Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Povo e sociedade

Anna Lee é uma jornalista com uma quedinha por história. Escreveu um livro com Carlos Heitor Cony, O Beijo da Morte, no qual lidam com a teoria de que as mortes de Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda, ocorridas na época da ditadura militar, não tenham sido por acidente ou por doença, mas sim, um plano cooperativo das ditaduras do cone sul para eliminar as lideranças políticas no Brasil. Há quem considere esta teoria estapafúrdia e há quem a considere bastante provável. Não importa. O que importa é que o livro é delicioso.

Pois Anna Lee acaba de lançar outro livro, desta vez sozinha. Chama-se O Sorriso da Sociedade. Nele, ela disseca o Rio de Janeiro do início do século passado, quando o prefeito Pereira Passos transformou a cidade num canteiro de obras. Sua intenção, sob o comando do presidente Rodrigues Alves, era transformar o então Distrito Federal numa cidade moderna, aos moldes das grandes cidades européias, sobretudo Paris. Inserida nessa cidade e com o mesmo ideal de comparação com a referência parisiense encontra-se a Academia Brasileira de Letras, fundada há menos de 10 anos. E como pano de fundo, um crime, envolvendo 2 intelectuais das letras.

O livro mostra, com muita riqueza de detalhes, como viviam e como se relacionavam a elite carioca e a intelectualidade daquele tempo. E deixa que entrevejamos como a população foi alijada da nova cidade e o quanto o era da vida cultural. Pra fazer a mega reforma, o prefeito desalojou milhares de pessoas dos cortiços e casas de cômodos da cidade. Estas pessoas foram “empurradas” para os morros e tiveram que se arranjar como puderam. A população pobre, na maioria analfabeta, não fazia parte da chamada sociedade, na capital federal. A intelectualidade, também elitizada, não escrevia para ela, portanto.

Será que isso mudou muito?

Um comentário:

Vivien Morgato : disse...

Gosto muito desse tema, mas ai, por motivos obvios, preciso puxar a sardinha pros historiadores: quem gosta do tema deve ler Sidney Chalhoub e Nicolau Sevcenko.;0)