Na copa de 1970, eu estava prestes a completar dez anos. Pela primeira vez eu via meu pai e meus primos torcendo por um mesmo time. Achei legal. Todo mundo torcendo junto. Meu pai não tinha carro, mas tinha um caminhão com o qual íamos pra cima e pra baixo. No dia da final com a Itália, assistimos ao jogo na casa da minha avó. Na volta pra casa, o caminhão todo enfeitado de verde-amarelo, em cada semáforo que parávamos, uma porção de torcedores subia na carroceria pra comemorar, pulando e cantando. Nunca tinha visto aquilo. E foi a primeira vez também, que eu percebi que tinha tanto carro do exército nas ruas. Naquela viagem de volta (naquele tempo, ir do bairro de Santo Amaro para São Bernardo do Campo era uma verdadeira viagem), fomos parados, pelo menos, umas quatro vezes pelo exército. Eram coisas que eu não entendia, assim como não entendia o motivo do meu tio André chegar, às vezes, em casa de madrugada, pedindo abrigo. Eu acordava de manhã e ele já tinha ido embora.
Foi impossível não lembrar destas coisas quando assisti ao filme do Cao Hamburguer, O ano em que meus pais saíram de férias. Se cinema fosse só estética e entretenimento, eu teria uma série de críticas a fazer. Mas cinema não é só isso. O cinema é também, ou principalmente, uma ferramenta para emocionar e provocar reflexão. Este filme foi dirigido por uma criança e dirigido para as crianças. Crianças que estão hoje na faixa dos 45 anos. No filme, nós conseguimos identificar o álbum de figurinhas, a bola de capotão, o leite vendido em garrafa de vidro.
Enfim, é um filme que emociona as crianças que naquela época já percebiam, mesmo de relance, que estava acontecendo alguma coisa muito ruim no nosso país. E é também um filme pra fazer refletir as crianças que naquele tempo, achavam que tudo no Brasil era uma maravilha. Não era.
Foi impossível não lembrar destas coisas quando assisti ao filme do Cao Hamburguer, O ano em que meus pais saíram de férias. Se cinema fosse só estética e entretenimento, eu teria uma série de críticas a fazer. Mas cinema não é só isso. O cinema é também, ou principalmente, uma ferramenta para emocionar e provocar reflexão. Este filme foi dirigido por uma criança e dirigido para as crianças. Crianças que estão hoje na faixa dos 45 anos. No filme, nós conseguimos identificar o álbum de figurinhas, a bola de capotão, o leite vendido em garrafa de vidro.
Enfim, é um filme que emociona as crianças que naquela época já percebiam, mesmo de relance, que estava acontecendo alguma coisa muito ruim no nosso país. E é também um filme pra fazer refletir as crianças que naquele tempo, achavam que tudo no Brasil era uma maravilha. Não era.
Muita gente vibrou com a conquista da copa de 70. Muita gente se emocionou com a seleção de Pelé, Tostão e Gerson. Muita gente parou pra assistir aos jogos. Mas teve muita gente que não pôde assisti-los. Justamente porque saiu de férias.
3 comentários:
Lindo texto Arnaldo! Perfeito!
Um comentário solto: pelo visto vc não gostou da fotografia do filme ("se cinema fosse só estética eu teria criticas a fazer"). Poxa, eu achei uma das grandes forças da obra! É isso mesmo?
abraços
Bruno,
Na verdade, nem foi a questão da fotografia. O que me incomodou no filme foi a atuação da maioria dos atores e uns detalhezinhos sobre os costumes da época. Sou fanático pelo trabalho de atores. Gosto mesmo é daqueles filmes que se suportam nesse trabalho, aqueles que não dependem de efeitos especiais, cenas de explosões ou porrada. E eu achei bem fraca a atuação, principalmente das crianças. Eu sei que é difícil trabalhar com crianças, mas achei aquelas duas (tanto o menino quanto a menina) muito inexpressivas. Se quiser ver uma criança atuando bem, te recomendo assistir Pequena Miss Sunshine. É um filme excelente.
Os detalhezinhos sobre os costumes? É besteira minha. Frescurite pura. É que em 70 ninguém falava Putz! Essa expressão começou a ser usada (ao menos em São Paulo) em 74 ou 75. Outra coisa, aquele jeito das crianças comemorarem os gols, com os braços levantados, batendo as palmas das mãos umas nas outras. Isso não se fazia, na época. Isso começou a se fazer na década de 80 pelo pessoal do vôlei.
Mas nada disso interessa. Como eu escrevi, o que esse filme provoca de emoção e reflexão compensa tudo isso.
Abração
Agora entendi e concordo em termos. Eu também me incomodei com o "putz", oitentista total. Pior foi o Caio Blat soltando um "véio" enquanto jogava botão. "Véio" é uma gíria dos anos 90, atualíssima. Isso me pegou na hora e eu fiquei incomodado também. Mas quanto às atuações das crianças: não achei ruins. Gostei do menino e da menina, ela sobretudo achei bem expressiva e convincente. É claro que não foram brilhantes, mas há que se ressaltar que nunca tiveram experiência como atores. Foram selecionados num teste e pronto. Mas, no geral, concordo contigo sim!
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