Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Chuva de opiniões na rede


Numa discussão que tive com alguns amigos, ainda ontem, pelo Facebook, voltei a aludir a uma convicção que tenho desde que entrei, pela primeira vez, nesta casa de loucos. A de que o FB é uma espécie de mesa de boteco.

A internet é uma ferramenta que dá oportunidade pra que todo mundo participe e, aí, cada um faz isso da maneira que consegue.

Não é muito diferente de discussão em boteco*, que tem de tudo: fala mansa, gritaria, soco na mesa e até ameaças de bofetada (é quando, normalmente, entra a turma do “deixa disso”).

O que falta, aqui no FB, é a mesma coisa que falta no boteco, ou seja, opinião serena e embasada. Tem palpite, cutucada, desabafo, agressão verbal, mas não tem argumentação estruturada.

O grande problema é que, através deste ambiente, muita gente está decidindo seu voto.

Antigamente, as pessoas utilizavam os jornais, o rádio e a TV para se informar. Por mais que alguns órgãos de imprensa pudessem ser tendenciosos, sabiam que nenhum deles teria a audácia de fabricar notícias absurdamente falsas (até por medo de levar processos).

Chegavam ao trabalho e, como o ambiente não permitia a balbúrdia, participavam de discussões relativamente ordeiras e, com isso, acabavam tendo a oportunidade de ouvir algum tipo de argumentação minimamente estruturada. Na escola, sempre conseguiam, do professor, alguma dica de um livro onde pudessem se aprofundar em determinado assunto. Alguns chegavam ao capricho de, ao menos, folhear este livro e ler algumas páginas.

Nada disso impedia que, no encontro no boteco, entre uma cerveja e um prato de torresmo, uma cachaça e um pires de tremoços, uma batida de limão e uma porção de salaminho, a arruaça fosse a mesma de sempre, mas, pelo menos, em seu íntimo, cada um tinha sua opinião construída, fruto de reflexões estimuladas pelas informações adquiridas.

Hoje, aparentemente, as redes sociais substituíram o boteco, com o agravante de ter um alcance muito maior do que os integrantes da mesa ao lado. Qualquer um emite opiniões sobre tudo, desde a quantidade de anestésico em cirurgia de esterilização de gatos até o melhor método de ministrar aulas de química orgânica.

Todo mundo se sente livre para opinar sobre o que quiser na rede social, sem necessidade de informar-se ou estudar sobre o tema escolhido. E, se algum interlocutor contesta o pitaco, sempre há a opção de esvurmar o mancebo. O pior, neste processo, é que ele é retroalimentado positivamente, pois, toda imbecilidade que qualquer um postar na rede pode se transformar em observação genial, caso outros imbecis inundem seu post com sinais de positivo, coraçõezinhos vermelhos e risadinhas para reforçar a rematada tolice (além de alimentar sua vaidade).

Pode ser que, com o tempo, as pessoas aprendam a utilizar as redes sociais para debater de forma mais estruturada, baseando seus argumentos em informações confiáveis e em estudo consistente. Por enquanto, estamos muito longe disso.


 *Em tempo, a única coisa que a discussão de boteco tem de diferente do FB (e para melhor) é a birita.

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