Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Coisa perfeita

Não tenho nada contra poesia. Mas eu gosto mesmo é de letra de música. Meus letristas preferidos são Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro. Absolutamente empatados. Por isso, o supra-sumo do prazer, pra mim, é ouvir o samba Saudades da Guanabara, com letra dos dois sobre melodia do Moacyr Luz. A história desta música é ótima. Quem a contou foi o próprio Moacyr, num programa de televisão:

O samba tinha outra letra quando Moacyr mostrou pra Beth Carvalho, na esperança dela gravar. Beth gostou da melodia mas não gostou da letra. Ele, então, chamou Aldir e Paulinho Pinheiro em sua casa e cantou o samba. Falou que precisava de uma letra nova.

Acabou a cerveja. Como Aldir mora no mesmo prédio do Moacyr, foi em sua casa buscar mais. Quando voltou com as geladas na sacola, trouxe junto a primeira parte do samba na cabeça. Paulinho, então, escreveu, na hora, a segunda parte, seguindo a mesma estrutura métrica e repetindo as rimas. Ficou assim:
.
Saudades da Guanabara
.
Eu sei
Que meu peito é uma lona armada
Nostalgia não paga entrada
Circo vive é de ilusão (eu sei...)
Chorei
Com saudades da Guanabara
Refulgindo de estrelas claras
Longe dessa devastação (... e então)
Armei
Pic-nic na Mesa do Imperador
E na Vista Chinesa solucei de dor
Pelos crimes que rolam contra a liberdade
Reguei
O Salgueiro pra muda pegar novo alento
E plantei novos brotos no Engenho de Dentro
Pra alma não se atrofiar (Brasil...)
Brasil, tua cara ainda é o Rio de Janeiro
Três por quatro da foto e o teu corpo inteiro
Precisa se regenerar

Eu sei
Que a cidade hoje está mudada
Santa Cruz, Zona Sul, Baixada
Vala negra no coração (chorei...)
Chorei
Com saudades da Guanabara
Da Lagoa de águas claras
Fui tomado de compaixão (... e então)
Passei
Pelas praias da Ilha do Governador
E subi São Conrado até o Redentor
Lá no morro Encantado eu pedi piedade
Plantei
Ramos de Laranjeiras foi meu juramento
No Flamengo, Catete, na Lapa e no Centro
Pois é pra gente respirar (Brasil...)
Brasil, tira as flechas do peito do meu Padroeiro
Que São Sebastião do Rio de Janeiro
Ainda pode se salvar
.
Pode existir coisa mais perfeita?
Como é que a Beth Carvalho iria recusar?
Não recusou. Gravou.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, tio! Não é a primeira vez que entro nesse blog mas é a primeira vez que escrevo aqui. Primeiro porque concordei com o post, também prefiro letras de músicas a poesias. É incrível como a gente ouve algumas músicas e pensa "É isso mesmo, falou tudo o que eu queria falar!". E também resolvi postar porque lembrei que conheci o Rio com vocês. Quando estivemos lá o tempo não estava tão bom quanto na foto e lá de cima só víamos a neblina... Mas valeu a pena, foi uma viagem ótima. Até hoje tenho fotos dela penduradas no meu quarto.
Aliás não foi só o Rio que conheci através de vocês... Conheci boas músicas, conheci os olhos perfeitos do Chico... E também o prazer da leitura... Aliás, fiquei super curiosa pra ler esse livro aí do post de baixo. Mais um pra minha infinita lista de livros pra ler...
Bom, já falei de mais... esse comentário está maior que o post...
Anyway, bem vindo ao mundo dos blogueiros!

Tatiana disse...

Como é bom ler uma coisa dessas!
Não conheço este samba, mas vou procurar.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Eu me lembro. O tempo estava péssimo. O pior é que eu já viajei dezenas de vezes para o Rio e nunca peguei um tempo tão ruim como aquele. Demos azar.
Você precisa vir aqui em casa pra escolher uns livros pra ler.