Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

domingo, 31 de dezembro de 2006

O mestre maior

Eu tive um CD player de carro que possuía uma função especial. Ela nos permitia escolher as músicas preferidas. O processo se resumia em ir ouvindo o CD e a cada faixa que se gostava mais, pressionávamos uma determinada tecla. Depois, bastava escolher a função e através de um programa, ele tocava apenas as escolhidas.

Este recurso mostrou-se inútil quando comprei e fui ouvir o CD Só Cartola, com Elton Medeiros e Nelson Sargento. Cada faixa ouvida revela uma jóia, dando vontade de voltá-la. Vontade essa, somente suplantada pela ansiedade de ouvir a próxima, que invariavelmente se mostra tão magnífica quanto a anterior.

Considero Cartola um dos 6 gênios de nossa música popular, figurando ao lado de Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Tom Jobim e João Gilberto. Todos eles exerceram uma influência decisiva para que a chamada MPB tivesse a qualidade que tem hoje.

Neste CD, os intérpretes mostram canções inspiradíssimas do mestre, como já fizeram inúmeros outros artistas. Elton Medeiros e Nelson Sargento, entretanto, são do ramo. Além de terem privado da companhia do grande sambista, foram ambos seus parceiros. Sabem o terreno em que estão pisando. Foi Nelson Sargento, aliás, quem criou uma das mais inspiradas definições de Cartola. Após a morte do grande sambista, ele disse:

"Cartola não existiu, mas foi um sonho que a gente teve".

O que torna este CD especial é a forma com que as canções são interpretadas, ou seja, com a simplicidade que a obra de Cartola exige.

Contribui muito para isso, o acompanhamento do conjunto Galo Preto, que se comporta sem exageros, como deve ser tocado o samba de raiz. Quem dera o samba fosse sempre assim executado. Bandolim, cavaquinho, flauta, violões de 6 e 7 e a percussão que se resume basicamente a um pandeiro. É divina a interpretação instrumental da canção Sol e Chuva.



O disco foi gravado ao vivo, no Teatro Municipal de Niterói, em outubro de 98. Nota-se a platéia delirando. Não aos gritos e assobios, mas gozando de um prazer gostoso que só este tipo de música pode proporcionar.

Não foi um CD que vendeu bastante e muito menos tocou nas rádios. É uma pena. Faria muito bem à nossa alma poder ouvi-lo em toda parte.


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