Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

O dom do samba

O ano era 1999. Durante 3 dias, shows em homenagem ao aniversário de 50 anos de Paulo César Pinheiro, na choperia do SESC Pompéia, em São Paulo. A cada dia, vários convidados entre intérpretes fiéis e fiéis parceiros do poeta. Fomos numa das noites, provavelmente no melhor show. Eduardo Gudin, Márcia, Joyce, Ivor Lancelotti, Vicente Barreto e o saudoso João Nogueira. Compramos o livro Poesia Morena e a Clélia chorou na hora de receber a dedicatória.

O ponto alto do show, pra mim, no entanto foi outro. Num determinado momento, o baterista sai de trás do instrumento e vem pra frente do palco, microfone em punho. Eu já havia lido centenas de vezes o nome de Wilson das Neves nos encartes dos meus melhores discos, mas nunca tinha visto sua figura. Jeitão malandro, típico carioca, falou que iria cantar um samba seu, em parceria com o homenageado. Comecei a ouvir o samba e fiquei embasbacado, sinceramente convencido que estava ouvindo o samba mais bonito da minha vida.

Fiquei alucinado com aquele samba e comecei a procurar um disco em que ele tivesse sido gravado. Era uma procura inglória. Em cada loja de discos que eu entrava, sempre buscava alguma coisa. Só vim encontrá-lo dois anos depois, na FNAC, já morando aqui. O nome do CD é O Som Sagrado de Wilson das Neves e tem O samba é meu dom na primeira faixa. 13 músicas são dele com letra de Paulo César Pinheiro e uma com Chico Buarque. Seu segundo CD, pela Biscoito Fino, Brasão de Orfeu, já traz parcerias, também, com outros artistas como Nei Lopes, Ivor Lancellotti, Délcio Carvalho e Cláudio Jorge. A primeira faixa do excelente CD Samba da cidade, de Moacyr Luz, é uma parceria entre eles.

Quando ele se apresentou no Tonico’s boteco, em Campinas, nos sentamos numa mesa bem próxima do palco, do jeito que a Clélia gosta. Quando terminou o show, pedimos pra ele cantar Não vim pra ficar, um samba gravado pelo Renato Braz. Ele olhou-nos intrigado e perguntou surpreso: - Vocês conhecem esse samba? Voltou ao palco, pediu o tom pros meninos do Quarteto de Cordas Vocais e terminou a apresentação com chave de ouro.



Ô sorte!

7 comentários:

Anônimo disse...

E qdo Wilson da Neves se aproximou do microfone do Tonico's, cantando "O samba é meu dom" (que fomos, no trajeto de Valinhos a Campinas, cantando, tentando decorar a letra), eu chorei... Foi, mesmo, emocionante ouvi-lo!

Anônimo disse...

E qdo pedimos "Não vim pra ficar" ele falou algo assim: - aquele menino gravou... (referindo-se ao Renato Braz) Confirmamos, então, seu nome. E cantamos, junto com ele:

Não vim pra ficar
Wilson das Neves & Paulo César Pinheiro

Não vim pra ficar
Não reserve um espaço no armário pra me acostumar
Não espere no horário, arrumada, na sala de estar
Não pretendo trazer minha vida pro seu bangalô

Não vim pra ficar
Não separe um cantinho pra eu ler o jornal no sofá
Não pergunte o que eu gosto, o que vai me fazer pro jantar
Me desculpe o mau jeito que é o jeito que eu sou

Não vim pra ficar
Não me guarde uma escova de dentes, não vou pernoitar
Não faz cópia da chave, não quero invadir o seu lar
Quero vir como sempre, feito um beija-flor

Não vim pra ficar
Não me põe monograma na fronha da gente deitar
Não pendure no tanque gaiola pro meu sabiá
Não faz do nosso encontro uma obrigação, por favor

Não vim pra ficar
Eu não quero assumir compromisso da gente juntar
Por enquanto, é melhor não mexer, deixe assim, como está
Vamos ver que destino vai ter nosso amor

Anônimo disse...

'Tô tentando encontrar as letras de "O samba é meu dom" e "Tudo que eu vivi", na Internet, mas não acho. Vou pegar os encartes dos CDs pra copiá-las...

Anônimo disse...

Tudo que eu vivi
Wilson das Neves & Moacyr Luz

Quando dei por mim
Mudei de caminho
Encostei no fundo do coração
E cantei sozinho
Fiz um tamborim
Com as minhas mãos
E a canção surgiu
Como nasce a luz numa escuridão
Minha inspiração
Me lembrei de mim
Lendo a minha mão
E a melodia bordando contas
Do meu cordão
Tudo era destino
Tudo aconteceu
Pra dizer em verso
O que minha vida já escreveu

Um amor amei
Árvores plantei
De me emocionar
Sempre que aprendi
Nas vezes que errei
No anel de ouro
O meu santo sorte
E por isso eu digo pra Deus
Oh! Sorte que te encontrei

Anônimo disse...

O samba é meu dom
Wilson das Neves & Paulo César Pinheiro

O samba é meu dom
Aprendi bater samba
ao compasso do meu coração
De quadra, de enredo,
De roda na palma da mão
De breque, de partido-alto
E o samba-canção

O samba é meu dom
Aprendi dançar samba
Vendo o samba de pé no chão
No Império Serrano,
A escola da minha paixão
No terreiro, na rua, no bar,
Gafieira e salão

O samba é meu dom
Aprendi cantar samba
com quem dele fez profissão
Mário Reis, Vassourinha,
Ataulfo, Ismael, Jamelão
Com Roberto Silva, Sinhô
Donga, Ciro e João (Gilberto)

O samba é meu dom
Aprendi muito samba
Com quem sempre fez samba bom
Silas, Zinco, Aniceto, Anescar
Cachinê, Jaguarão
Zé-com-fome, Herivelto,
Marçal, Mirabeau, Henricão

O samba é meu dom
É no samba que eu vivo,
Do samba é que eu ganho
O meu pão
E é num samba
Que eu quero morrer
De baquetas na mão
Pois quem é de samba
Meu nome não esquece mais não

Anônimo disse...

Difícil é guardar todos estes nomes (muitos deles, não conheço...). Paulo César Pinheiro é mesmo um craque com as palavras!

Anônimo disse...

'Tá parecendo um blog paralelo, nos comentários... né não? Parceria é assim mesmo!