
Por
todo este histórico, me são caras as eleições. Gosto muito delas e as encaro
como uma conquista do povo brasileiro, depois de 21 anos sob um regime militar
em que, não só os direitos básicos foram surrupiados, mas, também, a dignidade
e, em muitos casos, a vida.
Por
tudo isso, também, sempre resisti a praticar o voto nulo ou em branco e,
confesso, tive medo de ser obrigado a fazer isso nestas eleições, caso a
disputa para governador de São Paulo ficasse restrita à escolha entre Dória
(aquele que tem um sorriso nos lábios e ódio no olhar) e Scaf. Felizmente, fui
salvo pelo gongo e poderei depositar meu voto em Márcio França, como já havia
feito no 1° turno.
Outra
conquista que tivemos foi a instauração do 2° turno nas eleições para os cargos
executivos. Sem ele, com a quantidade insana de partidos políticos que temos no
Brasil, estaríamos ameaçados, a cada eleição, a ver eleito um candidato que
tivesse menos que 15% dos votos totais. Só na eleição deste ano, tivemos 13
candidatos!
Assim
como o 1° turno serve para que cada um escolha o candidato que considere o mais
apropriado, o 2° é feito para que se escolha o menos ruim. O 2° turno é,
também, a oportunidade de se formar alianças políticas, instrumento muito
importante para equalizar programas e, com isso, buscar a ampliação do
eleitorado. Há quem confunda aliança política com conchavo, mas são coisas
completamente diferentes. Conchavo, normalmente, é feito no subterrâneo, no
escuro, com o propósito de satisfazer interesses escusos. Alianças,
normalmente, devem ser feitas à superfície, às claras. A boa política é a arte
de saber dialogar e negociar para se chegar a uma agenda comum que atenda as
expectativas de uma camada maior de eleitores.
A
importância maior, entretanto, do 2° turno, é a possibilidade de embate entre
os dois candidatos, com mesmo espaço de tempo para expor suas ideias e seus
programas. É nesta oportunidade, efetivamente, que as diferenças de proposta de
governo podem ser avaliadas pelos eleitores, através das argumentações e contra-argumentações
que este evento propicia.
Nas
eleições deste ano, esta oportunidade não está sendo propiciada ao eleitor
devido à fuga do candidato Bolsonaro, o que demonstra, claramente, seu desapego
à democracia (além da covardia, é claro). Além disso, parte dos eleitores fizeram
uso do chamado “voto útil” no 1° turno e abandonaram os candidatos que consideravam
a melhor opção para tentar forçar a não realização do 2°. Este é um erro,
politicamente, grosseiro, e explico o motivo.
Ao
esvaziar a sacola de votos do candidato que considera a melhor opção, o eleitor
esvazia, também, o capital político dele, no momento de se fazer as alianças
para a segunda rodada da eleição. Com isso, as ideias e os pontos do programa
que motivaram o eleitor a preferir tal candidato, acabam não tendo chance de ser
incorporados ao programa daquele que, efetivamente, recebeu seu voto. Assim, o
eleitor vai para o 2° turno depositando voto em um candidato que não tem, em
sua plataforma de campanha, os pontos que eram contemplados por seu candidato
inicial e que, portanto, ele julga importantes.
A
maioria dos eleitores que preferiam Alckmin, Amoedo, Meirelles e Marina,
mudaram, no último momento, para Bolsonaro. Com isso, deixaram seus candidatos
preferidos sem capital político para negociar a inserção de suas propostas na
campanha do capitão do exército, numa eventual aliança política. Desta forma,
este eleitor acabou perdendo dos dois lados. Nem evitou o segundo turno nem
conseguiu ver as ideias nas quais, realmente, acreditava, inseridas no programa
do candidato em que votou.
Votei
em Ciro Gomes no 1° turno e votarei em Fernando Haddad no próximo dia 28. Por
valorizar tanto as eleições, eu nunca questiono a decisão dos eleitores. Isso,
pra mim, é sagrado. Por isso, como eleitor, vou acatar a decisão da maioria,
mesmo que a considere equivocada. Sou, acima de tudo, um democrata.
E por
ter esta preferência pelos regimes democráticos, votaria em qualquer outro
candidato que não fosse o capitão do mato, pois, como eu disse no início do
texto, sou de outro tempo. Aquele em que a democracia era inexistente no nosso
país e sei muito bem como é viver num ambiente destes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário