Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

O Torcedor Irreal... 1

Eu nasci são-paulino. No primeiro dia. Com uma hora de idade, já era são-paulino. E não tinha nenhum motivo futebolístico pra isso. Meu avô era são-paulino, meu pai é são-paulino. Logo, eu sou são-paulino. Simples assim. Naquele tempo, não tinha esse negócio do moleque escolher o time. Pelo menos, não na minha família. Ser são-paulino era tradição. Como meu pai e meu avô. Como meu tio André. E também não tinha esse negócio de ganhar camisa e boné de time. Ninguém usava boné. Só velho careca. Meu outro avô usava chapéu. Ele não era são-paulino. Acho que ele não era nada.

Moleque, eu não ligava pra futebol. Pelo menos, não ligava pra torcer. Só pensava em jogar bola. Só parava de jogar bola pra assistir ao National Kid na televisão. E voltava a jogar bola. E parava pra ir pra escola, mas o mais legal da escola era jogar bola na hora do recreio. A lancheira voltava intacta pra casa. Será que eu aprenderia mais coisas se tivesse ficado mais tempo na escola? Acho que não. Afinal, eu ficava um tempo enorme jogando bola e não aprendi a jogar direito. Sempre fui grosso.

Torcer, eu só aprendi na copa de 70. E aí, acabada a copa, comecei a torcer pelo São Paulo. Afinal, eu era são-paulino. E comecei a ir ao estádio com meu pai. E comecei a ir muito ao estádio, sempre com meu pai. Só ao Morumbi. Ao Pacaembu eu fui uma única vez. O São Paulo ganhou de um a zero do Corinthians com um gol no primeiro minuto, enquanto a gente estava comprando ingresso. Só ouvi a festa da torcida. Entrei animado. Foi só um a zero. Nunca mais voltei ao Pacaembu.

Eu não torcia pro clube. O clube, eu nem conhecia. Sabia que tinha piscina, mas eu não podia entrar. Não era sócio. Torcia mesmo era pro time. Naquele tempo, os jogadores ficavam 5 ou 10 anos no mesmo clube. Aquilo era time. As mesmas pessoas, todos os anos. E era muito mais fácil formar um time de botão. Aliás, foi nessa época que me viciei em jogo de botão.

Eu gostava do Forlan, um lateral direito raçudo e violento. Meio grosso, como eu. Gostava do Roberto Dias. Era o meu preferido, não sei bem por que. Gostava do Terto e do Paraná, dois pontas meio cabeças-de-bagre. E gostava do Toninho Guerreiro, um centro-avante como já não se vê por aí. Mas me encantava mesmo com Gérson e Pedro Rocha. Ah! Pedro Rocha era uma coisa à parte. Uma coisa inexplicável. Eu queria ser como o Pedro Rocha, mas não conseguia ser nem mesmo como o Forlan.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fala tio,
quanta gente velha você citou, de todos o único que eu conheço é o National Kid. hehe
O meu caso é diferente, meu pai é santinta, minha mãe corinthiana, meu avô e meu tio são são-paulinos, agora não me pergunte o motivo de eu ter virado palmerense porque eu não faço nem idéia. Mas eu lembro que a primeira vez que eu fui em um estádio foi com você, vimos Palmeiras 5x1 Grêmio e acho que também perdemos um dos gols.
Abraço

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Fala Cau,

Eu me lembro sim. E me lembro que naquele dia choveu pra caramba e tivemos que comprar uma capa de chuva. E acho que o gol que perdemos foi o último, pois teu avô agoniado quis ir embora um pouquinho antes, pra evitar a correria, a bagunça, o trânsito, blá, blá, blá