Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 3 de dezembro de 2006

Noite quase desastrosa

Campinas tem mais de 40 salas de cinema, mas tem tão pouca variedade em relação ao que nos poderia ser oferecido que, muito freqüentemente, precisamos correr pra São Paulo pra não perder os filmes mais interessantes.

Felizmente, de vez em quando, é possível assistir alguma coisa aproveitável nas salas do Shopping Jaraguá, na Av. Brasil, e no Cine Paradiso, no centro.

O grande problema é que o Paradiso está cada vez pior. Eu sei que deve ser barra pesada manter um cinema passando filmes com pouco (ou nenhum) apelo comercial, principalmente numa cidade em que as pessoas preferem passear no shopping center. É por isso que eu não esquento a cabeça de pagar 12 reais pelo ingresso do Paradiso e nem reclamo das poltronas detonadas ou da falta de pipoca. Não vou ao cinema por causa disso. O que não dá pra aceitar é quando as limitações começam a comprometer a possibilidade de ver o filme.

Nessa quinta feira, saímos, Clélia e eu, animados pra pegar uma sessão dupla no Paradiso. A idéia era assistir a dois filmes de língua espanhola, nossa paixão, e depois, ir a algum lugar qualquer, comer qualquer coisa. Firmes e decididos, desembolsamos os 48 reais necessários para iniciar a empreitada e entramos na sala. E o sofrimento começa aí. Não sei o que eles estão usando no banheiro ou no carpete, mas há um perfume forte e adocicado exalando de algum lugar. Certamente isso tem o objetivo de encobrir algum outro cheiro. O problema é que odor de mofo misturado com olor de lavanda, nunca irá produzir um bom resultado. E pra piorar, o primeiro filme, que era ótimo, estava com problemas na legenda e pra resolver este problema, o projecionista ficou o tempo todo fuçando na máquina, fazendo com que a imagem ficasse desfocada durante toda a projeção. Mas o filme era realmente muito bom. Ficamos até com vontade de assisti-lo novamente num cinema mais decente. Mas isso nunca seria em Campinas, evidentemente.

Terminada a sessão, saímos um pouco para respirar. Os olhos demoraram a entender o mundo focado, mas aos poucos, ajudado pela respiração de um ar mais aceitável, eles voltaram ao normal.

Entramos novamente na sala, resignados com o cheiro e torcendo para que a imagem do segundo filme fosse melhor. E era. A imagem ótima e a legenda perfeita. O problema é que o filme não engrenava. O filme, na verdade, era uma droga e nada indicava que fosse melhorar. Uma comédia absolutamente previsível, cheia de clichês e cheia de preconceito. Eu olhava pra Clélia e ela olhava pra mim. Nós nunca precisamos dizer nada um pro outro. Sabemos sempre o que o outro está pensando. Insistimos mais um pouco e acabamos fazendo algo que só havíamos feito uma vez na vida, quando ainda éramos namorados, ou seja, 25 anos atrás. Saímos do cinema com o filme pela metade. E isso, acho que desencadeou um fenômeno de libertação, pois, logo em seguida, outras 3 pessoas saíram atrás da gente, todos nós com aquela sensação de termos entrado numa arapuca.

Definitivamente, o que tínhamos planejado não estava dando certo. E, pra consertar, não poderíamos seguir com o roteiro original. Seria fatal comer qualquer coisa num lugar qualquer. Resolvemos ir a um lugar especial e rumamos para Joaquim Egídio. Fomos direto pra um dos nossos restaurantes preferidos, o Cambuquira, cuja cozinha é pilotada pelo amigo Caco Piccoli. Foi a salvação da noite. Lá, não teremos nunca medo de nos decepcionar. Lá, sabemos que o Cláudio vai nos recepcionar, ele que é, de longe, o melhor garçom da cidade. E indo lá, sempre podemos contar com a gostosa conversa do Caco, sem pressa, sem afetações, ele que é um chef brilhante. E foi isso que aconteceu, pra salvar nossa desastrada noite. Depois de muita conversa boa, com o restaurante absolutamente vazio, o Caco foi pra cozinha e se superou. Pedimos uma moqueca que nem estava no cardápio e o que chegou até nós beirava à perfeição. Além do mais, o Cambuquira é o restaurante cujo preço dos vinhos é o mais honesto dentre todos os que eu conheço. Foi realmente muito bom.

Voltamos pra Valinhos com a alma lavada.

5 comentários:

Anônimo disse...

Porra, como é bom ouvir um comentário-opnião de um amigo-crítico ou vise-versa (quanto hífen); principalmente quando ele nos é favorável.
Venham sempre que chegarmos à lembrança, pois é grande o prazer de recebê-los, invariavelmente com muita luz.
Obrigado, beijos.

Caco

Anônimo disse...

Arnaldo: rapaz, eu nunca tive problemas no Paradiso. Não sei se sou pouco exigente em relação ao conforto, mas sempre saí do lugar com a sensação de ter visto uma boa sessão de cinema. O único porém é não há muito espaço para as pernas, entre uma poltrona e outra. Mas nunca saí de lá com raiva ou coisa assim. Engraçado isso...

Anônimo disse...

Aqui os cineclubes foram assassinados pelos cinemarks. Alguns voltaram e lutam bravamente.

Estou para te escrever há tempos, desde que li seus ótimos textos sobre futebol!!!!

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Bruno:

Na verdade, não é a questão do conforto que me incomoda. Eu topo bastante coisa ruim, nesse sentido. O que pega é quando não consigo ver o filme em sua plenitude. Preferia até que a poltrona estivesse soltando as molas na minha bunda, mas que a imagem e o som estivessem bons.

Anônimo disse...

Realmente acabamos dando um desconto para o Paradiso porque sabemos que tudo lá é mantido quase que por teimosia. Mas tem vezes que não dá mesmo. Ainda assim, sempre que penso nele me vem uma doce sensação, pois foi onde eu e Adriano nos agarramos pela primeira vez!!! Rs! E, creiam, naquele dia não me importei com filme, cheiro, projeção, som, nada!! Tá aí uma soluçção! Beijos!!!