discussão em boteco*, que tem de tudo: fala mansa, gritaria, soco na mesa e
até ameaças de bofetada (é quando, normalmente, entra a turma do “deixa
disso”).
O que falta, aqui no FB, é a mesma coisa que falta no boteco, ou seja, opinião serena e embasada. Tem
palpite, cutucada, desabafo, agressão verbal, mas não tem argumentação
estruturada.
O grande problema é que, através deste ambiente, muita gente está decidindo seu voto.
Antigamente, as pessoas
utilizavam os jornais, o rádio e a TV para se informar. Por mais que alguns
órgãos de imprensa pudessem ser tendenciosos, sabiam que nenhum deles teria a
audácia de fabricar notícias absurdamente falsas (até por medo de levar
processos).
Chegavam ao trabalho e,
como o ambiente não permitia a balbúrdia, participavam de discussões relativamente
ordeiras e, com isso, acabavam tendo a oportunidade de ouvir algum tipo de
argumentação minimamente estruturada. Na escola, sempre conseguiam, do
professor, alguma dica de um livro onde pudessem se aprofundar em determinado
assunto. Alguns chegavam ao capricho de, ao menos, folhear este livro e ler
algumas páginas.
Nada disso impedia que,
no encontro no boteco, entre uma cerveja e um prato de torresmo, uma cachaça e
um pires de tremoços, uma batida de limão e uma porção de salaminho, a arruaça
fosse a mesma de sempre, mas, pelo menos, em seu íntimo, cada um tinha sua
opinião construída, fruto de reflexões estimuladas pelas informações
adquiridas.
Hoje, aparentemente, as
redes sociais substituíram o boteco, com o agravante de ter um alcance muito
maior do que os integrantes da mesa ao lado. Qualquer um emite opiniões sobre
tudo, desde a quantidade de anestésico em cirurgia de esterilização de gatos
até o melhor método de ministrar aulas de química orgânica.
Todo mundo se sente
livre para opinar sobre o que quiser na rede social, sem necessidade de
informar-se ou estudar sobre o tema escolhido. E, se algum interlocutor contesta
o pitaco, sempre há a opção de esvurmar o mancebo. O pior, neste processo, é
que ele é retroalimentado positivamente, pois, toda imbecilidade que qualquer
um postar na rede pode se transformar em observação genial, caso outros imbecis
inundem seu post com sinais de positivo, coraçõezinhos vermelhos e risadinhas para
reforçar a rematada tolice (além de alimentar sua vaidade).
Pode ser que, com o
tempo, as pessoas aprendam a utilizar as redes sociais para debater de forma
mais estruturada, baseando seus argumentos em informações confiáveis e em
estudo consistente. Por enquanto, estamos muito longe disso.
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